15 abril 2009

Se tudo der errado, viro hippie...


Há algum tempo (mais precisamente na época da faculdade, quando eu ainda tinha a ilusão de que uma redação era um troço deslumbrante), eram chamados de loucos aqueles que pregavam a extinção do jornalista. Afinal de contas, diziam nossos desesperados professores, ninguém vai deixar de ler o Zé Simão ou ver o Willian Bonner. Eu mesmo defendia com unhas e dentes essa idéia, talvez até para justificar o belo investimento mensal que deixava nos cofres da Cásper Líbero.

Se estamos fadados ao desaparecimento eu não sei, porém o ocaso do velho formato de se fazer notícia é iminente. Ouso dizer até que o fim dos jornais é fato quase consumado. Não os livros, não as revistas, nem o rádio ou a TV. Todos esses meios têm a possibilidade de conviver pacificamente com a internet, essa arma revolucionária da comunicação. Mas os jornais correm risco sim, por serem os maiores representantes daquilo que não deveria estar sendo feito. Cavaram tanto a própria sepultura que agora colhem a maior crise de credibilidade da história. Ontem mesmo, o Cruz de Savóia cravou um texto que mostra o quanto vale aquilo que publica a mídia esportiva – ou seja, nada - e esse conceito é colocado em prática pela maioria dos veículos, demonstrando o quanto eles estão defasadas, moral e conceitualmente.

Aí a gente cai numa discussão decorrente, que é a obrigatoriedade ou não do diploma de jornalista. Sempre defendi e continuo defendendo a formação superior, mais como uma forma de unidade e fortalecimento de classe do que por delimitação de competências. Afinal de contas, o grande lobby pelo fim do diploma no jornalismo é bancado por grandes corporações da mídia para justificar os baixos salários do chão de fábrica e as fortunas estratosféricas oferecidas à meia-dúzia de “colunistas” que pouca coisa acrescentam, mas se prestam ao papel de usar sua imagem consagrada (?!) para repassar valores comerciais e políticos pouco nobres ao leitor.

É aí que a porca torce o rabo. Se de um lado justificam o fim da obrigatoriedade como uma forma de democratizar a veiculação de informação, por outro abriríamos espaço para sujeira e mediocridade, além de promover aproveitadores que se vestem de slogans como “jornalismo com credibilidade”, mas não têm a mínima condição de exercer qualquer atividade intelectual. Talvez a solução estaria não no fim do diploma, mas em uma reforma universitária que instituísse um ciclo básico superior, seguido da especialização que o profissional desejasse ter. Ampliaríamos a base e garantiríamos maior acesso à universidade e à profissão. Mais grave ainda, tal debate está em última instância no Judiciário e não levou em consideração o que eu acho ser ação emergencial para o jornalismo: a criação de um Conselho Regulador, nos moldes da OAB dos advogados e os CRMs dos médicos.

Quanto maior a qualificação, menos reprodutores de falácias e mais senso crítico iremos ter dentro das redações (ou seria em casa, nos nossos frilas-fixos?). Não podemos esquecer, ainda, que sempre irão pipocar novos canais de informação. E não falo só de blogues. A comunicação corporativa é um mercado crescente, os celulares terão a mesma funcionalidade que os computadores e o marketing ainda precisa de profissionais que saibam escrever. Já as assessorias eu odeio e cada vez mais me convenço de que são casos perdidos.

Para não sermos os alfaiates do século XXI – certa vez, vi uma reportagem dizendo que há uns 20 alfaiates no Brasil inteiro -, basta não acreditar em paradigmas restritivos e nortear as ações lembrando sempre da função social do jornalismo. Ou não, e aí é hora de rasgar o meu canudo de papel...


10 comentários:

  1. Japonês, devemos usar a Odara, aqui, já que mencionaste os Rípes:
    "While my eyes go looking for flying saucers in the sky..."Pior que, haja o que hajar, sem vergonha na cara porra nenhuma adianta...

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  2. E agora nem prisão especial rola mais hahahahahhaa...

    Mas vergonha na cara e essa corja são como água e óleo.

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  3. Claudio

    O problema todo está na falta de conscientização da importancia que é o jornalista para a transformação social.
    Acho que falta uma dose necessaria de idealismo para quem se forma.
    Falta uma visão mais ampla do bem maior que se deixa de construir qdo se deixa levar por interesses alheios ao juramento dado.
    Mas meu Querido ... a luta é essa e se confunde com as lutas que travamos em todos os aspectos da sociedade contra essa hipocresia que reina na humanidade.
    O compromisso é individual ... afinal escolhemos ser boi e não boiada nesta vida né?

    Parabéns pelo texto.

    e

    VAI CORINTHIANS!

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  4. E aí os figurões vão na contramão e fazem tudo para se enterrar tal qual um avestruz...

    http://info.abril.uol.com.br/noticias/negocios/journalism-online-ressuscitara-conteudo-pago-15042009-10.shl

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  5. Não seria tão radical em pregar a fogueira para os canudos, mas concordo em gênero, número e grau com todas as outras reflexões. Quanto aos cursos de jornalismo - onde começa a deformação do jornalista - os professores e as instituições endossam a ideia de que jornalista bem sucedido é o que consegue emprego na Folha, no Estado, na Veja ou na Globo. O resto é isso, resto. Ensinam que o jornalismo está acima do bem e do mal e que o jornalista é o guardião da verdade - onde já se viu. Por isso, infelizmente, as gerações mais novas dos nossos coleguinhas são as mais conservadoras e propensas a serem ganhas por esse pensamento tacanho. Ah! não poderia deixar de dizer que - ainda faltam 90 minutos - hehehe! beijos

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  6. Anônimo5:15 PM

    Nunca consulte um jornalistas!

    O pior é que no jornalismo esportivo não existe nem jornalistas mais críticos, como o Luis Nassif, por exemplo. Quando eles brigam entre si ou é por patrocínio ou é por picuinha.

    Ninguém mete bronca nessa várzea! No meu blogue eu peguei dois textos escritos pelo Quartarollo (joven pam) em um espaço de 2 semanas. O cara consegue ser contra ele mesmo!

    http://bloguedotimao.wordpress.com/

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  7. Fala, Craudio. Te achei na blogosfera. Adorei seu blog e mais ainda o cagando e andando pra reforma ortográfica.

    Parabéns!!!

    E faço coro com a Re, ainda faltam 90 minutos.rsrs...

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Cara, essa discussão me fascina e me assusta ao mesmo tempo. Eu sempre fui contra a obrigatoriedade do diploma e a favor do mérito, por achar que na universidade a coisa que mais aprendi foi a viver, e não a escrever ou "jornalistar".
    Por outro lado, confesso que ainda não havia pensado no diploma com esse sentido de peneirar um pouco o excesso de picaretas - mas, embora ainda precise refletir melhor sobre isso, acho que é um caminho sem volta: a inclusao digital tá aí, o bicho vai pegar e não vai ser um pedaço de papel (no meu caso uma folha de sulfite A4 mesmo, e em gramatura 75, viva a "simplicidade" da universidade pública do tucanato paulista) que poderá fazer esse filtro: a credibilidade vai se construir - ou destruir - com o tempo e os fatos.
    Mas isso é assunto bom mesmo pra uma mesa de boteco, isso sim...

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  10. Rê, é bem por aí. E geralmente o tal do "resto" é onde o profissional se sente melhor e é mais valorizado.

    Fala Val! Domingão é preto e branco, não vai ter jeito!

    Cesarotti, por outro lado, eu passei a não ser mais tão ferrenho quanto ao diploma, muito por conta dessa crise institucional da nossa profissão. Particularmente, eu só tive que apresentar meu comprovante de conclusão de curso agora, depois de 6 anos de formado. De fato, é papo para discussões calorosas no buteco, marquemos (menos naqueles bares do Campolim, que lá é tudo caro hahahaha)!

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