10 junho 2009

Hora da Patrulha


Em 1968, o Brasil estava em polvorosa. Era iminente o fechamento político total pelos militares que, quatro anos antes, tinham dado um golpe em nome da família, de Deus e da liberdade. Por conta disso, as ruas das grandes cidades se tornaram campos de guerra e a polícia descia o porrete indiscriminadamente nos estudantes, responsáveis pelas principais manifestações contra o autoritarismo. Na resposta dos milicos, a conta apresentou algumas mortes, inclusive a de Edson Luís, assassinado com um balaço no peito e que, ironicamente, não fazia parte da mobilização. Ao fim daquele ano, o governo soltou o seu Ato Institucional nº 5 e acabou de vez com todos os direitos civis.

Quarenta e cinco anos depois, imaginar cenas como essa seria caso de internação e acompanhamento psiquiátrico, afinal de contas estamos sob os braços da tão aclamada democracia. Mas quando a Tropa de Choque da PM – aquela mesma que desovou mais de uma centena de presos do Carandiru – invade a USP para bater em estudantes, professores e trabalhadores, há sinais claros de que algo muito pior do que o cenário de 68 está em curso.

O autoritarismo de José Serra chegou ao limite. Afora camuflar os problemas e cagadas de sua administração, é ele o principal responsável pela política de cerceamento do direito coletivo em terras paulistas. Na Prefeitura, mesmo não cumprindo seu mandato e nos deixando o solteiro e sem filhos de brinde, promoveu uma caça aos ambulantes no entorno dos estádios, instituiu o toque de recolher aos butiquins e destruiu a vida cultural da cidade (Virada Cultural não é política pública), entre outras coisas. Já no Estado, tentou golpe para reduzir orçamentos e acabar com a administração participativa nas universidades, constrangeu e ainda constrange todos os profissionais da educação e chegou ao cúmulo de restringir o direito de ir e vir ao instalar praças de pedágio no Rodoanel. Assim, as bombas e balas de borracha disparadas na USP nessa última terça nada mais são do que outro AI-5.

Não precisa rodar muito pelos blogues para saber as possíveis causas de outra inabilidade de uma polícia que deveria proteger o cidadão – e, pelo contrário, transformou-se numa milícia armada do Palácio dos Bandeirantes e de alguns promotores de merda. Basta ir a sites que fazem jornalismo decente e deram voz a algum massacrado pelo tal choque de gestão de Serra, como fez
PHA ao entrevistar um diretor do sindicato dos funcionários da Universidade de São Paulo. O que eu não recomendo é a leitura de jornalões decadentes que, sem nenhuma vergonha, estampam em suas manchetes que “os estudantes enfrentaram a PM”. Enfrentaram com o quê? Canetas e cadernos?

Aqui, abro parêntese e o fecho no fim do parágrafo para dizer que não se espera outro posicionamento da mídia, atualmente desesperada com a concorrência blogueira e que, semana passada, tomou o troco por ter bancado aquela CPI anti-Brasil da Petrobrás. Para quem não viu, a
MAIOR EMPRESA DO MUNDO criou uma página para responder, às claras, todas as perguntas dos abutres. Bravinhos por terem sido desnudados, os carniceiros passaram a requisitar direitos autorais de perguntas (veja aqui um exemplo da cara-de-pau).

Nessa salada toda, a preocupação maior não são as ações trogloditas do governo estadual nem a parca cobertura midiática. Já dissemos por aqui que Serra irá fazer de tudo para ser eleito presidente, e isso inclui tirar de seu caminho qualquer obstáculo, nem que seja debaixo de cacete. O espanto é fruto da facilidade com que as desculpinhas inventadas pelo tucano colam e de como alguns discursos aparentemente progressistas exaltam a imagem do führer. Na década de oitenta, Roger Moreira e seu
Ultraje a Rigor divertiam a molecada com músicas cheias de sacanagem e sacadas inteligentes, como “Inútil”, um hino juvenil na reabertura democrática. Não é que agora o músico usa a psicologia inversa e se presta a fazer escadinha para seu candidato em 2010? Dizem que o moço tem QI alto, mas pelo visto esse QI não são as iniciais de quoeficiente de inteligência...

Sorria, São Paulo!

7 comentários:

  1. É de se notar que o blogue desse bambi, que eu respeito pela obra musical até uma certa época, está hospedado onde a abutere-mater está hospedada. Este fato é contundente.

    No mais, destaco um trecho de um outro post dele:

    "O governador e candidato a presidente José Serra nos deu uma oportunidade inédita e acredito que devamos aproveitá-la: ele agora tem um perfil no Twitter (@joseserra_) e lê pessoalmente tudo que lhe escrevem. É a primeira (e talvez única) vez que um candidato a presidente torna-se acessível de maneira direta aos seus eleitores"

    Candidato? TSE, CADÊ VOCÊ???

    A abutraiada, mentirosa, não pode questionar seu candidato.
    Mas na USP não pode entrar tropa de choque. Dona Suely e o vampiro têm que responder por isso. Mas a abutraiada não irá mover um dedo nesta direção...
    É bastante seletiva, nesse aspecto, essa abutraiada mentirosa.

    Lembrando que hoje é o sétimo dia da morte de Clayton, mais um Mártir.
    Cuja morte foi objeto de desvirtuação desta mesma abutraiada. Que serve ao clubinho do rapaz do QI.

    Tudo está interligado.

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  2. E isso aqui é impagável!!!

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  6. É lamentável notar a fragilidade da nossa democracia através de atitudes como essa.

    É lamentável a maneira como José Serra trata os trabalhadores que fazem greve. Diálogo jamais, desce logo a lenha em cima.

    É isso ai, Claudio, é fundamental patrulhar mesmo.

    O povo brasileiro é muito inteligente e não vai permitir de maneira alguma que esse autoritarismo passe perto da presidência da República. Mas é preciso o acesso a informação séria e não esses jornalecos!!!

    beijo

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  7. Craudião... Tá feia a coisa. O pior é saber que sempre dá pra piorar ainda mais. Mas o mais triste é ver a maior parte da grande imprensa jogando a ética no lixo em nome de partidarismos, ideologias políticas e sabe-se lá mai$ o que, meu amigo...

    Amigo, só o Corinthians e a Núbia me seguram aqui no Brasil, viu... Perdi o tesão, e a gente ainda passa recibo de maluco, tresloucado. Sorria, SP, para não chorar.

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