12 maio 2010

Você acredita na mídia?


Jornalistas, principalmente os dos grandes veículos de comunicação, são megalomaníacos e se consideram acima do bem e do mal. Não aceitam nenhum tipo de controle sobre sua produção textual e se indignam a cada vez que o papo sobre regulação da profissão aparece, pois para eles isso seria um tipo de intimidação governamental que se assemelharia à censura prévia da ditadura militar. Curiosamente, muitos trabalharam para a ditadura, direta ou indiretamente; outros gostariam de ter trabalhado ou ainda vivido sob o regime autoritário. Quase todos, porém, se esquecem do outro tipo de censura vigente, aquela disfarçada, vinda do departamento comercial, e do quanto isso influencia para calar redações.

Domingo mesmo, no jogo do
Corinthians no Pacaembu, vimos uma cena deplorável que não mereceu uma linha na imprensa esportiva. Os Gaviões da Fiel fizeram um protesto legítimo das arquibancadas, levando faixas e cantando músicas durante o intervalo. Policiais militares, atendendo prontamente o ditadorzinho que preside o clube de Parque São Jorge, se dirigiram à torcida requisitando o fim da manifestação e o recolhimento das faixas. Graças aos céus, aos dignos torcedores que ali estavam e ao entorno que puxou um "quem não for corinthiano, vá para a puta que pariu", a meia dúzia de gambé se sentiu intimidada pelo povo e recuou. Repito: não houve uma palavra sobre o ocorrido nos jornais.

No decorrer da semana, outro fato inconcebível. Felipe Milanez, editor da revista National Geographic Brasil, foi demitido sumariamente pela editora Abril - aquela que mantém contratos milionários sem licitação com o governo do Estado paulista - por conta de algumas opiniões sobre uma reportagem da semanal Veja, considerada racista. Fez seu papel correto de jornalista, contrapondo-se a mentiras e evitando que o leitor não caísse em armadilhas retóricas que a revista costuma utilizar. Como prêmio por cumprir com sua obrigação moral e seu juramento, levou o cartão vermelho (e provavelmente nem rescisão trabalhista vai ter, porque deveria ser contratado como PJ). Somente alguns sites destinados à análise do trabalho da imprensa e alguns blogues deram repercussão ao absurdo, e a mídia consolidada deu de ombros.

Diante de todas essas omissões, experimente o
presidente Lula ou qualquer outra pessoa propor um órgão regulatório da atividade jornalística para ver o tamanho da grita. Serão tachados de reacionários, extremistas e imorais por requisitarem, sempre por meio de consulta pública, que os profissionais da imprensa tenham um aparo classista que garanta o cumprimento de seus direitos e, na contrapartida, sejam punidos por irresponsabilidades, como todo cidadão brasileiro. Não, os jornalistas e demais profissionais da comunicação estão acima disso.

Para vocês perceberem o nível do empinamento do nariz, confiram um texto de Bob Wollheim, um auto-intitulado "empreendedor da internet", que justamente coloca a culpa em Milanez por ele ter feito, nas palavras do gênio da web, difamação de seu patrão. Não, meu caro de nome estrageiro impronunciável, ele não difamou ninguém. Pelo contrário, difamatória é a matéria da Veja. Continua Wollheim dizendo, na maior inversão de valores da história, que
"ninguém é obrigado a trabalhar em lugar nenhum e, portanto, se a pessoa está infeliz, discorda da empresa e resolve se manifestar em público, é justo que a empresa não queira um colaborador assim, não é?" Infelizmente, o próprio demitido, talvez por ainda estar embebido dos preceitos e do modus operandi da Abril, afirmou que fez comentários duros como "pessoa, não como jornalista", numa tentativa inconsciente de tirar da reta o dele e o da empresa.

É assim que se comportam os operários e os comandantes da mídia nativa. Esquecem da função social primordial da comunicação e se resumem a usar cargos e portfólios para se mostrar superiores. Isso explica os salários baixíssimos pagos para a categoria, as condições de trabalho quase escravistas impostas pelo mercado e a decadência moral do setor, com cada vez menos credibilidade. Tudo em nome de uma liberdade de expressão ilusória que só atende aos interesses dos patrões, que hoje em dia nem brasileiros são.

4 comentários:

  1. A Mídia, é nojenta.

    Eles sugam até o bagaço e depois descartam, sensacionalismo, como no caso da menina Isabela e tantos outros.

    Tenho nojo da mídia Brasileira.

    Abraço!

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  2. O twitter tem um "bichinho" que acomete seus usuários, e que talvez explique a virulência do rapaz: esse negócio de "followers", "Retweets", popularidade e quetais acaba contaminando certos usuários, que são meio que insuflados pela massa e acabam passando dos limites (sim, e HÁ LIMITES para se falar em público, né?). É como aquela história do cara que conta uma boa piada, o pessoal gargalha; ele se anima, conta a segunda, a terceira, a quarta... Chega uma hora que o pessoal já não ri mais como da primeira vez, e vem a apelação. O jornalista forçou a barra na FORMA da crítica, inclusive expondo os colegas que assinaram a matéria à execração pública, tuitando #FFs sarcásticos com os endereços deles. E digo mais (posso?): com o acirramento da campanha eleitoral, muito mais casos como este devem pipocar na tuitosfera. Crítica sem ponderação e calma não é crítica, é xingamento. O rapaz xingou o empregador dele e até os colegas em público, quando poderia ter feito uma crítica baseada em fatos que a Veja distorceu ou omitiu para publicar a reportagem. Ele tinha meios para fazê-lo, mas a galera engajada-militante-e-tal no twitter quer mesmo é ver sangue. Isto, sim, angaria os tais "followers" e "RTs".

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  3. Pô, mas eu insisto que não se pode jogar a culpa no cara por ele ter feito, vá lá, o seu papel.

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  4. Ainda sobre o caso, texto do Bruno Ribeiro:

    http://migre.me/ERWS

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