14 dezembro 2009
O ocaso de 1500 (ou saindo da merda)
Desde que o primeiro português meteu os imundos pés europeus no Brasil e trouxe na bagagem o mercantilismo exploratório, a imprensa tupiniquim defende um só interesse. Vez ou outra aparece um ou outro veículo aqui e acolá para fazer a contraposição, mas os jornais sempre foram panfletos publicitários. Por isso mesmo, o modus operandi dos colegas das redações nunca foi merecedor de minhas mãos no fogo.
Mais de 500 anos depois de Cabral, numa conjunção inédita de acontecimentos, um metalúrgico se elegeu presidente e elevou a linguagem do povo para o centro do poder. Antes sapo barbudo e comedor de criancinha, o companheiro tornou-se referência política mundial e aprontou muito das suas para contestar, ainda que timidamente, o processo de produção e distribuição da informação.
Na semana passada tivemos um exemplo da contestação sutil. Lula, num português claro, disse que tirou da merda quem estava na merda. Poupando nossos ouvidos de um falatório dispensável como faria seu antecessor, o pizidente, na verdade, mandava toda essa mídia consolidada para o lugar onde antes estavam os pobres. O recado foi entendido e as metralhadoras dispararam em direção ao Planalto.
Aqui, um detalhe curioso. Há exato um ano, o mesmo Lula havia proferido um "sifu" que ruborizou as moças casadoiras da alta sociedade. Percebam: se é competente em seguir um cronograma golpista frio e bem programado (inclusive na falta de pauta), a imprensa não preza muito pela inteligência. Ignoram que o povo come todo dia, adquiriu inédito poder de compra e, acima de tudo, conheceu mais a fundo a cidadania e a dignidade social na prática. Ao mesmo tempo, fecham os olhos para a verdade, como na cobertura das últimas enchentes paulistanas e no mensalão demo-tucano, ou então agem de maneira infantil e tacanha, como no próprio caso da merda.
Justamente por saber da burrice e fragilidade da imprensa, o governo peca no processo de ruptura com ela. Ao invés do enfrentamento, preferem leves tapinhas na cara. Criam o Blog do Planalto, o da Petrobrás, o Café com o Presidente. Ouvem a sociedade civil como nunca na história desse país, realizando Conferências Nacionais que produzem inúmeras demandas de políticas públicas à pauta do Congresso - nesta semana acontece, coincidentemente, a Conferência da Comunicação. A meu ver, isso é apenas um dos focos a seguir, pois defendo uma postura mais bélica, talvez a mesma pretendida pela grande maioria do público leitor, que hoje foge dos jornalões e vai à internet em busca de conhecimento.
Um dos argumentos disseminados pela mídia para deslegitimar movimentos sociais ou publicações (online e offline) que fogem do padrão golpista se refere à publicidade oficial. Enchem a boca para incompatibilizar dinheiro público em forma de patrocínio e independência editorial. Justo eles, recordistas de anúncios dos governos federal, estadual e municipal. Ainda assim, Abril, grupo Falha e as famílias Marinho, Mesquita e Sirotsky, todos eles promotores incansáveis de um impeachment baseado no pensamento lacerdista de "não pode se eleger; se eleito, não deve tomar posse; empossado, não deve governar", jamais sofreram retaliações lulistas, mesmo quando publicam mentiras ou disparates como a ditabranda. Só a título de comparação, José Serra vive a pedir cabeças de jornalistas quando se depara com alguma crítica à sua péssima administração estadual. De minha parte, eu decretaria no primeiro de janeiro: estão revogados todos os patrocínios do governo a quem julgar improcedente esse tipo de prática.
Deve ser por essa e tantas outras milhares de razões que Lula é o presidente da República e eu sou um merda. Mas pelo menos um merda consciente, que se emociona com o banho de povo brasileiro reproduzido no vídeo abaixo e que espera ser tirado do poço de excremento comunicacional ainda infestador do ideário verdamarelo:
soh nao entendo pq nao deixa ninguem comentar no blog do planalto...
ResponderExcluirCara, eu até entendo, e já disse aqui que provavelmente a culpa é da trollagem. No limite, ali não é espaço para debate, mas sim para exposição de informações via Palácio do Planalto. Isso não quer dizer que eu ache positiva essa restrição aos comentários.
ResponderExcluirÉ fácil entender, Renato: basta ir ao "blog do Planalto cover", que repete as postagens do blog original, e permite comentários. Leia o que escrevem lá. Multiplique por mil e veja como ficaria o blog:
ResponderExcluirhttp://planalto.blog.br/