07 agosto 2009
Sexta no butiquim
Houve um tempo em que as sextas-feiras eram para se aproveitar a tarde de sol sentado à mesa de um bar. O calor convidativo e a cerveja gelada recompensavam a semana de trabalho e de faculdade. Época de poucas preocupações, sobretudo financeiras, e de muita bunda na cadeira do Puppy da Av. Paulista - a praia paulistana, vejam só - ou num muquifo na ainda habitável Vila Madalena.
Desgraçado dogma protestante que emplacou o trabalho como a obsessão-mor do mundo ocidental capitalista. Por conta dele, as pessoas torcem o nariz quando escutam que trabalho é precisão, e não prazer. Numa sexta como essa, por incrível que pareça, alguém pode ser enforcado na Praça da Sé caso sugira uma escapada da firma.
Nessa de me vislumbrar recostado num balcão qualquer, lembrei que não se via tanto patrulhamento. Tinha-se respeito por quem optasse pela vida boêmia e pregasse o desapego ao horário comercial e ao acúmulo de riqueza. O papo furado, o bater-pernas sem rumo e o suco de cevada eram artigos valorizados.
Os amigos imaginam que, se agora está oficializada a carreira do dedo-de-seta por conta da criminalização dos fumantes, já foi possível baforar livremente em ambientes fechados? Sentava-se num caga-sangue de vossa preferência para apreciar os out-doors que embelezavam a cidade, e qualquer caboclo pitava seu palheiro sem ser incomodado e sem incomodar ninguém, salvaguardado pelo direito de se intoxicar.
Tais referências parecem ser de mil novecentos e guaraná com rolha, mas a vida era boa não faz muito tempo, Dondon não jogava mais no Andaraí e a goiabada cascão já não vinha na caixa. E ai de quem resolvesse mexer no vespeiro. Revoltas populares brotavam ao ferver do sangue e ninguém levava qualquer desaforo para casa. Corinthiano não vestia camisa roxa e a Ambev monopolizava merecidamente o mercado. Mas dessa mesa do escritório, hoje minha boca é só saliva, pensando na ampola suada daquelas sextas de butiquim.
E tem nego que ainda reclama dos 69,1% de market share. As outras três concorrentes não sabem fazer cerveja e aí tentam resolver tudo no tapetão. Picaretagem sem tamanho...
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