08 maio 2009
Malandros maneiros
Na semana que passou, dois textos geniais pintaram aqui no monitor e me fizeram lembrar dos meus 17 anos, quando, precocemente, precisei escolher minha profissão ao preencher a ficha do vestibular. Aliás, uma observação: é maldade fazer um moleque com essa idade escolher o que ele vai fazer da vida, mas isso é outro papo. Voltemos ao tema.
Lá na época do colegial, já havia me decidido pelo jornalismo. Muito porque passei a gostar de escrever sobre o que via ao redor, além do fato de ter tido em casa um jornalista. Mas esses não foram os fatores decisivos. Para mim, aquela imagem do sujeito maltrapilho, bom de copo, contador de história e cercado de amigos de semelhante estirpe era bastante sedutora. A vida atrás do gravador e (hoje) do teclado, o ouvido pronto a escutar histórias, a entrevista cara-a-cara e a passadela no buteco no fim do expediente... Isso sim me motivou!
Nessa toada, escreveu o jornalista Paulo Thiago, em seu blogue Pendura Essa, algumas ótimas palavras sobre as duas gerações que atualmente contrastam nas redações. Os mais velhos, meus espelhos, são descritos assim pelo Paulo: "Aqueles jornalistas da velha guarda, que valorizam a apuração na rua, que acham que podem mudar o mundo e que o jornalismo tem esse dever, e que são, sobretudo, boêmios, pois no bar está parte de seu trabalho, apurando, pensando em pautas e estabelecendo contatos". No corner oposto, os meus contemporâneos aparecem cristalinamente assim: "De outro lado, as novas gerações, com texto impecável, uma visão profissional incrível (quase todos querem virar o diretor de redação) e que acham que a função do jornalismo é simplesmente informar com precisão e rapidez e não transformar a sociedade."
Já o Zé Sérgio Rocha, a quem tive o prazer de conhecer pessoalmente, mas rapidamente, no carnaval carioca de 2008, nos presenteou com o perfil de Emmanuel de Bragança Macedo Soares. Emmanuel, segundo Zé Sérgio, é outro daqueles que praticam o desapego aos valores ditos "civilizados e modernos", mas nunca deixaram de fazer jornalismo maiúsculo. Com a palavra, Zé Sérgio, mais um que figura entre os grandes: "Ovelha negra assumida de um clã poderoso que mandou na política da Velha Província fluminense, ocupou ministérios de governos democráticos e ditatoriais e, de quebra, ainda teve nas mãos um jornal que fez história no Rio de Janeiro – o Diário Carioca –, Emmanuel teve sua primeira carteira assinada pela Última Hora do Samuel Wainer no ano de 1963. Tinha, então, 17 anos. O golpe militar que pipocou no ano seguinte, diz ele, 'foi uma merda para mim em todos os sentidos'. Não arranjava emprego em lugar nenhum fora do Diário Carioca, onde evitou até onde pôde trabalhar. Uns e outros achavam que ele não precisava, que era rico, ou então desconfiavam que fosse comunista, o que também não era verdade. 'Eu era esquerdista, mas não o suficiente para levar porrada do DOPS', confessa, sem tortura."
Ambos os textos citados aqui devem ser lidos, relidos e divulgados à exaustão. Demonstram um caminho que deveria ser retormado, em contraposição ao profissionalismo todo que vemos por aí. A salvação, para mim, é colocar Zé Sérgio, Emmanuel, Paulo Thiago e uma porrada de monstros sagrados da velha guarda dentro das faculdades, para ensinar que o jornalismo, assim como tudo na vida, deve ter alma (e talvez por isso os grandes veículos estejam agonizando). A todos esses mestres, deixo o tributo, adaptando aquele samba do Roberto Ribeiro:
"Hoje vamos prestar nossa homenagem
A que toda malandragem
Homenageia e respeita também
Aqueles que portando uma caneta
Um bloco e uma folha preta
Escreveram a sorte ou o azar de alguém
São eles velhos malandros maneiros
Que têm São Jorge guerreiro como fiel protetor
Mas ganhou leva,ganhou leva
Só vale o que está escrito
Lá não se leva no grito
Quem quis levar não prestou"
Ainda no quesito monstros sagrados das redações, eis aí o link para o último texto do Pedro Alexandre Sanchez:
ResponderExcluirhttp://pedroalexandresanches.blogspot.com/2009/05/o-rio-margem-e-o-quilombo.html