04 dezembro 2009

Febre Alvinegra


Corinthians 2 x 2 Vitória - 05/12/1993
Morumbi - São Paulo

O Corinthians havia feito uma campanha regularíssima no Campeonato Brasileiro daquele 1993. Sob o comando de Mário Sérgio e com o carrossel caipira funcionando bem, o time chegou ao quadrangular final do torneio sem perder nenhuma partida. Só fomos sofrer o primeiro revés na fase decisiva, contra o mesmo Vitória que iríamos enfrentar em casa. Esse jogo de volta seria a oportunidade de ir à forra.

O registro de 65 mil pagantes no borderô da partida é mentiroso. Fiquei onde hoje é a arquibancada azul do anti-estádio e por lá - e provavelmente por todo o anel superior do Morumbi - não havia espaço nem para uma folha de papel. Sem medo de errar, digo que havia mais de 90 mil presentes, todos reunidos na crença de ver um time até então desacreditado pela mídia (grande novidade) sagrar-se campeão nacional pela segunda vez. Outro fato relevante a se destacar sobre o público: o mesmo local havia recebido, um dia antes, 60 mil pessoas para o Choque Rei...

O time do povo entrou em campo recepcionado por uma Fiel incendiária. Não havia um metro de arquibancada sem uma linda bandeira alvinegra tremulando, e os corinthianos cantavam em uníssono o "Timããããão Eô" - até isso a modernização do futebol estragou, já que antes TODO MUNDO prestava atenção ao bumbo e não atravessava os cantos. Porém, o que era para ser uma festa se tornou um martírio.

Logo aos 10 minutos de jogo, uma enxurrada de água gélida tentou calar os gritos da arquibancada com os 0 x 2 no placar. Mas estava claro que o Corinthians precisava da gente e, segundos depois do baque, a torcida se refez e continuou empurrando o Coringão. Aquele instante foi o meu primeiro registro realmente impactante da tal Mística Corinthiana e da assertiva "no Corinthians, a Torcida é que tem um time". Ali, entendi o que tinha sido o IV Centenário, a Invasão Corinthiana, a final de 77 e o primeiro Brasileiro, tudo isso fruto dos atos heróicos dos primeiros corinthianos lá do começo do século XX.

Tamanha força vinda das arquibancadas ressucitou os jogadores e, no começo da segunda etapa, o zagueiro Henrique empatava a partida. O Morumbi veio abaixo e a virada era questão de tempo. No entanto, num desses absurdos característicos do histórico alvinegro, a lógica não aconteceu e a partida terminou em 2 x 2. Mesmo com o resultado adverso, fomos todos para casa com a sensação de dever cumprido, reconhecendo também o espírito de luta dos guerreiros em campo - nessa época, os jogadores não eram "profissionais" como hoje e transformavam o canto do torcedor em raça e dedicação.

O campeonato ainda não havia acabado, mas as chances de chegar às finais eram muito pequenas. Precisaríamos ganhar o último jogo e ainda depender da derrota do Vitória (perdoem o trocadilho inevitável), o que não ocorreu. Mais curioso de tudo é olhar para a classificação final e notar nossos cinco pontos a menos que o campeão daquele ano, tendo esta equipe feito dois jogos a mais, justamente as finais. Isso motivou o lamento de alguns desavisados pelo Brasileiro não ser disputado no "moderno sistema de pontos corridos". Eu, do contrário, dei graças a São Jorge por ele ter me presenteado com aquela inesquecível demonstração de amor e fé da Torcida Corinthiana, emoções que só um confronto direto proporciona.

6 comentários:

  1. Mano, fantástico relato! Valeu!
    Me passou várias coisas pela cabeça. Mentir nessa proporção, que foi também comentada aqui em casa, por supuesto, coisa da qual me lembro bem, pois naquele Brasileiro, até pelo roubo no Paulistão daquele ano, passamos a estar mais freqüentemente no estádio que o comum, mesmo tendo ido sempre (o Gordão era muito ocupado, e eu não tinha 'autorização' dos meus atos, muito menos para estar em um Pacaembu sozinho...). Em várias partidas tivemos de nos aproveitar da carteirada do meu Pai Gordão, Diretor de... Marketing (sim, mas na época dele não era essa putaria). Confesso isso, mas até com certo prazer; não estivesse o Pacaembu lotadaço, estrumbicado, não teríamos recorrido a isso, à carteirada, percebe? Esse jogo, mesmo com essa sensação sua, que tive por um lado, fiquei com raiva do que faltou. Inexplicável. O adversário foi peidar na Final contra o time dos que carcaram a mão no Paulistão...
    São Jorge escreve certo por linhas tortas.

    A demonstração de amor tem que ocorrer INCONDICIONALMENTE, como é dito no texto. Foi por isso que não vencemos, segundo a Força de São Jorge, não é mesmo?

    Esse sem dúvida foi um JOGAÇO-LIÇÃO.
    Lição de vida, como é o CORINTHIANS.

    Salve salve, Porta-Voz.

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  2. Nossa que bela lembrança!

    Esse campeonato tinha tudo para ser fantástico, lembro de grandes apresentações na primeira fase batemos A raposA lá (pra vairiar) estréia do Zé da Fiel, a etrna fregaysia também apanhou e o melhor foi uma surra no foguinho... Mas esse jogo do vitório foi osso lemmbro que o cavalo bateu uma falta diretoque deveria ser em dosi lances mas o Ronaldo (verdadeiro) tentou defender e validou o gol baiano... paciência, bons tempos. Ah a sardinha tb apanhou no quandrangular...

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  3. Lembro de ouvir esse jogo no rádio da sala do apartamento da rua Apinagés (de cuja janela eu brigava com a porcada) e ter a certeza absoluta de que venceríamos, certeza vinda do BG das arquibancadas que eu ouvia, da camisa que eu vestia, sei lá, mas incontestável manifestação da Mística Corinthiana de que falas no texto.

    Vou escrever sobre meu primeiro jogo da vida para sua série, ok?

    Saudações alvi-negras.

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  4. Tiago, manda bala!

    Sacks (pô, deixa o nome aí!!!), de fato, debulhamos esses fregueses todos. Aliás, no último jogo batemos o time médio da Baixada, só que o meigo não ganhou do time baiano. E sobre o Ronaldo, veja que goleiro ia na bola naquela época, mesmo que não precisasse (hehehehehe).

    Mano Filipe, à época do pai Gordão, a diretoria, salvo raras exceções, era composta por corinthianos de verdade. O velho gagá e sua máquina destruidora foi acabando, pouco a pouco, com nossa identidade de dentro para fora. E a raiva apareceu mesmo, mas foi alguma coisa diferente, até que a sensação de dever cumprido foi maior. Lembro que, como é nossa cara, nego saía do anti-estádio dizendo: "calma que vai dar, tem mais um jogo". Lições, mano!

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  5. Japa, desculpe estava fazendo um trabalho de faculdade e precisava usar um usuário com nome Sack´s.

    Clayton

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  6. Sussa, é só pra eu poder responder mesmo - responder pra Sack's é esquisito ahahhaa.

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