12 agosto 2009

É greve ou baderna?


Não precisou de muito tempo depois do fim da obrigatoriedade de diploma no jornalismo para que os primeiros sintomas de enfraquecimento da categoria aparecessem. Funcionários da TV e Rádio Cultura de SP encontram-se em greve, mas os jornalistas da casa estão à margem dos piquetes. Apesar de serem os mais prejudicados com as novas diretrizes da Fundação Padre Anchieta de reduzir drasticamente a produção de conteúdo, o pessoal da redação têm medo de aderir à paralisação.

Ao lado das ingerências ideológicas, a Cultura é cobrada por abono e reajustes salariais e pelo registro em carteira daqueles que estão na informalidade. No entanto, um sistema vil que já se disseminou nos meios de comunicação em sua totalidade força os jornalistas rejeitarem o justo e óbvio estado de greve. O motivo da estranha atitude quem nos conta é o site Comunique-se: "Até esta manhã existia a possibilidade do decreto de um estado de greve por parte dos jornalistas, mas muitos que trabalham como Pessoa Jurídica (PJ) - maioria dos jornalistas da emissora - afirmaram que apoiavam a causa dos radialistas, mas que a decisão de aderir a uma greve poderia prejudicá-los, porque não possuem garantia de direitos, correndo o risco de demissão."

É óbvio que eles não só não serão registrados como ainda terão seus direitos todos negados. Afinal de contas, como caracterizar e atender reivindicações de uma classe de trabalhadores constituída por milhares de microempresas e (santa megalomania, Batman!) micropatrões? O fim do diploma serviu, como já dissemos antes, para consolidar a geração PJ - e não se trata de sigla para profissional jornalista. Foi um golpe de mestre dos grandes conglomerados da mídia para cortar encargos e direitos, justificar a grana alta paga a colunistas boca-de-latrina, enfraquecer as determinações de piso salarial do sindicato e consolidar a desmobilização que paira sobre todas as redações.

Tanto no caso específico da Cultura quanto nas futuras manifestações que venham a acontecer, os colegas de profissão terão pouca ou nenhuma condição de falar do próprio problema. Por autocensura conseqüente da submissão, por discordância masoquista ou pelo telhado de cristal, já que é praxe a imprensa chamar qualquer movimento grevista de baderna. E essa cooptação às vontades dos patrões seria o quê?

Um comentário:

Filipe disse...

Isso tudo garante, as vírgulas de cócósmoli por, exemplo...

Mídia clandestina é a solução!