23 outubro 2009
Febre Alvinegra
Corinthians 2 x 0 Juventus - 05/05/1993
Pacaembu - São Paulo
Quase um mês depois da minha estréia na arquibancada, era chegada a hora de dois grandes irmãos pisarem pela primeira vez no Templo Sagrado. Vale dizer que, desde o jogo contra o Ituano, eu vivia contando vantagem para cima do Migué e do Guinho por conta da fantástica experiência que era ver o Corinthians em campo, a Fiel Torcida, o barulho do povo e toda aquela atmosfera que faz o mais insensível dos homens se apaixonar pelo futebol e pela vida nos estádios. Começava ali também um bonde que só veio a se separar cerca de seis anos depois, por culpa daquele papo estranho de trabalhar e se formar na faculdade.
Como éramos muito moleques, tivemos de pedir as devidas bênçãos maternas, convencendo-as de que o Bôia, o motorista oficial do bonde, era responsável o suficiente por todos. Pobres velhas que acreditaram no papo do insano mezzo oriental/mezzo português... Alheios a essas convenções, nossa única preocupação era com a ansiedade das horas anteriores à epopéia, tratadas com a devida pompa. O cerimonial teve início assim que chegamos da escola e cobrimos nossas carcacinhas com o manto. Impacientes, fomos à rua bater bola, imaginando quantos gols o Viola faria naquela noite e aguardando nosso Jarbas kamikaze chegar com seu Passat Pointer sem freio.
Ah, a espera pelo Bôia... Se o corinthiano já sofre por definição, a gente penava antes mesmo de sair de casa, já que o barulhento escapamento do Pointer só dava pinta na esquina uns 15 minutos antes do horário da partida. Pior ainda era o caminho até o Pacaembu. Para se ter uma idéia, sem trânsito e pegando toda a seqüência da avenida Rebouças em sinal verde, gasta-se no mínimo 20 minutos até o estádio. Não me perguntem como, mas o Bôia fazia o trajeto em 10.
Por sorte, ainda havia ingressos nas bilheterias naquela quarta-feira de tempo ameno e, dado o adiantado da hora, não pegamos filas nem para comprar as entradas nem na catraca. O público não passou dos 25 mil pagantes, mas a pequena multidão, as bandeiras e os cantos vindos dos Gaviões da Fiel foram suficientes para os olhos do Migué e do Guinho brilharem mais que os refletores.
O Coringão jogou para o gasto e, pelo que me lembro, só abriu o placar no segundo tempo. Também não recordo muito bem dos autores dos gols, mas acho que o primeiro deles foi marcado pelo Paulo Sérgio, entrado por trás da zaga grená. Naquele momento, no entanto, mais importante que a partida em si era o espírito de irmandade renovado pelo Corinthians a partir de um novo elo criado entre aqueles amigos de infância. Coisas bonitas que só a Mística Corinthiana proporciona.
Saímos os três anestesiados do Pacaembu. Os debutantes por terem conhecido in loco a loucura impregante chamada Corinthians. De minha parte - e isso só é possível ter noção hoje em dia -, era como se tivéssemos completado um ciclo da vida, encontrando uma razão de viver que só se compara à própria amizade que estará para sempre impressa em nossas almas.
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4 comentários:
Só agora fiquei sabendo, ingressos para a Libertadores por R$ 500,00!!!!
Cara, nem de longe querendo lhe pautar, mas isso merece uma atenção especial.
Imagina, poder ser finalmente campeão da libertadores, e aqueles que sempre fizeram a fama da fiel torcida ser excluída disso.
E se a moda pegar, ai sim será a tacada final à introdução do futebol "moderno"
Cara, estou muito, mas muito preocupado mesmo
Cara, isso nada mais é do que constante dessa diretoria descompromissada com o torcedor. Ainda que eu defenda um modelo compensador, em que o que pode pagar mais seja cobrado para que as arquibancadas continuem populares, esse preço é abusivo.
Por isso mesmo, a gente aqui sempre grita contra a modernização do esporte, que tem como característica práticas desse tipo. Há alguns posts do começo do ano que você pode achar sobre o tema, quando os bizinesmen do Corinthians decidiram aumentar o ingresso para R$30.
De antemão, é fato: quem não tiver o Fiel Torcedor, ou compra mais caro ainda de cambista ou assiste pelo PPV.
Aquele selo de "Fora Sanchez" no lado esquerdo do blogue não é à toa. Abraços!
Porta-Voz;
Esse Febre está especialíssimo.
Você captou e transformou em palavras, em um texto "palatável", o que é o Corinthians para um moleque.
Ah, CORINTHIANS...
Como queria levar a Tetê pra ver essas bandeiras, o papel picado, a fumaça, os rojões, cânticos incessantes, que nos fazia, às vezes, nem dar bola pro jogo. Fazia realmente os olhos brilharem mais que os refletores!
Que infância! Que infância!
CORINTHIANS!!!
É nóis, mano! Como eu sempre digo, talvez somos parte da última geração que pegou essa fase gloriosa das arquibancadas, onde nego não ia fazer social e tirar fotinho com carinha de mau. Estávamos todos lá em prol do Corinthians.
Só o Corinthians, cara! Só o Corinthians!
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