29 novembro 2010

Só termina quando acaba


Após a penúltima rodada do modorrento campeonato de pontos corridos, a Fiel Torcida saía do Pacaembu com um misto de ansiedade e apreensão. Há uma inexplicável aura que, vez ou outra, paira sobre o Templo Sagrado e nos dá a certeza das coisas favoráveis na jornada. Tem vezes que o indício é a Lua de São Jorge, por outras a vibração comovente da massa alvinegra. Já no último domingo, aliou-se à ausência desse conjunto de sensações a obviedade dos resultados que figuram na tabela. Assim, enquanto me dirigia ao lote habitual na arquibancada, pensava apenas na luta árdua que iríamos ter contra o vasco.

Por outro lado, e mesmo com a tarefa do próximo final de semana sendo dificílima, um dos pilares de sustentação do Corinthians foi erguido a partir do imponderável. De maneira que seremos 30 milhões no Planalto Central, corpo presente ou no espírito, trabalhando junto do Santo Guerreiro para que a supracitada aura positiva tome conta do universo e tudo conspire a nosso favor.

Minha fé maior mora no fato de 2010 ser o ano do povo. Tivemos vitórias em âmbitos diversos da sociedade, todas elas depois de muitos percalços, campanhas difamatórias e distorções da realidade. No mundo da bola, no entanto, nenhuma glória - ao mesmo tempo, a destruição de estádios lendários pelo país foram derrotas amargas. Portanto, nada me tira da cabeça que está mais do que na hora do povo celebrar em campo. E o Time do Povo somos o Corinthians.

PELO CORINTHIANS, COM MUITO AMOR, ATÉ O FIM!

27 novembro 2010

Corinthians! Corinthians!


Amanhã é dia! Raça e sangue no olho. São Jorge está conosco e o Corinthians tem que ser Corinthians.

Um salve aos ancestrais. Um salve a cada corinthiano que já se foi. Estaremos todos no Templo Sagrado levando a voz de cada um de vocês para empurrar o time à vitória.

VAI CORINTHIANS!



26 novembro 2010

Só uma pergunta


Eu não resisto. E também não me perdôo por ter esquecido desse detalhe - aliás, não vi isso em nenhum dos blogues corinthianos que leio. Fato é que na semana seguinte ao jogo contra as marias, a artilharia mirou o Corinthians e não cessou desde então. Usaram palavras como "dignidade", "moralidade", "limpeza" e que tais como contraposição ao Time do Povo. Falaram que o "futebol estava deixando de ser coisa pra homem"...

Deixo, então, apenas uma pergunta: no viril esporte bradado, isso seria falta?



De resto, domingo é dia de levar sal grosso no Templo Sagrado para dar uma descarregada (como bem lembrou o Filipe) e gritar pelo Timão. O resto, deixemos por conta de São Jorge, que ele sempre olha por nós.

VAI CORINTHIANS!

25 novembro 2010

Menestréis da memória


Tente encontrar um brasileiro que não tenha na memória pelo menos cinco músicas de Michael Sullivan e Paulo Massadas, essa que é uma das mais geniais dobradas de compositores do país. A aparente ousadia da afirmação se baseia tão somente na incrível lavagem cerebral que esses caras fizeram e ainda fazem há décadas, educando e formando culturalmente gerações e gerações.

Bate-pronto, os chatos de plantão dirão que "eles contaram com o jabá das grandes gravadoras". Bons tempos em que jabá era tão bem aplicado e bancava artistas de real talento, e não essas bostas adolescentes coloridas atuais. Para comprovar que há profunda diferença qualitativa no caixa 2 fonográfico de antigamente - ao menos, no seu propósito -, tasco um desafio. Recentemente, uma das bandas de maior evidência no quesito paga-que-eu-te-toco-até-enjoar era o tal Charlie Brown Jr. Abertura de Malhação, música em novela, cinco clipes diferentes rodando a MTV, freqüentadores assíduos das falseadas paradas de sucesso das FMs. Voltemos à assertiva do começo do texto e tente recordar cinco porcarias da trupe liderada pelo quarentão que não quer deixar de ser teen. Então...

Seguindo essa linha, vou deixar agora uma listagem que aparece na coletânea "Amor Eterno", que compilou alguns sucessos da dupla. Ei-la: 1) Deslizes - Fagner ; 2) Um Dia de Domingo - Gal Costa e Tim Maia; 3) Nem Um Toque - Rosana; 4) Retratos e Canções - Sandra de Sá; 5) Amanhã Talvez - Joanna; 6) Dê Uma Chance ao Coração - Joanna / Fafá de Belém / Sandra de Sá / Fagner / Alcione / José Augusto / Michael Sullivan Paulo Massadas / Rosana / Patrícia / Roupa Nova; 7) Pra Recomeçar - Paulo Massadas / Michael Sullivan / Sandra de Sá; 8) Leva - Tim Maia; 9) Te Cuida Meu - Patrícia (a Marx); - 10) Nem Morta - Alcione; 11) Manequim - Ney Matogrosso; 12) Coisas Mais Loucas - Fafá de Belém. Independentemente de gosto musical, só pelo nome já dá para reconhecer 80% das faixas. Colocando o disco na agulha, o índice tende a subir, sendo que na maior parte dos casos é 100% de "ah, essa eu sei cantar pelo menos o refrão".

Ainda constam no catálogo Sullivan/Massadas das canções que moram no sub, no super, no médio e em qualquer tipo de consciente "Amor Cigano" (Fafá de Belém), "Amor Perfeito" (Roberto Carlos), "Whisky a go-go" e "Show de Rock 'n Roll" (Roupa Nova), "Estranha Loucura" (Alcione), "Me dê Motivo" (Tim Maia), "Festa do Amor" (Patrícia Marx), milhares da Xuxa, inclusive "Chocolate" e "Parabéns da Xuxa", milhares do Trem da Alegria, "Joga Fora" (Sandra de Sá), "Fui Eu" e "Amar Você" (José Augusto), "Talismã" (Leandro e Leonardo) e "Transas e Caretas" (Trio Los Angeles), entre outras.

Apesar de eu ter crescido sob o bombardeio das músicas infantis, aquela que mais marcou e que me faz sentir o cheiro da tenra idade é "Um Dia de Domingo". É nítida a imagem daquela manhã nublada em que fomos meu pai, minha mãe, minha irmã e eu até um restaurante na praia do Perequê, no Guarujá. Comemos nababescamente e ficamos, já com a trégua da chuva, sentados num banco assistindo à ressaca devorar a orla. "Um dia..." tocou três vezes durante a viagem que, se não teve nada teve de especial, vem sempre à tona quando os nomes Sullivan e Massadas saem da boca de seu povo - hoje, infelizmente, de maneira quase acidental.

22 novembro 2010

Pitacos e um comunicado


- Fim de semana na beira do mar com a preta para recarregar as energias sempre é bom.

- Simplesmente lamentável a existência de técnicos gaúchos. Lembram em abril, quando o Corinthians saiu da Libertadores? Precisávamos fazer um gol e o cuzão que estava no banco de reservas colocou um volante em campo. No último domingo, um outro cuzão vindo da mesma escola de técnicos cuzões fez a MESMA cagada. O resultado, como todos viram, foi trágico...

- Aliás, tinha gente que já decretava o Corinthians campeão e que o Brasileirão, por conta disso, estava comprado. O silêncio impera nessa segunda-feira.

- Fora Gordo migué! Fora Tite cuzão! Fora Sanchez!

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Desopilado o fígado, aproveito para fazer um comunicado. Todos sabem que eu, ao lado de alguns amigos corinthianos e palmeirenses, organizamos o famigerado Jogo das Barricas. Apesar de toda correria, o trabalho acabava compensando porque, no fim das contas, era um momento em que reuníamos uma rivalidade a meu ver respeitosa para tomar cerveja, comer um churrasco e falar merda. Porém, desde quando a dor de cotovelo ficou forte pelos lados das Perdizes, certas coisas começaram a aparecer aqui e ali e eu avisei que minha postura iria mudar um pouco.

Se as punhaladas citadas anteriormente já não eram bastante, li algo na última semana que, juro, tiveram digestão demorada. Foram elas também as responsáveis por me fazer desistir da organização do Jogo das Barricas daqui para frente, pois não vejo mais razão disso continuar. Já até tratei com o Seo Cruz, um dos entusiastas do troço, que se ele quiser manter o evento darei meu apoio, mas não movo uma palha. Muito daquela relação respeitosa que eu acreditava existir se tratava de mera comodidade social.

A causa da minha indisposição estomacal está no blogue do Barneschi e foi feito pelo Luigi no dia 16 de novembro. Acompanhem:

"Concordo com o Parmera! bambi é sem noção, não entende nada e torce por torcer... gambá, não! gambá é filho da puta mesmo! Não presta, sempre disse e continuo repetindo! E o jogo das barricas demonstra isso: os caras tomaram um couro no ano passado e esse ano apelaram chamando caras que ninguém nunca viu e que jogam sempre juntos na varzea! Os caras que organizaram ficaram do lado de fora bebendo e falando merda sobre a raça imunda deles...

Pô, se é pra organizar e ficar olhando os outros jogarem, eu já tenho o PALMEIRAS que ganha sempre desses lixos, não preciso inventar nada..."

Diante dessas palavras, só tenho a propor o seguinte: aqueles que, como o Luigi, acreditam na minha falta de caráter e que se sentiram prejudicados no Jogo das Barricas deste 2010, favor entrar em contato comigo via e-mail (cramone99@gmail.com), passando o número da conta para que eu deposite os R$20 cobrados para custear o aluguel do campo, as carnes e a cerveja.

Repito que não vou ficar servindo de escada para aspirações pessoais de ninguém. E assim a gente segue filtrando a alma...

19 novembro 2010

Preta, pretinha


Minha preta é minha ídala, porque você sabe que vai idolatrar alguém quando toma um tapa no peito logo quando vê. Minha preta é minha mestra, minha prô preferida que eu nunca tive, porque ela me ensina ainda que eu, teimoso ou burro, insista em não aprender quase nada. Ela é mestra minha e de meio mundo, uma alma valiosa, uma missionária, uma guerreira que poucos têm a sorte de estar ao lado. Minha preta é minha calma nos momentos em que preciso estancar essa afobação neural meio confusa que vira e mexe toma conta de mim. Minha preta é meu catalisador nos momentos em que tenho de acordar para a vida e tomar um rumo. Minha preta esteve comigo nos melhores e nos piores dias, como o feijão é do arroz. Minha preta entende como eu das loiras que vêm em grades e são postas à mesa. Minha preta faz o troço pegar fogo. Minha preta dá cor ao meu cinza. Minha preta é quem eu amo e quem manda no lote cardíaco desse amontoado que me forma. Por isso, minha preta merece tudo que eu posso e que não posso dar (mas gostaria) nesse dia que é só da minha preta.

Parabéns, pretinha! Amo-te!




18 novembro 2010

Filtro na alma


Eu disse que a coisa seria braba... Desde o último sábado, enxurraram minha timeline no Twitter alguns papinhos bestas, todos eles utilizando os abutres como porta-vozes e com a finalidade de nos desconcentrar. Tratei, inclusive, de fazer a comparação mais que aplicável com o clima bélico que se instalou na eleição presidencial recente, cujo lado positivo foi o de desmascarar certas posturas e nos servir como filtros para a alma.

Não previa, porém, o algo mais que estaria por vir. Percebi uma absurda inquisição de caráter, saindo de onde eu menos esperava. Doeu no peito ver alguns que considero meus irmãos deixarem que diferenças clubísticas habitassem áreas até pouco tempo atrás totalmente desertas.

Por isso, e tentando sempre manter minha coerência textual, faço esse desabafo como forma de alerta à Fiel, além de comunicar que as coisas a partir de agora vão mudar um pouco por aqui. Destaco que sim, o futebol é coisa séria. No entanto, mais sérias são as relações que eu achava ter construído ao longo de anos, umas mais longevas, outras mais recentes, mas todas verdadeiras. Pena que nem todos tenham me entendido dessa maneira.

A quem hoje tenta me colocar contra a parede por motivação absurda, não conte mais comigo para certos engajamentos que antes, mesmo extrapolando algumas regras particulares de conduta, eu topava sem pestanejar por pura e dedicada fraternidade - para mim, é assim que funciona. Aos demais, corinthianos de causa e fé, o modus operandi até o fim do ano será esse e não podemos deixar que nos usem de escada para estancar frustrações alheias. Pessoalmente, cutucaram uma ferida que vai ser duro de fechar...

PELO CORINTHIANS, COM MUITO AMOR, ATÉ O FIM!

16 novembro 2010

Concentração e foco


São Jorge se fez presente mais uma vez e a grande vitória do sábado durou até o domingo, quando tivemos resultados bastante favoráveis ao Corinthians. Agora, só dependemos de nossas forças para conseguir a consagração. Lembro, porém, que ela ainda não veio. Aliás, só virá às 19h e poucos minutos do dia 05 de dezembro. Até lá, Fiel Torcida, concentração e foco. Deixemos o bafafá, o bate-boca e as teorias de conspiração para os outros, porque ainda não ganhamos nada.

Não caiam nas provocações baratas de quem passa a vida a desmerecer nossas conquistas e nossa bela e gloriosa história centenária, algo de causar inveja. Enquanto cotovelos ardem aqui e ali, o corinthiano de fé e devoção precisa guardar suas energias para as três batalhas que estão no caminho. O chilique, acreditem, terá efeito. Faltas não serão marcadas a nosso favor, impedimentos inexistentes de nossos atacantes serão apontados em quantidades indecentes e esqueçam qualquer penalidade máxima para o Timão. Teremos que jogar contra os adversários, o apito e a zica, mais do que nunca.

Ou você não estava careca de saber que, pra essa escumalha, a gente sempre é o ladrão? Igual o Lula, o Fidel, o Che, a Dilma, o samba, o povo...

PELO CORINTHIANS, COM MUITO AMOR, ATÉ O FIM!


11 novembro 2010

Chuva de imbecilidades


Quando decretamos a data de óbito do futebol brasileiro para 2014, não foi por acaso. Quem vive a rotina das arquibancadas detectou, fácil e quase que instintivamente, a chuva de imbecilidades que viria depois da confirmação da Copa do Mundo no país. E toda imbecilidade tem seu imbecil perfeito para comprová-la: de torcedores ocasionais a promotores públicos oportunistas, de políticos sem conhecimento de causa a gente sem alma. As coisas, assim, tomaram o rumo das trevas.

Hoje mesmo estava eu lendo um belo texto de Felipe Carrilho publicado no blogue
Escrevinhador, do competente repórter e corinthianíssimo Rodrigo Vianna. Carrilho trata sobre a ANT, uma associação cuja fundação foi motivada pela triste desfiguração que abateu o Maracanã por conta do já citado torneio entre seleções. Tanto a entidade quanto Carrilho discorrem sobre os males do dito futebol moderno, cada vez mais vil e devastador. Mas apesar de todo o brilhantismo desse combate fundamental à babaquice, o que motivou este post foi um comentário que tentava contemporizar a favor dos cretinos. Diz, lá pelas tantas, um tal de Luís Eduardo: "Mas acho que o fim da geral foi um avanço. É preciso pensar no conforto de todos os torcedores, mesmo que alguns deles queiram abrir mão disso. Não é pelo fato de ficar sentado que ele vai participar menos do espetáculo". Atentem às passagens "fim da geral foi um avanço", "pensar no conforto" e "ficar sentado" e, caso você tenha passado por elas sem indigestão, FORA DO MEU IGLU!

A mesma inversão de valores aparece no portal Terra, com a notícia de um bafafá no jogo de quarta-feira da porcada. Segundo consta,
"Muitos torcedores que foram ao Pacaembu não puderam desfrutar com tranquilidade (...) um jogo de grande porte foi alvo de uma inexplicável falta de organização, que envolveu, desta vez, cerca de 2 mil consumidores. O problema foi registrado com os palmeirenses que compraram ingressos pela internet e tinham direito a cadeiras de alto padrão". Desfrutar com tranqüilidade??? Envolveu consumidores??? Cadeiras de alto padrão??? Do que estamos falando, futebol ou ópera no Municipal?

O que dizer, então, das discussões sem cabimento e cheias de falsos moralismos sobre quem entrega ou não entrega jogo para prejudicar rivais nesse fim de Brasileirão. Culpem tão somente o modelo de disputa, o modorrento campeonato de pontos corridos, que valoriza equipes desinteressadas e é vendido aos incautos como uma fórmula "justa" e "organizada". Aliás, tivemos nos últimos dias a divulgação da punição do
Corinthians com a perda de um mando de jogo, motivada pela tentativa de agressão dos verdes a jornalistas esportivos. Haja vista um tribunal sendo mais importante que um meia habilidoso ou um centroavante nesse momento crucial do torneio, eu entendi o que querem dizer com justiça...

Estamos, portanto, à mercê do decreto e atualização nociva do Estatuto do Torcedor, esse código de mercantilização do esporte que premia aproveitadores e pulveriza direitos do torcedor de verdade. Corrijo-me: torcedor não. Lembrem-se de tudo o que foi colocado entre aspas até aqui. Nesses dias tenebrosos, somos todos clientes e nossa paixão é mera oferta do dia no supermercado. Modernização para mim é poder beber cerveja durante os jogos do
Coringão, ter um alambrado para poder me encostar e xingar o bandeirinha, pagar um preço justo no ingresso e poder deixar o carro na garagem porque o transporte público funciona e as partidas não começam em horários esdrúxulos e inviáveis. Futebol para mim é estar no meio do povo, e não ao lado de descompromissados que vão fazer uma baladinha nos templos sagrados da bola. Futebol é coisa séria!

Mais: O Esporte que vendeu a sua alma


01 novembro 2010

Meu dia na vitória do povo


São Paulo, 01 novembro de 2010.

Eram passadas 11 horas no relógio e eu ainda morgava na cama. Levantei por causa do aroma da feijoada que minha mãe preparava na cozinha. A desgraçada só vota em tucano; portanto, nada mais justo compensar essa lamentável postura fazendo um rango bacana. Desci para a cozinha e mandei dois belos pratos ao lado da Evinha, ambos ainda ressacados do dia anterior.

Por volta das 13h, saí de casa. Camiseta com o símbolo do glorioso PCdoB estampado no peito, dirigi-me até o local de votação. Os olhares de cumplicidade de muitos denunciavam que o povo havia embarcado definitivamente na #ondavermelha. Quase chorei pela primeira vez depois que apertei o 13 e confirmei meu voto. Contida a emoção, saí de lá e fomos para Guarulhos, onde a Eva ia votar. Ela, aliás, estava muito mais nervosa que eu. Há mais de década ela sofre na mão dos tucanos e, em especial, de Serra.

No caminho, o primeiro sinal positivo. Passou por mim um carro da Globo em altíssima velocidade na Marginal Tietê. Lá pelas tantas, o veículo global perde velocidade e fica janela a janela comigo. Para dar uma provocadinha, começo a bater no peito e mostrar o símbolo do glorioso para os golpistas, que me respondem com o dedo do meio. Qual o quê? Peguei uma câmera e pedi para o babaca repetir a infantilidade, não sem antes chamá-lo, aos berros, de golpista e ameaçar jogar naquela joça uma bolinha de papel. Os cuzões, obviamente, vazaram dali e eu desentupia um pouco minhas artérias...

Chegando em Guarulhos, a Eva, a Lila e o Lelê, todos de vermelho, vão lá confirmar o 13. À porta, vejo alguns panfletos mentirosos da campanha tucana espalhados no chão. Sinal de desespero, provavelmente. Voltamos à casa da Eva e por volta das 16h, me liga do Rio de Janeiro Edu Goldenberg. Já encharcado de Brahma e maracujá do Rio-Brasília, Edu me pergunta:

- Japonês, o que você tem a dizer sobre as eleições na tua terra, que deu vitória esmagadora ao Serra?

- Edu, como eu sempre digo, o que você esperava dessa raça de filho da puta? Hiroshima e Nagasaki foi pouco!

Lá pelas 18h, saímos em direção da Avenida Paulista. Sentamos no único bar aberto, em frente ao metrô Brigadeiro, e iniciamos os trabalhos. Eva e eu ansiosíssimos assistíamos à cobertura na TVzinha portátil. O ambiente era meio hostil, pois estávamos em ninho peessedebista, mas cada militante vermelho que passava por ali amenizava um pouco o nervosismo. Chega o Leco antes das 19h, quando saiu a primeira boca-de-urna e a parcial inicial de apuração. A certeza já era grande, mas precisávamos esperar o juiz apitar o fim do jogo.

Leco volta com Sarubbi às 20h, logo depois da confirmação das goleadas em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Estava consumada a vitória! Choro no colo da Evinha, enquanto patricinhas e playboys nas mesas ao lado mordiam os cotovelos. Ligo para o FH, ligo para o Seo Cruz e ligo para o Edu (o bêbado aqui esqueceu, mas falei também com o Leo Boechat), que exortava "mude para o Rio!". Todos eles grandes guerreiros nessa campanha, como fomos os mais de 55 milhões de brasileiros que escolhemos continuar engrandecendo a nação.

Quando os primeiros carros com bandeiras começam a atravessar a Paulista, a euforia é geral. Saúdo alguns deles e uma patricinha se manifesta. Em atitude típica de gente preconceituosa, fútil e golpista, ela solta um "filhodaputa", seguido do comentário "eu odeio essa vaca". Não me contive e comecei a berrar "viva o aborto!", "viva a terrorista!", "abaixo os golpistas de merda!". Um tucaninho tenta pagar de macho para jogar um charme à vagabunda e balbucia alguma bobagem contra meu partido. Chamei para a porrada e ele arregou. Foi meu segundo arroubo de necessária irracionalidade do dia.

O Sarubbi anuncia, depois de ler no Twitter: "festa de comemoração com Alceu Valença, Leci Brandão e que tais!". Por conta do ambiente pouco saudável e compatível com a ocasião, resolvemos sair de lá e ir para a frente do prédio da Gazeta, tal qual 2002. A conta, senhores: 45 reais! No caminho, encontro um catarinense que me viu com a camisa do glorioso e resolveu se agrupar, ainda meio cabreiro com a dúvida de existir ou não a festa. Cabreiros também estavam os ambulantes, que apareceram bem mais tarde para abastecer a alegria do povo. Sendo assim, fomos até os bares da Joaquim Eugênio de Lima, mas ali não havia um estabelecimento decente que vendesse latinhas a preço justo. A procura mal-sucedida, porém, rendeu. Encontrei Vandinho, dirigente do glorioso, ao lado da fantástica Leci Brandão e Thobias da Vai-Vai. Obviamente, caí em prantos de novo ao ver minha deputada, que horas depois iria cantar na comemoração.

De volta à Paulista, posicionei-me no canteiro central, saudando os carros de eleitores da Dilma e gritando "viva a democracia!" aos tucanos que, num misto de vergonha e empáfia, passavam com seus carros insulfilmados. Aliás, vale registrar a diferença fundamental: fossem eles os vencedores, apenas soltariam um risinho cínico de canto de boca. Nós, bêbados, sujos e que vivemos da Bolsa-Esmola do Lula, vamos às ruas para abraçar desconhecidos. Na derrota, são piores ainda. Torcem contra o Brasil, não reconhecem a democracia e extravasam seus piores sentimentos.

Muita gente me ligou, mas a porcaria do celular que normalmente não funciona resolveu morrer de vez. Muita gente chorou, mas o pranto era de alegria e satisfação. Muita gente bebeu até cair, porque merecem. Muita gente fez história, ao eleger a primeira mulher presidente. Foi uma jornada histórica e o ponto de partida para uma luta maior ainda que a enfrentada nos oito anos de Lula. Eles não se conformam, eles virão para cima com unhas e dentes. E nós resistiremos, até o fim.

VIVA O BRASIL! VIVA O POVO! DILMA NELES!