05 fevereiro 2014
Apontando dedos
Não é preciso me alongar na situação do Corinthians. Nos últimos dias, as evidências daquilo que a gente vem falando há muito tempo se afloraram e aceleraram o apodrecimento do futebol. Relutei em escrever sobre a cobrança feita pelos torcedores - em especial o pessoal dos Gaviões da Fiel - no CT porque estaria, e ainda estou, esperando a bile descer. Por isso, é melhor recomendar quem faz isso com muito mais sabedoria, competência e calma. Leiam o Rafael Castilho. Leiam o Guilherme Pappi.
Vou direto à parte que me cabe nesse debate, e não sei se é uma contribuição de fato. Essa clara segregação que tenta garantir a um lado (aqueles que criticam a ação de sábado) e outro (aqueles que apóiam) a denominação de "corinthiano de verdade" deveria servir de catalisador para o furdunço que muitos de nós desejamos e que pode ser o único jeito de barrar a imbecilidade no futebol.
Você aí, que adora berrar que as torcidas são reduto de bandido e marginal: você fala com desconhecimento de causa. Se a sua pegada é ficar vendo o Corinthians no buteco, em casa ou na puta que o pariu, ótimo. Saiba, porém, que sua visão sobre o que acontece na arquibancada é nula, se muito superficial. Você repete as bobagens da imprensa, você vê um Corinthians da televisão, das gracinhas da globo e da frescura de uma civilidade que tem como premissa o individualismo e o isolamento.
Já você que somos da arquibancada, analise sua postura nos últimos anos. Você engoliu a deturpação do conceito de apoio incondicional, transformando a idéia em pura submissão a diversas aberrações, entre elas aplaudir derrotas vexatórias e compactuar com vagabundos vestindo nossa camisa. Você também não cobrou a alta dos preços nos ingressos e tratou qualquer ato nesse sentido como motivo para piada. Você abandonou o portão 23, mesmo cantando que nunca iria abandonar o Corinthians - e o Corinthians e o portão 23 do Pacaembu são carne e unha. Você homenageia jogadores indizíveis no Carnaval. Aliás, você anda se preocupando mais com o Carnaval.
Uma digressão sobre essa segregação latente: aqueles que hoje dizem que não vão aos estádios por conta da violência ou do "loteamento da arquibancada" já pararam para pensar na causa disso tudo? Peguemos o Pacaembu. Há coisa de 20 anos, não havia aquelas malditas cadeiras laranjas. A arquibancada era vasta, dinâmica e diversa. Todos nós deixamos que ela fosse fatiada em nome da grana que alguém embolsou. Talvez seja por isso que você tenha saído do estádio e passado à TV, não? Talvez a divisão entre "organizados" e "comuns" esteja servindo a algum propósito, não? E tal propósito, com certeza, não traz benefícios ao Corinthians.
Generalizar é fácil. Eu mesmo aqui o farei: jogador é tudo vagabundo e deve ser cobrado sim. Se a cobrança foi violenta ou não, isso depende de inúmeros fatores como falta de liderança e até um desejo de devolver toda a frustração e a raiva que as últimas apresentações do time proporcionaram. Se eu faria desse jeito? Não sei. O que eu sei é que o Corinthians é coisa séria e que a crise de identidade pela qual o clube passa me dá ânsia de vômito. Por isso mesmo, toda essa disposição dos dois segmentos da torcida em bater boca na internet precisa ser canalizada para ações efetivas de transformação.
Este espaço se abre a sugestões, opiniões e contribuições, desde que não partam para a babaquice de um querer se achar mais corinthiano que outro ou de criminalizar essa ou aquela iniciativa. O inimigo, sempre é bom dizer, está nas redações. Está nas salas ar-condicionadas do Parque São Jorge. O inimigo prometeu acabar com o chapão no Conselho Deliberativo e não cumpriu. O inimigo aumenta o preço do ingresso para afastar o torcedor e trazer o cliente. O inimigo não quer deixar o corinthiano participar da política do clube e quer a sede social vazia. O inimigo esquece da Revolução de 1913 e do Centenário de 1914.
Não há contexto melhor para uma intervenção no Corinthians que o atual. Mobilize-se. Dá trabalho, é mais difícil que ficar xingando alguém que deveria ser seu aliado de trincheira, mas é o nosso papel e nossa obrigação, por tudo de bom que o Corinthians já nos proporcionou.
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3 comentários:
Um rapaz havia publicado um comentário acima e, não sei por que, apagou.
Ele havia interpretado um trecho do texto de maneira diferente da minha intenção. Aí eu fico me perguntando, já que é a segunda interação deste tipo, se eu não devo escrever de forma diferente por aqui.
De resto, destaco o trecho que gostaria que chamasse mais atenção dos parcos leitores deste blogue:
"Este espaço se abre a sugestões, opiniões e contribuições"
"Este espaço se abre a sugestões, opiniões e contribuições"
"Este espaço se abre a sugestões, opiniões e contribuições"
"Este espaço se abre a sugestões, opiniões e contribuições"
Apaguei porque, minutos depois, achei ofensivo (e não era essa minha intenção). Li, não gostei, comentei no ímpeto - etílico, reconheço - e, na seqüência, arrependi-me.
Mas, já que você mencionou: porra, véio, me dói ver gente como você - que sequer conheço, mas a quem acompanho há tempos, e realmente admiro - defendendo (foi velado, mas foi defesa!) o indefensável.
Sugestão? Hoje, o Corinthians não precisa mais de uma Gaviões. Ela não me representa, não representa minha mulher, nem meu velho pai, tampouco minhas irmãs, meus tios ou algum de meus amigos. E, tenho certeza, não representa os amigos deles também. E nem os amigos dos amigos deles.
E também não representa meus inimigos. Nem os inimigos deles, e etc... A Gaviões, hoje, não representa ninguém!
Minto: representa os interesses de seus dirigentes (e dos dirigentes do clube, também?).
Fora o sentimento de pertença em relação ao Corinthians... No jogo contra o Bragantino, a cena do troglodita "organizado" perguntando ao "comum" quantos jogos do Timão ele já havia acompanhado foi triste. Tive vergonha por ele, quando vi.
Enfim, compreendo toda a argumentação, falo seu idioma, estou de acordo quanto ao conteúdo, etc... mas discordo quanto à forma, Cráudio.
E desculpe-me se te ofendi, não foi a intenção.
Saudações corinthianas.
Abraços!
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