Você que baixa músicas em mp3 para colocar no seu celular ou iPod, que pega filmes via torrent ou que posta vídeos antigos no Youtube, que disponibiliza obras fora de catálogo ou de artistas independentes em blogues. Você que dissemina informação com o devido crédito e contesta a notícia oficialesca dos jornalões. Todos vocês podem passar a ser criminosos, segundo sentença proferida contra os responsáveis pelo Pirate Bay.
Se esse imbróglio de gigante repercussão ainda não lhe chegou aos ouvidos, dê uma lida no histórico feito pelo Alisson Gothz ao rraurl. Mesmo com o veredicto desfavorável, houve quem não se alarmasse, já que o fluxo de informação na rede deverá continuar por outros canais. Pessimista que sou, não consigo visualizar o problema dessa forma.
Há uma malta em nível mundial, cuja compreensão determina que a troca de arquivos na internet fere direitos autorais e, por isso, aqueles que realizam esse intercâmbio devem ser exterminados. Exercendo o indevido papel de defensores dos artistas, esses velhos velhacos utilizam preceitos totalmente inaplicáveis ao mundo digital e tentam justificar sua cruzada contra quem se encaixa em alguma daquelas situações do primeiro parágrafo. Ou seja, eu, você, seus amigos e familiares, todos nós somos as bruxas do novo milênio. Duvida? Então dê uma olhadinha nessa reportagem.
Tal busca incessante pela ordem e progresso civilizada apresenta as primeiras distorções, que na verdade só comprovam o despreparo daqueles que se julgam competentes para encabeçar a higienização da internet. Por exemplo, retiraram do ar um EP do grupo Cérebro Eletrônico, que havia sido colocado na web pela própria banda! É como prender alguém por abrir a própria casa, com chave e escritura do imóvel na mão.
No meio dessa discussão sobre pirataria (ô palavrinha capciosa) e uso de produção artística e intelectual alheia, nota-se uma certa muretagem da maioria de músicos, compositores e escritores "consagrados". Eles não se manifestam incisivamente e, pior, não defendem o próprio peixe. Pelo contrário, se submetem aos preços abusivos cobrados pelas gravadores e por empresários quando vamos a uma loja de discos, às livrarias, aos cinemas ou aos shows.
Por outro lado, quem carrega bandeiras e pensa na produção artística como uma forma de manutenção da identidade e riqueza cultural geralmente são aqueles que vivem à margem do mainstream e das grandes quantias de dinheiro. Paradoxal e injusto, já que os beneficiários dessa luta são os muretas, enquanto os batalhadores correm o risco de passar fome se resolverem viver de sua arte.
Uma boa avaliação de todo o cenário da indústria de entretenimento brasileiro pode ser feita a partir da série de entrevistas que o Pedro Alexandre Sanches fez com uma galera da pesada, todos eles figuras importantes nas gravadoras. A partir daí, e levando em conta que no Congresso Nacional há um Projeto de Lei que se assemelha muito com os argumentos utilizados na condenação do Pirate Bay, é possível notar que, ao invés de elaborarem planos de políticas públicas e privadas para a regulamentação de uma atividade, a solução adotada tem como base a restrição de ações.
Mais perigoso que os "piratas" da informação é o caráter restringente e o vigilantismo em excesso que anda ditando as regras sociais. É nessa hora que aproveitadores vêem a chance de dizer quem é bom e quem é mau, a fim de se apropriar de algo que deveria ser de domínio universal. Consolidado esse autoritarismo, passa a valer a máxima do "se ficar o bicho come, se correr o bicho pega".
5 comentários:
Cara foda esse post, eles tão caçando as bruxas mesmos...
Apagaram do Orkut uma comunidade gigante de download, o que pega é o que você falou, tipo a estrutura das leis de direitos autorais são muito antiquadas e ultrapassadas e invés de fazer novas leis, de buscar soluções, eles preferem agir assim, só que fiscalizar toda a internet vai ser meeei embaçado.
hahahahaha
Mano eu sou a favor da pirataria, porque cara, realmente se cobram preços exagerados, um cd custar 40 reais? Pra gravadora ele sai no máximo a 5,00 reais se eu gravar 10 músicas e mandar prensar 1.000 cds cada um sai a 1,00 real pra mim, pra gravadora.. tcstcs preço de banana.
Um abraço meu querido.
Há teeeeempos que digo que é preciso elaborar novas formas de se remunerar o trabalho artístico até porque, em última instância, tornou-se IMPOSSÍVEL deter a disseminação de informação e conteúdo pela rede. Talvez por isso o inventor do Pirate Bay diz que está literalmente cagando para a decisão judicial e que faria (ou fará?) tudo de novo.
E a hipocrisia está sempre do outro lado da linha: outro dia recebi uma revista aqui em casa, dessas de catálogos de compras e, para minha surpresa, estava estampa na capa (enorme) uma foto que fiz da Sandy em 1999. Pergunte quanto eu recebi por isso?....
Isso mesmo, ganhei o que Maria ganhou atrás do pé de fumo.
Liguei para editora Globo indignado (foi pra eles que fiz as fotos) e me disseram que 'a propriedade material da obra' é deles, e eles fazem com ela o que bem entendem. Disseram ainda que eu sabia disso quando assinei minha cessão de direitos autorais - assinatura OBRIGATÓRIA para qualquer fotógrafo que queira seu espaço na mídia. Em outras palavras, extorsão.
Agora vá vc pegar uma revista época e distribuir o conteúdo de graça pela rede pra ver o que te acontece...
Belo testemunho, Seo Cruz. De fato, essa porra desse documento de cessão de direitos que fotógrafo assina é um absurdo tremendo!
E Brunão, os caras combatem quem gosta de música. Ou seja, os próprios clientes. É de uma imbecilidade sem tamanho.
Foda. Muito foda.
Hipocrisia barata, que nos custa demais da conta. É o bastião da revolução quando esse povo se tocar o que ocorre; ou seja, é uma esperança apenas. Foda.
Cara, recomendo veementemente o documentário "Good Copy Bad Copy" aos interessados por essa questão. O caso do Pirate Bay aparece no doc também.
Me vi descrito aí em um parágrafo seu. Sou um desses apaixonados à margem.
A propósito visitem http://dedos.info
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