01 outubro 2007

Certo pelo errado


Mês passado o tema voltou à tona e é certo que em 2008 a coisa já passará a valer oficialmente. É a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa. Sob o pretexto de uniformizar e simplificar a língua, a iniciativa, a meu ver, irá trazer grandes problemas para uma massa já iletrada e preguiçosa.

Primeiro de tudo: isso está a serviço da globalização, processo definido pelo sistema capitalista para nivelar (por baixo) culturas totalmente diversas e impor sobre elas o padrão neoliberal, consumista e predatório. Segundo: as mudanças propostas, em sua maioria, vão contra a evolução natural pela qual todo idioma passa. Explico.

Geralmente, justifica-se a reestruturação baseada no uso cotidiano - e cultural, mais importante - da língua. O "você", por exemplo, derivou de contrações de "vossa mercê" e "vosmecê", e o mais natural seria uma reforma que considerasse o "ocê" e o "cê". Porém, no caso em questão, querem acabar com coisas como o trema, o acento diferencial e o acento em ditongos abertos de paroxítonas. Não há nada que justifique essa mudança, a não ser o uso errado da língua.

Imaginemos, por exemplo, o caso de "para". Se eu disser "Um carro para José" sob as novas regras, poderemos ter uma confusão de significado. O carro seria destinado a José ou ele teria sido parado pelo veículo? A fala, é óbvio, pouco será influenciada. Mas a escrita, fator determinante de sobrevivência da língua e identificador cultural da mesma, será mutilada. Tirando a parte positiva, que inclui as letras w, y e k no alfabeto e exclui alguns provincianismos do português de Portugal, a tentativa é de juntar todos no mesmo balaio. E sabemos que, só no Brasil, são falados dezenas de idiomas.

A impressão é que isso foi definido por aquilo que muitos chamam de miguxês. "Vc", "tb" e outras expressões auto-explicativas até passam. Porém, há coisas na rede mundial que são ininteligíveis. É só pegar scrapbooks da molecada no Orkut para se ter uma idéia do que estou falando...

Seguindo minha mania de achar que tudo é uma conspiração, acredito fielmente que isso se trata de um emburrecimento progressivo do povo. A cadeia de raciocínio disso tudo termina - todos sabem - no poder de mobilização e compreensão da realidade cada vez menor da chamada massa de manobra. Ponto para a manipuladora mídia (a Falha de S.Paulo, por exemplo, deve estar aos pulos de alegria). Perde a cultura popular, que se faz refém (com acento!) cada vez mais dessa porcaria que atende pelo nome de globalização.

De minha parte, resistirei. Escrevendo sempre do jeito que aprendi ser certo, para manter o pouco de dignidade que ainda resta ao meu povo...


3 comentários:

evaodocaminhao disse...

meus alunos vão adorar!

voxe vai ixcrever axim aki no blog?

Rodrigo Barneschi disse...

Japonês,

Tenho, pois, dois comentários acerca de tão bela explanação. A eles:

1. Também sou contra, mas não por essas teorias conspiratórias que o perseguem. Sou contra porque a Língua é bonita como é, e porque não dá para aceitar coisas como o fim do acento diferencial. O exemplo de "pára/para" é suficiente para explicitar o que eu penso.

2. A linguagem da internet é uma praga. E muito me preocupa o nível dessa geração mais jovem, que já aprende a escrever no computador.

Abraços

Craudio disse...

Evinha: axuxíq! Bom, se a Jénifi tem q escrever o nome, acho mais fácil saber o português ahhahahahahahha...

Barneschi: o capitalismo é o mal do mundo. E o problema nem é a linguagem da internet em si. É tratarem essa linguagem como certa. A molecada tá cada vez mais americanizada.

E só pra complementar, semana passada saiu uma pesquisa dizendo que metade das línguas do mundo irão sumir em pouco tempo. Justamente pela falta de preservação da escrita...