26 maio 2009
Uma cerveja, um cigarro, um Carnaval
Semana passada, ao sair do trabalho, passei no posto de gasolina e peguei aquela gelada para depois do expediente. Inexplicavelmente, me veio na boca a primeira cerveja da vida. Contava com uns 5 ou 6 anos e, desde então, passei a dar bicadinhas na espuma do copo do meu padrinho. Era um gosto em princípio meio amargo e muito estranho, mas que se adocicava ao descer pela goela. Mas o motivo do meu alcoolismo não é só esse, pois meu padrinho e o amigo dele, o Gentil, eram os sujeitos mais bacanas da rua. Como me espelhava nos dois descaradamente, foi natural nutrir adoração pelo copinho com o troço amarelo vida afora.
Engraçado essas experiências sensitivas. No mesmo instante em que você sente um sabor, cheira um cheiro ou ouve um ruído que te traz uma lembrança, automaticamente seu corpo e sua mente viajam no tempo. Foi muito claro o momento desse primeiro gole: aniversário de minha irmã com Churrasquinho Jundiaí (em pleno Plano Cruzado, chegamos a ter uma puta vida confortável lá em casa, ironicamente), lá no quintal recém-reformado. Era começo de noite e meu padrinho e o Gentil entornavam um vidrinho de Eparema, a fim de proteger o figueiredo. Nem bem o caboclo do churrasco havia iniciado os trabalhos com o carvão, e os dois já estavam de copo na mão. Foi bem ali quando o Gentil me chamou, com o padrinho dando a aprovação: toma um gole aí, moleque.
Depois do gole, o primeiro cigarro. Dias desses, minha mãe chega em casa fedendo fumaça. Ela sempre chega fedendo fumaça, só que naquele dia, não sei por qual motivo, o cheiro foi igualzinho ao da estréia com o tranca-peito. Era noite e brincávamos as crianças na rua, enquanto os velhos jogavam conversa fora. Um senhor que passava arremessou uma bituca no chão e a bichinha ficou ali repousada, brilhando aos meus olhos. Automaticamente, imitei a velha - e o raciocínio deve ter sido: "se ela faz é porque é bom". Tão automático quanto minha tentativa de tragar aquela merda foi o tapa que meu pai me deu na boca. Passei boa hora de castigo no lavabo de casa, amargando aquele cheiro desgraçado entre os dedos.
Admira-me negativamente quem não carrega essas impressões e lembranças sensoriais. Algumas, aliás, até tentam evitá-las, o que denota um certo desvio de caráter. No Carnaval desse ano, por exemplo, alguns daqueles que estiveram conosco em Pirapora do Bom Jesus se surpreenderam durante o baile no salão do clube municipal, em que as pessoas giravam. Porra, no carnaval se gira pelo salão (eis o Rubinato: "Primeiro carnaval, primeiro amor criança/Numa volta no salão ela me olhou")! Na primeira vez que entrei no baile em Pirapora, me vieram todas aquelas matinês de quando, projeto de gente, saía pelo salão apavorando minha irmã.
Contrariando a máxima que garante periculosidade do apego ao passado, isso anda me tranqüilizando e se tornou essencial para uma fase da vida que eu sei que chegou. Já não tenho mais paciência com um monte de coisas, já não suporto certas incoerências e ando muito pouco receptivo a frescurinhas. Fora que tal melancolia serviu de tema para um post totalmente sem pé nem cabeça, num dia de tão pouca inspiração...
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3 comentários:
kkkkkkkkkkk agora entendi pq vc faz o tranca-gato-no-lavabo
ei,vc nunca sentiu o gosto da picada de pernilongo?
Hahahahahhahahahhahaha trauma de infância.
Picada de pernilongo tem gosto do quê? Sangre?
hahahaha...
è bem nessas mesmo, as vezes sentimos essas sensações que nos remetem a 1º vez..
Cigarro hahaha quem nunca fumou o 1º escondido? hahahaha
é foda
abraço japonês
o mano.. certeza as viagens são para pegar Ódio do adversário e da cidade.. tomar no cú.
é nóis.
abraço
6 dias de trampo 4 em Barueri, ninguém merece.
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