26 agosto 2008

Mais um passo para o fim


“O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.” (Nelson Rodrigues)

A frase é uma das geniais afirmações do mestre das palavras. Lembrei dela justamente quando li sobre a adaptação do calendário do futebol brasileiro ao europeu. O diretor da CBF Virgílio Eliseo afirmou que é questão de tempo a correlação das datas no velho e no novo continente. O que soa como “modernidade” nada mais é do que outro ato de submissão das Américas, a reafirmação da histórica relação metrópole-colônia.

Hoje mesmo, o técnico Mano Menezes já fazia coro para a campanha, ao comemorar seu elenco ileso das garras de empresários. Não faltam defensores dessa baboseira na imprensa e pelos estádios, cuja principal justificativa é a manutenção dos atletas no Brasil. Ignoram o fato de que jogador de futebol querendo ir para a Europa é igual mulher que quer namorar. Fogo morro acima, água morro abaixo.

Independentemente de datas e aberturas de janelas de contratações, os boleiros estão cada vez mais pensando na grana que sobra nos campeonatos da Inglaterra, Itália, França etc. Motiva também o famoso senso de civilidade, que os europeus impuseram a índios e negros no processo de colonização. Como se sabe, isso foi acompanhado de genocídios, carnificinas, doenças e destruição de parte do patrimônio natural e social das Américas e da África. Ao lado dessa modernidade e dessa civilidade, está também a mercantilização e a escassez de valores.

Aqui no Brasil, ao menos, muitos de nós ainda resistimos. Vemos a coisa com paixão e a frase utilizada pelo Barneschi no cabeçalho do seu blogue define com perfeição o sentimento: o futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais importante do que isso. Esse pensamento incita protestos em treinamentos, intervenções em primeiro grau nas baladas e boates, ameaças vindas das arquibancadas. Elementos que predispõem responsabilidade e coragem, cada vez menos presentes na cabeça dos jogadores.

Voltemos então ao calendário. Adaptando-o às datas européias, estaremos não dificultando, mas sim facilitando a ida de brasileiros aos campos estrangeiros. Continuaremos perdendo nossos valores (cada vez mais precocemente) no meio de temporadas, já que o fator motivador da saída é só o dinheiro. Os clubes da Europa, nadando em cifras, irão se programar financeiramente para encantar os jogadores com suas maravilhas do consumo (espelhinhos, lembram?). Pagarão uma merreca aos endividados times do Brasil e, com a matéria-prima na mão, lucrarão aos borbotões. Os baleados voltam ao país, se tratam e se aposentam ou voltam a emigrar para enriquecer ainda mais. Para evitar o êxodo - e já que virou tudo mercadoria -, basta criar leis protecionistas.

No comércio imoral da bola, jogadores são estrelas do showbizz. O torcedor médio não vai à guerra, vai ao show, e o assiste com a bunda na cadeira. E para garantir o espetáculo, deve-se acabar com os contestadores. A fórmula é simples: chamem de marginais, coloquem em jaulas, tirem o direito de torcer. Com isso, elimina-se toda e qualquer responsabilidade e a paixão se esvai. Morre junto o futebol, cujo velório já tem data certa: 2014.


6 comentários:

  1. Japonês,

    O torcedor comum, seja lá quem for, certamente deve ficar a ver navios quando lê um texto como seu. E deve pensar algo do tipo "Como esse japonês é pessimista...".

    Pois bem, é esse o grande problema: a grande massa não enxerga o que acontece e assim fica mais fácil para toda a sua teoria se confirmar. Infelizmente.

    Abraços

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  2. Uma provocação necessária: o que você tem a dizer a respeito de um país que tem 0 medalhas em toda a história dos Jogos Olímpicos?

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  3. Barneschi, a grande Bolívia não ter nenhuma medalha só comprova o que eu disse sobre colonialismo.

    Chupa!

    VIVA A BOLÍVIA! VIVA EVO!

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  4. O torcedor "comum" anda por aí com camisetinha do manxester, do xélçea, do milan.
    E acha que tá tudo bem...

    Assino embaixo, Japonês.

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  5. Agressividade desnecessária com os bolivianos... Você é praticamente um coreano, Barneschi.

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