18 novembro 2008
Povo ameno
Dia desses, reli uma edição da Bizz do ano de 2007, mais precisamente um artigo de um cara que não vou lembrar o nome agora. O texto tratava da falta de criatividade nos noticiários televisivos feitos por estudantes de jornalismo. De fato, é um monte de gente seguindo cartilha e sem nenhum ímpeto para transpor a bancada de madeira que separa jornalistas e câmeras. Tal artigo me refrescou as idéias quando vi a lista elaborada pela revista Época sobre os 80 blogues imperdíveis da atualidade.
O estranho dessa reportagem é que ela parece ter sido feita em 1998, começo da popularização da internet, pois não se deu ao trabalho de procurar nas entranhas da blogosfera o que realmente interessa. Caiu na mesmice ao mencionar blogueiros famosinhos e esqueceu que os blogues são mera opinião pessoal. Só por isso, deveriam ser limados da lista 90% das páginas, uma vez que elas trazem nada mais que o óbvio e a repetição das besteiras que a grande mídia dissemina.
Analisando a seleção de blogues nacionais proposta pela revista, só o do Nassif se salva, logicamente por trazer opiniões diversas daquilo que é senso comum. Só para comprovar que eu não estou sendo radical, vejam alguns exemplos do que é tido pela Época como "superhiperbacanas":
- "Comandado por Dani Koetz, tem conteúdo variado e destaca o que ganha relevância na blogosfera. Uma marca de salgadinhos colocou um enorme pacote num prédio de São Paulo? Uma revista feminina quer promover discussão de relações entre namorados? Se há uma ação de marketing on-line entre os brasileiros, provavelmente ela estará no Ah! TriNé!."
- "Para quem gosta de animais, o Bicho Amigo tem posts sobre o comportamento dos bichos, casos interessantes como o de um cão que protegeu filhotes de gato num incêndio e dicas do que fazer para colocar mais um gato em casa."
- "Luiza Gomes é autora de um blog que trata de assuntos femininos, ou de menininha, como se costuma dizer. Ela dá dicas de como cuidar da pele e deixar os pêlos dourados para o verão. Fala de grifes famosas, vestidos da moda e ensina a ser sustentável."
E o que dizer daqueles blogueiros terrivelmente ruins que, por estarem ligados ao corpo funcional das Organizações Globo (destaco entre parênteses) ou serem ferrenhos opositores do governo Lula, são tratados como cerejas do bolo pela publicação? Alguém de bom senso levaria Miriam Leitão (Rede Globo), Reinaldo Azevedo, Juquinha (CBN), Ricardo Noblat (O Globo), Lilian Pacce (GNT), Ricardo Freire (da própria Época) e Paulo Coelho (G1) a sério?
Essas aberrações comprovam que os leitores estão cada vez mais preguiçosos, reacionários e fazem parte de uma casta com poucos valores de coletividade. A amenidade das opiniões ilustram como o povo está ameno, manso e domado. Mais grave ainda é a consolidação do ideário das grandes corporações na internet, um território que deveria ser pautado pela liberdade de criação e pela vastidão de pontos de vista.
Insisto que se faz necessário, mais do que nunca, o nascimento de nossa rede blogueira, sem restrições elitistas e sem formações de grupelhos que gritam no vazio. Deve ser uma coisa de peso, deve ser a contra-palavra, dando tratamento mais humano e fraterno à vida e ao cotidiano, elementos tão ricos e tão desdenhados aos olhos apressados de hoje em dia. Todos que estão ali no meu canto esquerdo deste blogue (e muitos também no lado esquerdo do peito) já fazem isso. Por que não dar o primeiro passo?
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Um comentário:
Muito bom, mano! só vi agora.
A Rede se forma.
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