22 maio 2006

O título que não veio


A Copa de 94 foi a 1ª que realmente vivi. Dada a minha tenra idade, tenho apenas lapsos de memória de 86 e uma vaga e traumática lembrança de 90, aprendendo o porquê da rivalidade Brasil-Argentina.

Para ser mais exato, minha vida de torcedor começou em 93, quando fiz minha estréia num Corinthians e Noroeste e meu Timão venceu por 2 a 0. A paixão, que era grande, passou a ser imensurável. Desde esse ano e até 95, um dos maiores ídolos da Fiel era Paulo Sérgio Rosa, mais conhecido como Viola. O artilheiro era unanimidade e sua convocação mais do que justa serviu também como um incentivo para minha atenção especial à Copa de 94.

A Seleção, no entanto, não desfrutava da mesma confiança que Viola tinha dos corinthianos. Mesmo assim, ela foi aos trancos e barrancos até o jogo final, sempre carregada pelo talento de Romário e a garra de Dunga.

Na decisão do dia 17 de julho, um jejum de 14 anos estava próximo do fim. O Brasil enfrentaria a Itália, mesmo adversário do Tri em 70. A retranca dos dois lados garantiu um jogo feio, que durou até a prorrogação. Até que Parreira coloca Viola em campo, e os torcedores do Timão lembraram do título Paulista de 88.

Dizem que foram ouvidos tantos rojões nessa hora quanto no Tetra. E se Viola, em sua única jogada, driblasse três italianos (como fez) e tivesse marcado o gol do título (como em 88), ao invés de ter inexplicavelmente tocado de lado, a Fiel teria duas taças para levantar. De minha parte, até hoje vejo aquela bola entrando.

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Este texto foi escrito para concorrer a 300 conto na Época. O assunto é: "Qual foi o jogo da Seleção que mais marcou sua vida?"

15 maio 2006

Reflexos...


São Paulo está em estado de guerra, isso é fato. E quando o poder público perde as rédeas do Estado, começam a aflorar os instintos reacionários, por diversos motivos. Familiares de policiais, familiares de presidiários, companheiros de ambos os lados são tomados por uma revolta e vêem na lei do "olho por olho, dente por dente" a solução para tudo isso.

A partir daí, a questão fica ainda mais preocupante. Porque culpar polícia ou bandido é a pior burrada. Temos que lembrar, no entanto, que o Estado de São Paulo está há 12 anos nas mesmas mãos. E doze anos é tempo suficiente para colher frutos de um planejamento carcerário e penal. Reeducação e melhor preparo e remuneração por parte da polícia de um lado e população com o mínimo de recursos garantidos de outro já ajudariam. O crime, porém, continua glamourizado, e os principais responsáveis por isso ou estão fazendo campanha para presidente ou enganam o povo dizendo que "está tudo sob controle".

A se fazer: impotentes, nós temos apenas que esperar. Dar uma de cientista político ou coisa parecida. Pegar em armas e sair metendo bala? Ahã... Contar com as forças policiais? Eles não estão dando conta deles próprios. Todos estamos colhendo frutos de nossas próprias ações. A polícia pelo ódio que gera na população marginalizada, os criminosos que correm o risco iminente de serem executados por essa ação pouco inteligente e o restante da população que insiste em se focar no próprio umbigo e não consegue perceber que somente sob uma visão coletivista é que esse país chegará a algum lugar.

Triste ver a cidade de São Paulo assim. Mais triste ainda é ver gente querendo impor seu ponto de vista, defendendo um lado ou outro. Maniqueísmos que só aumentam mais a bola de neve, que um dia engolirá tudo. Na guerra, todos os lados estão certos e todos eles estão errados...

12 maio 2006

Rollin` on the river


Creedence Clearwater Revisited é sempre garantia de, no mínimo, diversão. Nesta quinta, 10/05, os caras voltaram pela quarta vez ao país, se não me engano. Da formação original, só o batera Doug "Cosmo" Clifford e o baixista Stu Cook. Completam o time os competentes Steve Gunner (tocando um monte de coisa) e o guitarrista Tal Morris. Mas um capítulo à parte é o vocalista John Tristao, um sujeito bonachão, gigante - parece o pugilista Butterbean, detentor do recorde de nocaute mais rápido, com 3,8 segundos - e com um timbre de voz idêntico a de Johh Fogerty, primeiro vocalista e um dos fundadores do grupo, a essa época com a alcunha de Revival.

Esse é um daqueles shows em que você conhece praticamente todas as músicas. Quem nunca ouviu ao menos uma canção do Creedence é porque esteve em coma nos últimos 40 anos. Hit após hit, você vê um monte de marmanjo se emocionando com "Long as I can see the light". Ou lembrando de seus primeiros acordes na guitarra com a já manjada "Have you ever seen the rain".

Faço aqui algumas ressalvas. O Credicard Hall, onde aconteceu a apresentação, é realmente a pior casa de shows paulistana, disparado. Som péssimo em certos locais, acesso precário, estacionamento caríssimo... Tudo isso somado ao fato de sermos obrigados a consumir uma lata de Schincariol ao preço absurdo de R$ 5. Mesmo assim, o local não conseguiu dar fim à mágica sessentista que se espalhou por lá.

Críticas ao saudosismo à parte, não tem como negar que o Creedence é presença garantida naquele CD da trilha sonora de nossas vidas. Extremismos como o caso do jogador que apareceu no Guarani de Campinas com o nome da banda são exemplos disso. Sim, o baianão se chamava Creedence Clearwater! De todo modo, o CCR é um patrimônio musical da humanidade, que eu alinho com certeza aos Beatles, Hendrix, Ramones e Mutantes, entre outros.

Aí hoje eu leio mais uma matéria sobre Nirvana. Ainda tentando me convencer de que o trio de Seattle fora algo revolucionário. Será? Pra mim não dá nem comparar com os supracitados...

05 maio 2006

Pelo Corinthians, com muito amor, até o fim!




A tragédia acontecida nessa última quinta-feira no estádio do Pacaembú é uma daquelas coisas inexplicáveis. Jogo na mão e o Corinthians não conseguiu garantir sua classificação na Libertadores, frustrando mais uma vez a Fiel torcida que compareceu em massa e fez uma das mais belas festas já vistas.

O que é totalmente explicável, no entanto, é a revolta da torcida. Após aquele terceiro gol, todas as desconfianças sobre um time, que mesmo contando com investimentos milionários e não sendo uma maravilha em campo, se canalizaram num ato irracional e explosivo. Mas a Fiel é isso. É explosão, é irracional quando se mexe com uma coisa chamada amor incondicional. Para um corinthiano, mexer com o Corinthians é pior do que mexer com o próprio corinthiano. E, convenhamos, aqueles safados que estavam em campo ontem parecem não saber o que isso significa.

Aí vemos esses programas esportivos do horário do almoço na TV, com um bando de jornalistas dando opinião sobre uma coisa que não sabem. Chamam os torcedores de bandidos, mas nunca pisaram num estádio, apesar de se julgarem "especializados" em futebol. Vêm com um papo de que "é só um jogo de futebol". Para as negas deles! É bandido alguém que dá um duro pra conseguir ingresso, vai pro jogo e se depara com o fim das barracas de pernil (obrigado, José Serra e Kassab), enfrenta a truculência da PM já na entrada e ainda não vê seu time respeitado por aqueles que recebem salários obscenos para jogar?

A minha primeira vontade quando vi aquela massa indo para cima do alambrado foi a de me juntar a ela. Mas logo pensei nas coisas que tinha a perder e me segurei, torcendo para aqueles guerreiros que foram defender não só a própria paixão, mas a de milhões de corinthianos revoltados com o que viram. Lá do meu lugar, quieto e tentando acalmar as crianças, mulheres e até idosos, via também uma polícia despreparada jogando bombas de gás e efeito moral sem o menor critério, talvez tentando descontar na Fiel o ódio causado pela sua má remuneração. Só que aí, é válida a violência da PM, que já vai aos estádios premeditando descer a borracha ao invés de proteger o cidadão.

Para eles e para a opinião média, somos todos bandidos. Escuto também o papinho das "famílias que não podem mais ir no jogo". Podem sim. Mas que vão de numerada. Arquibancada é lugar para esses guerreiros que estarão domingo em Rio Preto no próximo jogo. Digo por mim: vou ao estádio desde os 12 anos. Nunca me meti em briga (pelo contrário, separei várias) e o maior perigo desde essa época era a truculência da polícia.

Quanto ao time, não adianta começar o caça às bruxas agora. É lógico que gente como Ricardinho, Roger e Gustavo Nery deve sair ainda ontem. Mas temos um Brasileiro pela frente. Tudo isso foi resultado de uma série de erros. A desorganização interna se refletiu em campo. Um iraniano que vem lavar dinheiro no Brasil e é tratado por esses mesmos torcedores-família como ídolo, um presidente omisso que se enriquece ano após ano às custas do Corinthians, um conselho vendido e conivente, tudo isso mais uma vez vem à tona na forma de mais uma derrota inaceitável. A imprensa, no entanto, se põe a culpar a torcida. Só que a torcida é quem estará lá para sempre. É ela que realmente se preocupa com o Corinthians.

Somos todos sofredores, isso sim. Mas nunca deixaremos de apoiar o Sport Club Corinthians Paulista, na vitória ou na derrota. A alcunha de Fiel não é por acaso. E ser corinthiano é tão inexplicável quanto a derrota dessa última quinta-feira.