22 abril 2014

Debatendo Corinthians


O Silvinho, que é conselheiro do Corinthians, veio no último post - Corinthians que morre aos poucos - dar sua opinião sobre o que escrevi. Como achei o debate importante demais para a caixa de comentários, resolvi publicá-lo aqui, até para que mais gente possa meter o bedelho. Eis, então, os pontos de vista.

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Caro Craudio Japa,

Não só o respeito como corinthiano, mas também por ser um incansável defensor da igualdade dos direitos e das causas populares.

Porém, quando leio que se refere aos "200 traidores do conselho", lógico, óbvio, evidente, sinto-me incluído.

Não me julgo um traidor. Nem da causa, nem do club, nem de ninguém. E respondo por mim. Antes porém, admito que a postura do conselho deliberativo é vergonhosa sob vários aspectos. E piora na medida em que vários, dezenas eu diria, destes conselheiros, tem origem no cimento das arquibancadas. E hoje se calam, pior, corroboram muitas das decisões que lá são tomadas.

Sob os ingressos tenho minha opinião. Analiso não tão somente sob a ótica apaixonada, mas sob o ponto de vista dos negócios. O futebol é um produto, um negócio, que se tornou caro. Remar contra essa maré é dar murro em ponta de faca. E quando eu dizia isto na bancada do melhor programa da Rádio Coringão, ao lado do meu incansável e fiel parceiro Filipe, ele sentia náuseas. Mas voltemos ao tema. O futebol é um produto, se tornou caro, as contas não fecham, os clubes, todos, mal geridos financeiramente que são, estao a bancarrota. Antigamente, quando o clube detinha a totalidade dos direitos economicos do atleta (o antigo passe)não visava lucro. Afinal, clube é uma instituicao sem fins lucrativos. Mas o tempo passou, as coisas mudaram, surgiram os empresários, os direitos federativos e economicos e hoje, na medida em que uma empresa é dona de parte de um atleta, ela investe e visa o lucro, como em qualquer negócio, como em qualquer produto. Jogador virou produto também, diga-se de passagem. Ja dizia lá trás, que a conta do estádio seria salgada e alguém iria pagar esta conta. Quem paga ? Obvio, o consumidor final, no caso o torcedor. Se acho justo ou injusto o aumento, acredito que a alquimia financeira precisa ser compreendida. A conta tem que ser analisada. O Fiel Torcedor, que chamo de cambista digital, presta um serviço, bom ou ruim (atualmente muito ruim, precisam melhorar) não vende ingresso apenas, vende comodidade. Tirou o torcedor da fila física e passou para o comodismo da fila digital. Portanto, na medida em que prestam um serviço que proporciona a comodidade, tem seus custos e obviamente estes custos compõe o preço final. Outra coisa, venho dizendo há tempos que "não se constrói um estádio impunemente". E o que quero dizer com isto? Quero dizer que levantar uma "Arena", do porto da que está sendo levantada em Itaquera, luxuosa nos detalhes, moderna, bem localizada, custa e custa caro. Não tem dinheiro público, a obra é privada e a conta tem que ser paga e vai ser paga. Quem paga? O Corinthians. Como paga? Com as receitas que a própria Arena proporcionará. Caro Japa, sei que esse bla-bla-bla todo não o convence, não mudará a sua e a opiniões de muitos corinthianos. Mas por outro lado, peço ponderação e análise. E alguns, menos hipocrisia. Paga-se caro por muita coisa nesse país. Impostos, por exemplo. Taxas, das mais variadas. Prefeitura, Governos estadual e federal tiram o nosso couro, sem dó. Paga-se caro quando se vai ao cinema, com aqueles telões e pipocas enormes, paga-se caro quando se vai a uma pizzaria bacana nos Jardins, quando se vai a uma loja comprar um tênis ou uma camiseta. Paga-se caro em quase tudo que consumimos, inclusive nos transportes, péssimos e lotados.
Finalizando, não aceito o rótulo de traidor. Não faço propaganda da minha caminhada como conselheiro, das minhas brigas, de cada vez que me levanto contra algo no clube e não tenho apoio, pelo contrário, me dão as costas e até prejudicam o trabalho. Abraço.


 Silvinho:

Sobre eu te incluir na denominação "traidor", é impossível pra mim pensar em outro termo. Esse grupo foi eleito no lote, prometendo a quem quisesse ouvir que essa nojeira do chapão seria eliminada. O mandato de vocês está no fim e nada foi feito. Pelo contrário, sempre foram inventadas desculpas esfarrapadas para que isso não acontecesse. Se você encontrar outro termo que se encaixe melhor nessa situação, me avise e aí eu troco e faço a reparação pública. Ainda sobre isso, trata-se apenas de uma delimitação política e, nesse caso, estamos em trincheiras opostas. Em outras ocasiões, estamos na mesma trincheira - é o caso da defesa da Rádio Coringão, por exemplo. Sei que você briga por coisas que me dizem respeito e também deixo claro que o uso do termo em nenhum momento quer atingir sua moral. Somos, pelo menos a meu ver, amigos congregados pelo Corinthians. Novamente, é o preço que se paga pela atuação em bloco e que mostra mais um malefício desse chapão. Se você compõe o bloco, responde por ele, mesmo não fazendo merecer a crítica.

Sobre a questão de "business", apenas me responda: qual empresa pagaria 40 milhões num jogador de merda - fora o salário - e ainda entrega o cara pra um rival pagando metade do salário quer fechar as contas? Qual empresa deixaria de investir na formação de funcionários, sabendo que essa pode ser uma importante fonte de renda, e prefere deixar isso na mão de gente que só vai arrombar os cofres? Qual empresa iria agir contra o seu "cliente", usando a mídia para criar divisões na torcida e nutrir adversidades só para escamotear seus erros administrativos? Que empresa paga mais caro num mesmo "produto" três anos depois? Ou pior: que empresa dá de graça um "produto" seu pra concorrência e, depois de um tempo, tem que pagar por ele?

Justificar o aumento de ingressos sob a ótica do futebol-empresa é muito cômodo. Só que não é real, a partir do momento em que o Corinthians - e nenhum clube grande - se porta como tal. Aliás, se uma empresa quer expandir seus negócios, e aí a gente toma a construção do estádio como um exemplo, ela deve avaliar os impactos financeiros disso na venda dos seus "produtos" para não deixar de fora um "cliente" outrora contemplado. O Corinthians resistiria a uma auditoria (digo auditoria de verdade, não esses relatórios com dados escamoteados como "diversos" em gastos e rendas)?

Aí caímos na grande ironia: nenhuma empresa sólida iria admitir um chapão sendo base para a administração, tampouco a falta de transparência. Só querem cagar modernidade na hora de sangrar o bolso do torcedor, mas nunca entregam a contrapartida. Aí ficamos você e eu debatendo coisas importantíssimas na internet, quando deveríamos fazer isso também no clube. Mas oras, eu me associei e no meio do caminho tive de deixar de pagar, porque os aumentos no ingresso e na mensalidade me impediram de continuar adimplente em ambos. Aumentando a escala, é isso que aconteceu nos estádios. E é o Corinthians virando as costas pra sua gente. Um crime ou não?

17 abril 2014

Corinthians que morre aos poucos


O Corinthians que a gente conheceu não existe mais. Aquele que era o maior movimento social do mundo e que agregou anseios de liberdade e inclusão do povo está quase morto. Sob a desculpa esfarrapada da "modernidade", protagonizamos um crime hediondo: cem anos após ter revolucionado o esporte ao popularizá-lo, o Corinthians devolve o futebol à elite. 

Hoje, o Corinthians é mero banco de negócios para uma meia dúzia de diretores, outras dezenas de parasitas vitalícios e os 200 traidores em seu Conselho Deliberativo. Todos eles não têm compromisso algum com a causa corinthiana de muita luta e superação encampada pelos nossos ancestrais. Estão lá para representar seus interesses pessoais, e só. Nada mais elementar, portanto, a administração que se define como "Renovação e Transparência" - e que nunca apresentou essas características - ter ignorado o feito corinthiano de 1913 no Velódromo.

Mas não ignoram - ou tentam reescrever - somente nossa história. É nesse cenário que estão inseridos o estádio em Itaquera e sua política de venda de ingressos. Para muitos, a obra é a realização de um sonho. Para mim, motivo de muita desconfiança e preocupação. Agora mesmo abriram as bilheterias online do primeiro jogo do Brasileirão 2014 e o presente foi o aumento extorsivo de 30%. Se me lembro bem, uma das justificativas para a construção do estádio era levar o Corinthians ao povo da zona leste, região das mais pobres de SP. Pergunto: o corinthiano de Itaquera, de São Miguel ou do Itaim Paulista vai conseguir pagar esses valores cada vez mais absurdos?

Tais iniciativas não são por acaso, já que o descompromisso do lado de cá é igual ou até maior. O torcedor corinthiano se acomodou, embarcando nos papinhos furados de jucakfouris da vida e vomitando por aí toda a imbecilidade do modelo empresarial e mercadológico ao futebol. A mim, ou é ignorância das brabas ou é péssima intenção. A história do Corinthians não contempla  esse pensamento; pelo contrário, o clube deveria ser pilar de resistência.

Curiosamente, aqueles que buscam uma mobilização para tentar conter esse processo de elitização são tratados com desdém. Há uns dois anos, a Brigada Miguel Bataglia organizou algumas panfletagens na porta do Pacaembu e foi motivo de riso. Riam do que aqueles corinthianos? Quem freqüentou as arquibancadas em décadas passadas percebe nitidamente a ausência de torcedores de longa data que foram excluídos dos estádios por conta do dinheiro. E o número de apartados só cresce, tudo em benefício dos "clientes", o principal alvo dos dirigentes e da TV - aquela que realmente manda no troço.

Assim sendo, enquanto o corinthiano continuar aceitando os espelhinhos de convencimento e abaixando a cabeça por qualquer trocado, é ele o  maior responsável pela morte do clube que diz amar. Lá na frente, quando a vaca já estiver com as quatro patas enfiadas no brejo, seremos nós aqueles que deixaram essa vergonha acontecer. Nenhum anticorinthiano faria melhor...