26 março 2009

Independência ou morte


Retomo o tema dos novos rumos da comunicação com a popularidade cada vez maior das novas tecnologias. Em post anterior, afirmei que o grande barato é a mudança no esquema emissor-mensagem-receptor, eliminando-se a linearidade no processo de transmissão de informação com todos os agentes passando a ser ativos. Dito isso, devo falar que há no blogue do Pedro Alexandre Sanchez uma constante e rica discussão sobre esse tema. Downloads, papel da imprensa tradicional, conflito entre o novo e velho, tudo isso é tratado lá de maneira bastante respeitosa, coisa rara de se ver nos debates pela rede.

O Pedro levantou uma questão que tem tudo a ver com o investimento de empresas nas redes sociais. Diz ele: “eis aí outro ângulo do nosso jornalismo, e não pense que isso não me angustia pra caramba, viu? exceções não chegam a ser um consolo, e sei lá se a informalidade não será o destino de todos nós... mas... e se a gente trocasse/trocar o termo ‘informalidade’ por ‘independência’?, aonde chegaríamos/chegaremos? ... taí, flavio, o termo ‘independência’ também cabe no que você falou, não? ‘sócio’ é bem diferente de ‘empregado’, né? será que se aplicaria ao jornalismo, claudio?”

Só para contextualizar, essas palavras foram comentários a uma entrevista do Pedro com Pena Schmidt, tratando do fechamento da comunidade Discografias e da cruzada inquisitória das corporações contra quem faz downloads de músicas e quem as disponibiliza em blogues, torrents e afins – ou seja, eu, você, seu irmão e seus amigos. Pena diz, lá pelas tantas, que a indústria da música foi tomada por gente que só lê planilha, e eu adicionei que isso hoje é comum também no jornalismo. Ou seja, tudo foi tomado pelos leitores de planilha (trabalhei em certo lugar que tínhamos metas para publicação de notícias, vejam vocês) e os setores pararam na idade da pedra.

Não dá para não fazer a relação à minha situação atual. Mesmo atuando ainda na comunicação, me vejo num papel totalmente fora daquele que me foi “ensinado” nos quatro anos de salas empoeiradas de Cásper Líbero. Reafirmo que meu jornalismo aparece só aqui, no meu blogue e na minha “independência”, como sugeriu o Pedro. Sou “sócio” recente do Cruz de Savóia com a colaboração de minha Hora da Patrulha. E só vejo espaço para minhas práticas jornalísticas nesse ambiente de comunicação colaborativa e totalmente aberta. No mais, o meu ordenado vem de uma atividade mais publicitária, ou seja, estou do outro lado do front.

Não quero com isso desenhar um cenário catastrófico para quem vai se formar ou para quem pensa em cursar jornalismo. Continuo defendendo nossa categoria e vejo na obrigatoriedade do diploma o único instrumento capaz de tornar a classe novamente engajada. Gostaria de ver também a criação de um órgão regulador do exercício da profissão. Mas não sou ingênuo a ponto de acreditar que nossos empregos se resumem aos oferecidos pelos veículos que estão concentrados nas mãos de poucos. Eu, por princípios éticos, optei por passar fome a ter que servir interesses da família Frias ou dos Civita, caso houvesse proposta para isso. Assim como na indústria cultural, o jornalismo (ou o jornalista) precisa achar uma nova maneira de ganhar dinheiro. E rápido, porque o ocaso de inúmeros jornais e revistas é prova de que há algo errado no velho esquemão de publicações.

Curiosamente (e felizmente), já começam a pipocar casos aqui e acolá de empresas que investem na credibilidade de alguns blogueiros, twitteiros e geeks em geral para divulgar seus produtos. Apesar dos arautos da moralidade não enxergarem o troço com bons olhos, não acredito que o fato de uma empresa pagar alguém que dissemine o contraponto à mídia clássica seja algo antiético. Pelo contrário, os patrocinadores se deram conta que o leitor agora busca identificação com um discurso que o agrade e/ou seja dissonante de uma Falha, de uma Globo ou de uma Veja. A imoralidade depende da maneira como o anúncio é feito dentro das novas plataformas. No limite, prefiro que alguém pague um blogueiro que tem a coragem de falar mal do Gilmar Mendes a uma propaganda camuflada do lado da coluna do Diogo Mainardi, cujas palavras não deveriam nem enrolar peixe na feira.

E aí, respondendo ao Pedro, minha avaliação é que, a partir do momento em que os donos da grana perceberem que dá para fazer jornalismo por outras vias, poderemos sim ser independentes (independente não significa morto de fome, pô!) e garantir nossa subsistência fora dos meios tradicionais. Paradoxalmente, retomaremos tradicionais métodos de reportagem, como entrevistas cara-a-cara e pesquisa de campo, e os textos seriam mais ricos. A pulverização de fontes de informação garantiria leitores mais críticos e tal crítica teria espaço para reverberar por conta dos instrumentos de interatividade. E os jornalistas, talvez, não seriam mais identificados como carrancudos, já que teriam uma vida muito mais aprazível. Muito revolucionário?


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