04 agosto 2009
Copa 2014: um monstro devastador
Este blogue tem o orgulho de ser, ao lado de páginas amigas como a do Barneschi e de tantos outros guerreiros que lutam contra essa imbecilidade que é a modernização do futebol, um dos poucos espaços a condenarem a realização da Copa 2014 aqui no Brasil. Não por conta do discurso moralista que condena o uso indiscriminado de dinheiro público em detrimento a prioridades como saúde e educação - e ignorando, neste instante, o fato de que essa grana deverá beneficiar certos clubes que sempre usaram tal artimanha para construir seu patrimônio -, mas sim pelos males que o evento fará ao esporte em terras verdamarelas.
Inicialmente, vamos citar algo que já acontecia aqui na garoa há algum tempo e que passou a ser regra também no Maior do Mundo, o Maracanã. O Edu Goldenberg conta em seu Buteco o ocorrido no último domingo, quando ele e alguns amigos foram ao Mário Filho assistir ao Flamengo:
"Dobramos à esquerda na Mariz e Barros. O Andreazza (acho que foi o Andreazza), disse:
- Vamos comprar cerveja em lata naquele pipoqueiro! - e apontou para um velhinho de seus setenta anos.
Vou à descrição do cenário.
O velhinho vendia pipocas. E ao lado da pipoqueira, um carrinho de ferro com um isopor, gelo e bebida.
Comprávamos nossas latinhas quando estacionou, freando bruscamente, uma kombi da Guarda Municipal. Descem os guardas. E levam, quatro ou cinco funcionários municipais, o carrinho, o isopor, o gelo e as bebidas.
O velhinho geme. Chora. E os homens não cedem ao apelo do pipoqueiro.
Intervim (o Andreazza me pedia calma, e eu estava calmíssimo):
- Os senhores podem entregar a ele o auto de apreensão das mercadorias?
Silêncio."
Vale a pena ler o relato inteiro, congruente com minhas palavras de alguns dias atrás sobre o choque de ordem aplicado pelo prefeito carioca, nos mesmos moldes das ações proibitivas de nosso generalzinho nazista de SP. Nessa toada, costura-se o pano de fundo do campeonato de seleções que acontece daqui cinco anos.
Tendo o cenário de europeização e elitização desde já em pauta, discute-se, por exemplo, uma adaptação de calendário entre os continentes, coisa sugerida pelo Presidente da República após as saídas de jogadores do Corinthians para a Turquia. Paralelamente, as bilheterias vão promovendo seu apartheid. Nossa Fiel, só neste 2009, sofreu três aumentos consecutivos nos preços dos ingressos; os rivais verdes andam sob a ameaça de desembolsar R$40 numa arquibancada. Ambos os clubes, curiosamente, têm em seu quadro diretivo imbecis que defendem em público e na maior cara-de-pau o viés mercantilista daquilo que é nossa razão de viver.
Finalmente, a questão do uso de verba pública. Reitero não ser contra esse desvio de prioridades, já que o discurso "não há saúde, não há educação" é um pouco irritante, além de óbvio. O esporte é uma forma de inclusão social e também precisa de investimento. Se a grana for aplicada na construção de estádios e instalações esportivas que permaneçam sob propriedade do Estado, nenhum problema - pessoalmente, defendo esse modelo para todos os estádios, dado o caráter popular do futebol. Inadmissível, de verdade, será presenciarmos um clube sujo embolsar dinheiro do contribuinte mais uma vez, agora para fazer do seu elefante branco um shopping center.
Minha intenção, portanto, é ser realmente repetitivo. A Copa 2014 e seu maldito fair play representa a falta de alma, um inimigo daqueles que sempre carregaram o futebol nas costas, faça chuva ou faça sol. E ela se personifica naquele torcedor de final que toma o teu lugar nas arquibancadas, mesmo você tendo comparecido durante todo o campeonato, ou no guarda nojento que rouba o ganha-pão de quem vende cerveja e churrasco na porta dos estádios.
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4 comentários:
Sejamos repetitivos! O povo ainda não se ligou.
Grandes considerações, meu caro.
Abraço.
Japonês, meu caro amigo,
A coisa tá muito feia. Muito feia mesmo. O mundo está ficando chato demais e a coisa tende a piorar.
O texto está devidamente linkado. E eu preciso voltar ao assunto o quanto antes. Aqui é resistência!
Copa é o caralho!
Abraços
E eu errei no post linkado de 2007, quando falei sobre o aumento no preço dos ingressos. Eles já estão na estratosfera cinco anos antes dessa merda de Copa.
Cara, aqui no Rio acontece mais ou menos como em todas as partidas de futebol no Brasil.
O pau come solto e sem intervenção do árbitro, mas ai de vc se tirar a camisa pra comemorar o gol!
Polícia truculenta, que bate na mulher em casa e em velho na rua. Um monte de desequilibrados que sabe Deus como conseguiram esse emprego...
Eu mesmo conheço alguns alucinados que, quando descobri que estavam na polícia perdi mais alguns parafusos (dos poucos que me restam).
E fala pra seu amigo não intervir mais. Melhor pra ele.
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