17 dezembro 2012
Vencedor de demandas
Em 1910, o povo resolveu revolucionar o futebol e se emancipar do status quo. Diziam que o esporte não era coisa para pobre, operário e negros. Pois a classe trabalhadora se juntou a pequenos comerciantes e migrantes e imigrantes recém chegados à capital paulista para concretizar um sonho: nascia o Sport Club Corinthians Paulista. Em seus primeiros anos, o Corinthians era relegado pela força dominante do ludopédico, e os golpes foram recorrentes para tentar afastá-lo das disputas mais importantes. Não adiantou. Podem ter fundado e refundado ligas e associações, mas o único filho legítimo da várzea lutou e reverteu as vilanias.
Nos anos 1940, quando o Estado Novo getulista se viu obrigado a tomar lado durante a II Guerra, um emergente golpista quis mostrar suas asas e tomar nosso patrimônio. O Corinthians, que já se fortalecera em 20 e 30, se consolidando como gigante no futebol brasileiro, foi ameaçado com uma intervenção do poder público. A corinthianada, sabida e calejada, fez manobras habilidosas e freou o ímpeto golpista daquela gente nojenta e safada que vive de penduricalhos.
Dez anos se passaram e os resultados dessa tentativa frutrada de golpe se viram em campo: o Corinthians sofria e não dava a sua Torcida a alegria de um título. Começaram campanha ferrenha contra nossa imagem para, tolos, tentarem nos diminuir. Entrou em cena a Vila Maria Zélia e, de lá, surgiu o maior time que o futebol já viu. Ganhamos tudo, inclusive a tal "projeção internacional" que só viria a ser pauta 40 anos depois. Nunca a bola foi tão bem tratada como nos tempos da Santíssima Trindade, composta por Cláudio, Luizinho e Baltazar.
Tivemos, então, o jejum. E, apesar dos 23 anos sem conquistas, a Fiel revolucionou os paradigmas da arquibancada. Como massa em repouso, só fez crescer, estabelecendo uma referência que perdura até hoje como, segundo previu Menotti del Picchia no começo do século XX, "um fenômeno sociológico a ser estudado em profundidade". Surgiram os Gaviões. Fizeram a Invasão ao Rio de Janeiro. E veio 1977.
Ano sim, ano não, o Corinthians passou a ser campeão.Mais ainda, o clube disse a um Brasil sob ditadura militar que era preciso democracia. A Democracia Corinthiana, aquela que retomou os ideais inclusivos e participativos dos ancestrais de 1910. Ao invés de apoio, seus articuladores receberam pecha de baderneiros, bêbados e drogados. O tempo, porém, soube inteligentemente mostrar o que tudo aquilo significou.
Aí, os raivosos inventaram de falar que o Corinthians era um time regional, tratando pejorativamente o maior campeão do Paulistão, apesar dos 23 anos de seca. Não durou muito tempo o discurso, já que em 1990, no Salão Para Festas Corinthianas, um grupo de trabalhadores da bola levantou o caneco do Brasileirão. Nas ruas, festa jamais vista por todo o país, e as falácias contra o Time do Povo cada vez mais ralas e sem consistência.
Quase que imediatamente, a resposta dos fígados opilados veio por meio de um torneio continental que, até então, era tratado com tanta importância que os times brasileiros mandavam seu elenco reserva para a disputa. Virou a "obsessão". Tanta obsessão que, ainda que tenhamos conquistado o mundo em 2000, diziam que esse campeonato homologado pela federação internacional de futebol não valia. Só porque eles queriam.
Eis que chega 2012, ano em que morreram todas as piadas. Qualquer tentativa de reescrever a história se vê derrotada com a glória dos títulos que o Corinthians ganhou neste ano. Não pela grife ou pelo status, mas como a prova inconteste de que o Todo-Poderoso é, tal qual seu São Jorge padroeiro, um vencedor de demandas. Como dizia mestre Lourenço Diaféria, autor da bíblia corinthianista, "o Corinthians busca os títulos para dá-los ao povo, como forma de carinho, como a imaginária corda mi do cavaquinho de Adoniran Barbosa".
Nesses mais de cem anos de história, a lição é essa: inventem um desafio que o Corinthians, empurrado pela sua torcida, vai derrubar. Somos uma congregação que luta, que enfrenta e que vence. Somos uma família espalhada pelo mundo. Somos o Corinthians. E isso nos basta.
VIVA O CORINTHIANS! OBRIGADO, CORINTHIANS, POR ME ESCOLHER!
04 dezembro 2012
Que saudades, Doutor!
Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
E aí, Doutor? Já faz um ano que você partiu, naquela tarde bonita de domingo, em que o Corinthians ganhou seu quinto Campeonato Brasileiro. Um dia de sentimentos contraditórios, com a dor ardida da sua perda e a alegria incontrolável que todo título do Timão proporciona. E, depois desse um ano, te digo: como você faz falta.
Teus comentários ácidos, nem sempre muito bem compreendidos. Tua luta constante em manter vivos o senso crítico e o ímpeto mobilizador da Fiel que tanto te amou e que tanto fez você compreender o significado do que é ser Corinthians. Justo você, que era o último contestador de amplo alcance no combate à alienação cada vez mais nociva que ronda o Parque São Jorge, teve de ir?
Ah, às favas com a tristeza. Eu quero mesmo é falar das boas lembranças. Não me canso de ver teus jogos maravilhosos, o talento incomparável com a redonda nos pés e, principalmente, teu jeito de encarar a vida. Lições para sempre, Doutor. Ainda que você não lembre, pude dividir a mesa contigo em duas oportunidades naquele bar do Serginho Leite (o bardo deve estar aí do teu lado agora, na carraspana), onde ele servia o chopp Antarctica de Ribeirão. Era teu refúgio aqui na capital. Jamais esquecerei da noite em que você e o Wladimir contaram histórias incríveis, sempre com o humor e a insensatez habituais e necessários.
Pode não parecer, mas há muitos aqui levando adiante o teu legado. Ainda que lá no Coringão inventem conversas fiadas para desvirtuar a Democracia tão bonita que você ajudou a construir, que tenham transformado o Bar da Torre numa escrotice que serve lanche natural e que a elitização seja regra e justificativa para tudo que se relaciona ao futebol, habemus resistência! Culpa tua, ressalte-se.
Você deve ter visto daí a festa da Fiel no aeroporto antes do Corinthians embarcar para mais uma guerra. Um furdunço daqueles que você ia gostar, não? O corinthianismo, Doutor, não morre nunca! Portanto, neste 04 de dezembro em que bate uma saudade danada na gente, bebamos a sua obra. Dê aí um abraço em cada um dos nossos ancestrais, agora que você faz parte dessa congregação sagrada. Sob a benção de São Jorge, ilumine nossas mentes e nossos corações.
Para você, Sócrates Brasileiro e Corinthiano, o eterno e sincero amor que só um corinthiano pode oferecer.
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