08 janeiro 2008

O conformismo assustador


Começo o ano de 2008 com um post um tanto quanto azedo. Discutíamos no blog do Barneschi em torno de um texto - muito bom, por sinal - que tratava da profissionalização extremada do futebol inglês, processo o qual levou a uma extrema marginalização tanto de clubes que estão fora da panelinha quanto de torcedores, os verdadeiros torcedores. Para se ter uma idéia do absurdo, o torcedor comum só consegue ingresso (e a 32 libras, ou R$128) se os detentores da carteira permanente e sócios-torcedores, que pagam quantias astronômicas, deixarem alguma sobra.

Pois bem. Lá pelas tantas, vem um caboclo dizendo que tudo isso é necessário para a existência do clube, enchendo a boca para valorizar a lei de mercado, e que devíamos mesmo é seguir o exemplo. Tal processo já engatinha aqui no Brasil, haja vista as reformas em estádios para abrigar a Copa 2014 (data do fim do futebol brasileiro em definitivo) e as campanhas de marketing a rodo pelos clubes.

Aí pode vir o questionamento: japonês, você não tem uma camisa do Corinthians? Tenho, sim. Mas isso não tem nada a ver com mercantilização. Aliás, defendo que um clube deve ter 3 fontes de renda - os ingressos dos jogos, o patrocínio na camisa e a venda dessa camisa. E só. O resto, como cotas de TV e possíveis parceiros (argh!), tem que ser lucro e não influenciar uma vírgula na conduta da administração. É a receita para sustentar as contas, até porque clubes são entidades sem fins lucrativos.

Radical ou não, isso impõe uma certa liberdade aos clubes, ao mesmo tempo em que se valoriza algo praticamente extinto hoje em dia nos modelos de gestão: alma e paixão pela agremiação. Porém, a intensa martelação do conceito de clube-empresa e a idéia de "exemplo administrativo" como forma de glorificação já colhe seus frutos e nos presenteia com pensamentos conformistas semelhantes ao citado acima.

O conformismo, ainda, não está só no futebol. Discursos como "política eu não discuto" comprovam isso. A grande mídia conservadora, iconizada por Globo Comunicações, Grupo Folha e Editora Abril, dá risos largos ao ver suas premissas espalhadas pelos principais centros econômicos do país, cujos resultados são revelados em 16 anos de tucanato em SP, por exemplo. Já assistiram à propaganda do Kassab na TV? Parece que moramos num paraíso...

Finalizo cagando uma regra. Gente que acredita que não pode mudar as coisas, por menor que seja a ação, abre mão de qualquer direito de reclamar. Aguardemos 2008 e as eleições municipais. Aguardemos 2010 e as eleições presidenciais. Aguardemos, enfim, a Copa 2014.


5 comentários:

  1. Anônimo2:13 PM

    A minha vingança vai ser vender almofada, Japonês.

    Mais foda que conformismo é o cara se conformar no conformismo e achar que tudo está nos conformes. Daí, nisso, o cara diz que o dinheirinho de pinga da tevê é "primordial".

    E primordial de cu é rola, sem respeito nenhum por porra nenhuma.

    E como rola (nem porra) é o que não faltará no rabinho desses caras, ALMOFADA será item "primordial" se o animal quiser assistir algum joguinho de merda depois de 2014.

    E sem reclamar que o rabo está doendo.

    Enfim, tudo isso dá gastura, Japonês.
    Eu quero minha arquibancada, como quando eu era pivete e ia no ombro do meu Pai Gordão.
    E ficava na bateria dos Gaviões ou da Camisa 12, com o senhor Dentinho, o senhor Claudio e o senhor Terpins. E entrava em campo com o Doutor Sócrates. E tinha uma camisa do Doutor Sócrates (não obstante, fora presente da minha resignada Vó Palestrina, que anunciava assim o fim das tentativas de me converter ao agrupamento de Ragognetti. Saudades daquele enorme Coração...).

    Porra, é pedir demais que se mantenha a Cultura da Arquibancada nesse país em condição de falência civilizatória?

    Ou babaca vai continuar falando que somos "sonhadores"?
    É de foder, viu.
    (Scusati per le parole di rabbia, caro Nipo-Calabrês da Paraíba do Bonfa Glorioso. Ma è necessario, voi sapiti.)

    ARQUIBANCADA, PORRA!!!

    FORA CORJA IMUNDA

    PELO CORINTHIANS
    COM MUITO AMOR
    ATÉ O FIM

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  2. Outra faceta do mal que essa porra toda faz. Ser "sonhador" agora é negativo...

    O esquema é tão burro que eles não se contentam em tirar só grande parte da alegria do povo. Querem tirar tudo. Tomara que quando isso acontecer, alguém se rebele.

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  3. Bom, japonês, nem sei se tenho muito mais a acrescentar. Já escrevi tanto sobre o assunto que tenho medo de me tornar um daqueles chatos que vivem a repetir a mesma ladainha. Mas é foda se calar diante de todo este cenário e, mais do que isso, do futuro que se aproxima. Então, se for pra ser um chato inconformado, que assim seja. Sem conformismos.
    Abraços

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  4. Anônimo2:59 PM

    O Palestrino se rebela conosco!

    Falar nisso e aquele puppy tão falado, nunca concretizado?

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  5. O Puppy não virou o podcast?

    Se não, que tal um Puppy terça que vem?

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