29 novembro 2013

Pacaembu, pedaço de mim


Chegamos ao fim de uma era. Amanhã, no dia 30 de novembro de 2013, o Estádio Municipal do Pacaembu deixará de ser a casa oficial do Corinthians. É representativo o adeus, já que ele simboliza mais que a simples mudança de endereço. Trata-se da pedra fundamental para deixarmos de ser o Time do Povo outrora vislumbrado pelos nossos ancestrais e iniciarmos vida nova como um empreendimento com objetivos meramente financeiros, sobrepostos ao caráter de mobilização social, política, cultural e esportiva que nortearam nossa fundação.

Indício mais gritante desse direcionamento é o pouco caso com que a data está sendo tratada pela diretoria e, principalmente, pela Fiel Torcida. Preferem homenagear um dos responsáveis pela crise ideológica disseminada no Parque São Jorge a festejar e agradecer tudo aquilo que o Pacaembu nos proporcionou. O corinthiano, sempre grato aos seus heróis, hoje desdenha um dos seus maiores aliados.

Foi no Pacaembu onde experimentei algumas das principais emoções da minha vida. Sorri, comemorei, chorei, me decepcionei, fiquei com raiva, apanhei, apartei briga, fiquei rouco, gritei mil vezes Corinthians. Ali, naquele cimento da sagrada arquibancada, forjei minha cidadania e minha ética, aprendendo com os mais velhos e tentando passar aos mais novos algo que só vejo em estádios: a irmandade. Quantas não foram as lições desde o dia 07 de abril de 1993, quando pisei pela primeira vez no Municipal e percebi que era ali onde eu precisava estar durante toda minha vida. (A gente é ingênuo na adolescência)

E a festa, meus caros? As bandeiras, rojões, papéis higiênicos, aquela fumaça de cigarro e maconha, cenário perfeito. Os canalhas que comandam o futebol podem tentar acabar com o esporte, mas não com a memória. Toda vez que atravesso o Portão Principal, lá estão a minha esquerda os Gaviões da Fiel. Mais ao centro (não há as malditas cadeiras laranjas nessa minha digressão), abaixo das cabines de rádio do interior, o Ribeiro faz seu corre com a Explosão Coração Corinthiano. Acho que era ali onde Dona Elisa costumava ficar, e com certeza era dali que o Seu Tantan comandava o furdunço. Caminhando em direção ao Tobogã, está a Camisa 12 que, aliás, era recheada de comunista, isso eu vim saber depois. Quase lá no fim da ferradura da arquibancada, eis os Loucos da Fiel. Acima do Principal, a recente Pavilhão 9 começa a tomar corpo. À direita, a lendária e folclórica Torcida da Curvinha divide espaço com a Chopp. Era pano de Corinthians para todo lado. E quando as baterias desciam e faziam o aquecimento? E as assembléias no final do jogo? E o Alambrado, o importantíssimo alambrado? E a churrascaria na descida da escadaria (sempre quis ter dinheiro para comer lá antes do jogo)? E quando vendia cerveja? E os vendedores de amendoim? Lembranças, grandes lembranças!

Cada corinthiano sabe de cor e salteado o seu próprio Pacaembu e é esse significativo laço afetivo que será cortado no próximo sábado. São milhões de histórias que se cruzam na Praça Charles Miller para uma gelada, que se abraçam na hora do gol, que sofrem com as derrotas doídas e que, acima de tudo, tornam o Corinthians cada vez maior e melhor. Me pego imaginando o Pacaembu do vô Venâncio, que saía lá do interior e viajava 12 horas de trem para ver o Timão. Bóia-fria com uma dúzia de filhos para sustentar, ele fazia seu sacrifício e sempre conseguia separar o caraminguá do dever corinthianista.

Agora, fecha-se o ciclo para os vôs Venâncios, porque Itaquera não terá esse "público-alvo". O Corinthians embarca no sonho da classe média de ter seu imóvel em troca de uma dívida que consumirá o resto de nossas vidas, só para ficar bonito com a vizinhança. A visita não vai reparar na bagunça e todos permanecerão sentadinhos e comportados em seus lugares. Tudo pelo simples ter, pela posse que, no final, não vale nada.

O velho Pacaembu é um estorvo para dirigentes, imprensa e poder público. Chama muito o povo, iguala muito o povo, e o povo junto e igualado é perigoso se não for domesticado. Assim, o destino do Pacaembu já está reservado e será, provavelmente, o mesmo de todos que ainda prezamos por alguma dignidade no futebol. É por isso que, no sábado, sairei do Estádio Municipal com um vazio no peito que nunca mais irei preencher. 

Deste humilde filho que à casa promete tornar fica o agradecimento. Obrigado, Pacaembu! Você me trouxe humanidade, encorpou a minha alma, me deu amigos e serviu até para eu afogar mágoas que nada tinham a ver contigo. Você é um gigante. Inesquecível Pacaembu! Amo você, Pacaembu! Mesmo que daqui para frente não nos vejamos com freqüência, você estará para sempre aqui dentro.

É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! 

19 novembro 2013

Onde o que eu sou se afoga


Cá estou, debaixo da sua asa, onde sempre deixo de fingir aquilo que acho ser. É inspiradora sua tempestade nesse meu mar sempre de calmaria. Me move, te instiga, e assim nos completamos. Você, que motiva tanta coisa boa em mim e aquece meu peito toda vez que ele teima em apagar, porque eu acho sim que sou meio sem sentimentos. 

E também acho que os astros são foda. Tenho que achar. Senão, o que explicaria caminhos tão próximos que correram o risco de nunca se cruzar, mas que se cruzaram e viraram uma avenidona pro teu caminhão desfilar na minha parada. Seria uma perda irreparável. E acho, aliás, tenho certeza, que não há coisa melhor em mim que você.

É em seu dia, mas não só nele, que eu venho te lembrar de novo - você esquece muito, duas da tarde tem remédio! - todo esse amor e combustível da sua presença em mim. É isso. Cérebro e coração, a dupla perfeita nos filmes, nos seriados, nos livros, na vida. Assim vamos, um aparando o outro, igual quando saímos dos bares. 

Amo. Sou fã irrecuperável. 

"Você é meu caminho
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você


Meu bálsamo benigno
Meu signo, meu guru
Porto seguro onde eu voltei


Meu mar e minha mãe
Meu medo e meu champagne
Visão do espaço sideral


Onde o que eu sou se afoga
Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga
Paixão e carnaval


Meu zen, meu bem, meu mal"