16 setembro 2010
Pelo fim da liberdade da velha imprensa
Escrevo como forma de amenizar a indignação que me tomou neste 16 de setembro, após o pedido de demissão pela ministra da Casa Civil Erenice Guerra, uma ilustre desconhecida dos brasileiros e alçada ao posto de "ladra petista" da vez pela mídia. Dizem a Veja e a Falha que a prole de Erenice é responsável por cobrança de comissão a fim de facilitar contratações junto ao governo federal e empréstimos do BNDES. Uma das fontes é um sujeito condenado pela Justiça paulista por receptação e falsificação de moeda, a outra simplesmente desmentiu as denúncias (todas sem provas, como sempre).
Resumindo, é outro golpe da imprensa falida e abutre que não gosta do povo, que não quer o Brasil contemplando o bem-estar social e que está sempre mancomunada com a direita reacionária, essa herdeira ideológica do lacerdismo e do regime militar. Tentaram escandalizar o eleitorado com a tal quebra de sigilo fiscal de tucanos por parte de petistas - depois, ficou-se sabendo que quem violou dados pessoais foi uma tucana, a filha de Serra -, com o único objetivo de atacar a candidatura de Dilma Rousseff. E agora aparece o caso do tal lobby.
Minha indignação, porém, não é tanto com o famigerado modus operandi de tralhas, falhas, vejas e globos. Fico impressionado mesmo é com a excessiva tolerância do governo federal a esses veículos de desinformação, ao menos no que tange à quantidade de verba pública destinada para a manutenção dessa corja via publicidade oficial. Eu bato nessa tecla há anos, desde quando assumiu Lula e as viradas de mesa contra ele eram - e ainda são - forjadas diariamente.
O governo, agora, colhe os frutos de sua omissão. Recuaram na proposta da criação de um Conselho do Jornalismo, recuaram no PNDH e recuaram agora, forçando uma ministra a se demitir por conta do trabalho imundo da Barão de Limeira, que a cada edição perde um pouquinho de sua parca credibilidade, atualmente concentrada na cabeça dos abastados da ultrapassada elite brasileira.
Preocupação eleitoral de minha parte não há. Se Dilma não ganhar no primeiro turno, leva no segundo. A questão é: e depois? Ficaremos mais 4 anos debaixo de um bombardeio midiático cuja veracidade é zero e ainda bancaremos indiretamente os golpistas? Faz-se necessário rever a relação governo-publicidade-veículos a partir de premissas radicais, acabando com a teta grande que alimenta essas hienas, todas sorridentes no dia de hoje por causa da cara de tacho que o povo ostenta diante de mais uma concessão governamental a quem mais quer tirar do governo o seu poder.
A bem da verdade: liberdade da velha imprensa não é garantida pelo que pode ou não ser publicado. Ontem mesmo, José Serra retomou a prática da censura prévia dos milicos ao pedir a fita de um programa que ousou questioná-lo mais duramente sobre questões da campanha, e a mídia de massa silenciou. O sinal verde para as irresponsabilidades, na realidade, é dado pela impunidade ao mal exercício do jornalismo, que acaba premiado com uma graninha vinda dos próprios sparrings de luxo. Aí não é liberdade, é masoquismo mesmo.
P.S.: o Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, aponta ainda uma outra faceta do golpe, com origem nas igrejas.
11 setembro 2010
A que custo?
Há uma semana, o Barneschi colocou lá no blogue dele um post muito bom com relação ao tal estádio do Corinthians. Palavras, aliás, muito mais corinthianas do que a grande maioria das que eu vi por aí, apesar dele ser palestrino...
Hoje, recebo por e-mail outro texto parmerense, desta feita de Adriano Pessini - mais um grande amigo que essa tal de internet me deu. Reproduzo abaixo a caneta precisa do Pessini, que sintetiza brilhantemente muito do que eu penso sobre o que está se passando no Coringão.
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República Popular de quem?
No meio das comemorações do centenário do Corinthians, vi milhões de documentários, depoimentos, matérias especiais etc e as duas frases _onipresentes_ que mais me chamaram a atenção foram "é o time do povo" e "vamos ter a nossa casa".
Vendo de longe, no meio da empolgação, realmente seria um sonho consumado de todo trabalhador brasileiro: o povo conseguir sua casa própria.
Mas, analisando a fundo, não vejo um futuro assim tão altaneiro para quem realmente move o Corinthians: o seu torcedor.
Longe de mim colocar água no chope alvinegro, mas até agora ninguém explicou quanto vai custar um ingresso para a nova arena. Estipula-se a venda dos direitos do nome do estádio em valores irreais, fala-se em ganhar dinheiro até de pontos de venda de cachorro-quente, mas a realidade é que, na ponta do lápis, quem vai pagar a conta pela sua paixão será o torcedor. O condomínio da nova casa vai ser caro.
Espero que os dirigentes corintianos não se esqueçam da frase de Miguel Bataglia, primeiro presidente do clube: "O Corinthians é o time do povo, e é o povo que vai fazer o time".
No último feriado, passeando por um shopping endinheirado de São Paulo, deparei-me com uma enorme propaganda da República Popular do Corinthians. Um painel muito bonito, muito bem-feito, expondo a camisa do centenário, vendida a módicos R$ 300. Popular para quem?, questiono-me.
09 setembro 2010
Mas já?
Caralho, 29...
Outro dia pensava que:
- faz 10 anos que eu entrei na faculdade
- faz 7 anos que eu me formei
- faz 9 que eu contribuo para o IR
- faz 18 anos que eu vou aos jogos do Corinthians
- faz 21 anos que eu dirijo
- quem tira carta hoje nasceu em 1992
- quem vota hoje nasceu em 1994
- meus amigos agora casam e/ou têm filhos
Ainda assim, há felicidades. Por causa da minha Evinha, do meu Corinthians, dos irmãos que vão aparecendo pelo caminho.
Vale a pena, ainda que também é pena haver quem não esteja mais aqui.
01 setembro 2010
Corinthians 100 anos! Corinthians, nunca sem você!
Que o mundo se curve diante do sonho de Joaquim Ambrósio, Antonio Pereira, Raphael Perrone, Anselmo Correa e Carlos Silva, um sonho que hoje habita o coração de mais de 30 milhões de brasileiros. O Time do Povo, mais que um mero escrete do futebol, é uma Nação.
Desde 1910, o Corinthians segue um caminho sempre destacado pelo irmão Filipe e que o mestre Lourenço Diaféria descreveu tão bem: "Assim como o organismo humano defende-se com anticorpos por ele mesmo produzidos, o Corinthians foi se imunizando com o correr dos anos e soube extrair a força que tem de suas próprias aparentes fraquezas. Também nisso o Corinthians Paulista segue sendo um retrato fiel do povo." Dessa maneira, os incrédulos esperam há um século pelo fim da utopia popular que foi forjada na digníssima várzea, local responsável por dar ao futebol a verdadeira alma. O Corinthians, amigos, é várzea pura! E, ao mesmo tempo, um gigante, capaz de subverter a rotação da Terra e contrariar qualquer regra.
Nesse 1º de Setembro, completamos um ciclo. Inicia-se uma nova era em nossa história cheia de glórias e lutas, principalmente lutas. Não nos deixemos levar por falsas palavras, por ciladas já conhecidas, pela descaracterização que os tempos modernos tentam impor. A Fiel Torcida, força maior dessa instituição, precisa manter sua mística e exaltar o corinthianismo.
O corinthianismo, aliás, é a forma de amor mais verdadeira que existe. Sua pioneira e maior representação em carne e osso foi Manoel Nunes, disseminando-se posteriormente por todos os cantos. Não há - ao contrário de todo outro sentimento que a humanidade já conseguiu inventar - a possibilidade desse amor sequer diminuir, quanto mais se extinguir. O Corinthians é razão de viver, e ele é quem define quais privilegiados terão o prazer de gritar seu nome. Corinthiano não vira, ele nasce e pronto. Nas vitórias, nos libertamos. Nas derrotas, aprendemos lições, não sem antes fazer furdunço. Isso é Corinthians, para o bem e para o mal. Não viemos pela ordem e progresso; viemos ser o povo, sem juízo de valor.
Salve o Sport Club Corinthians Paulista e todos os guerreiros que defenderam seu Manto, em campo ou nas arquibancadas. Obrigado, Corinthians, por você me dar essa honra. Obrigado por pelos elos de amizade que me proporcionou nessa jornada até aqui, com poucos e bons irmãos que irei carregar até o fim. Por ti, dou minha vida.
CORINTHIANS MINHA VIDA, MINHA HISTÓRIA E MEU AMOR!
O Corinthians pelos rivais
O Centenário do Corinthians movimenta não só a Nação Alvinegra. Por sintetizar o povo, desperta uma respeitosa relação de rivalidade - que, por sinal, é recíproca - em vários outros torcedores. Isso também é o que nos faz grande.
O rubro-negro Edu Goldenberg, por exemplo, ao publicar um textaço sobre o Maracanã e suas memórias no Maior do Mundo, dedicou as bonitas palavras aos corinthianos. Da mesma forma brilhante e impecável, o bugrino Bruno Ribeiro tratou de sua relação com o Time do Povo pela Invasão de 76 e pela Democracia Corinthiana. Simplesmente dois golaços, daqueles que valem a taça!
Mas eu queria reproduzir também o depoimento que recebi via GTalk do maior vascaíno do mundo, o João Medeiros. Vejam o que o irmão de arquibancada fala sobre o Corinthians:
"Deixa eu te contar uma coisa. Eu tinha 9 anos... E lembro como hoje. O país inteiro parou pra ver a final do Paulista/77, o fim da espera de 23 anos da fiel... Era o país inteiro torcendo pela Ponte. O Morumbi LOTADO. Uma festa inesquecível. Inesquecível.
Você não imagina a repercussão que teve no Rio, na época. Lembro de cada detalhe, Cláudio.
Do gol chorado... Foi a primeira vez que eu tive noção da grandeza do Corinthians. O futebol era muito provinciano e o Rio meio que ofuscava o resto do país. Mas o Corinthians parou o Brasil naquele dia. Foi um dia mágico, como outros que o futebol me proporcionou.
Estou te falando isso, porque essa merda toda [nota minha: a destruição do Maracanã] tem me deixado muito nostálgico. É duro saber que uma festa dessas NUNCA mais vai acontecer. Não com aquela pureza e paixão que aconteceu em 77. Cara, é difícil descrever...
Tinha um tio, em Atibaia, corinthiano, mas corinthiano de verdade... Esteve no Rio na invasão de 1976. Lembro que estivemos na casa dele em 1976, nas férias de janeiro. Ele fez questão de nos levar no Pacaembu. Cara, pisei no gramado sagrado do Pacaembu, na companhia do meu tio... Tenho foto pra provar. Meu tio falava do Corinthians com uma devoção difícil de descrever. Eu não entendia, juro que não entendia. Como alguém pode ser algum time que não VASCO, fla, flu? Que graça tinha torcer para o "Curíntia". Pois naquele1977 eu entendi, finalmente. A alma que emanava das arquibancadas lotadas do Morumbi atravessaram a Dutra e chegaram ao Rio e consegui entender a paixão que o Corinthians pode despertar num torcedor.
Entenda: eu tinha apenas 9 anos, não havia internet. Mas eu sei porque isso me marcou tanto. Porque foi exatamente esse dia de 77 que deu o peso certo para a vitória do VASCO em 1980, com 5 do Roberto. Não entenda isso como pilha, não é mesmo. Se não fosse 1977, a vitória de 80 não teria o peso que teve pra mim. Estava no Maracanã e ganhar do time da torcida insana, maluca (era isso que eu pensava do corinthiano) teve um sabor especial.
Queria te dar esse depoimento. Foi em 1977 que eu, um carioca provinciano, que achava que o Brasil se resumia no Rio, descobri o Corinthians. Meu velho é tricolor e estava no Maracanã no dia da invasão. Ele torceu muito pra Ponte. E eu, contagiado por ele, torci também... Acho, que nesses 100 anos, aquele foi o dia mais corinthiano que o Brasil já viu."
VIVA O CORINTHIANS!!!