27 agosto 2015

Capitulando


Lá se vão 22 anos de arquibancada. Não é carteirada, é apenas questão de marcar cronologicamente que a percepção daqui não é achismo. Tal ponderação, aliás, reitera a gravidade do fato, uma vez que há muito mais gente com muito mais tempo nessa caminhada. Vi de tudo. Chorei de tudo. Comemorei demais. Senti no peito muitas amarguras, mas o Corinthians estava lá, em campo e no entorno, vivo. Havia o sangue correndo nas veias, havia o respeito com o povo corinthiano, que paga - como nunca - seu ingresso sem parar.

A noite de 26 de agosto de 2015 foi histórica. E nós devemos prestar atenção quando estamos fazendo parte dos marcos históricos, porque as lições e as oportunidades são únicas nesses momentos. A última quarta-feira foi quando mais clara e gritantemente se desrespeitou o Corinthians. Não falo do placar, altamente previsível, mas sim do abandono oficializado, da entrega de mão beijada do nosso clube a um novo modelo de funcionamento. O Corinthians que me ensinaram era corpo, alma, paixão e suor. O Corinthians que eu aprendi foi forjado no punho cerrado, no abraço fraterno e na vontade de brigar pelo ideal em comum. O Corinthians que nos dão hoje é individualista, cínico, excludente, babaca, omisso, medíocre, comum e, sobretudo, covarde.

Está, desde a presente data, instituído que o Corinthians foge da luta. Camuflam-se os canalhas com resultados momentâneos e com um discurso de pseudo-apoio - aquele que dizem ser incondicional - para nos alienar a consolidação diária do sonho de nossos ancestrais, cuja grande e única vitória era preservar e perpetuar a simples existência do Corinthians. Terceirizamos o Corinthians, deixando na mão de irresponsáveis ou de um cagalhão qualquer nossa sorte e nossa identidade. A cara do Corinthians é seu time em campo: assustado, impotente. E covarde.

Tiraram definitivamente a minha alegria de ver o Corinthians jogar. Se vou ao túmulo em Itaquera hoje, é por um misto de teimosia e um pouco de inércia. Minhas forças e minha paciência, no entanto, estão se esgotando. É triste perceber que estamos perto do fim. Estou capitulando e não sei se há um caminho de volta. Talvez se resolverem lutar de novo. Quando meu povo resolver assim, me avisem. Caso contrário, relego-me a ser apenas mais uma história como outras tantas que, depois de anos de dedicação, desaparecem como fumaça, perdida no vento.


* o texto vai em tom de desabafo e tristeza, sem revisões ou cuidados com a língua. Não dá para ser de outra maneira. A dor é profunda.