08 dezembro 2011

Brasileiro e corinthiano


Com os sentimentos um pouco mais controlados, acho que me sinto preparado para tecer algumas palavras sobre o gigantesco herói que nos deixou no último domingo, justamente num dia de alegria para o Corinthians pelo seu quinto Campeonato Brasileiro. Ouvi a notícia da morte de Sócrates Brasileiro e Corinthiano lá pela hora do almoço, quando me preparava para ir ao Pacaembu. Um baque, uma faca no peito e uma sensação de vazio no estômago que não era fome, mas algo muito parecido com aquilo que me deu no dia em que minha saudosa tia Terezinha se foi.

Aliás, foram inúmeros os testemunhos nessa toada: os corinthianos perderam um ente próximo. A tristeza que me acompanhou até o Templo Sagrado pairava pela cidade e pelo país, e se intensificou ainda mais depois da catraca. À beira do alambrado, no encontro com os irmãos Filipe, Rubio, Salgado e Victor - todos eles seguidores ortodoxos dos paradigmas socráticos -, foi difícil segurar as lágrimas. Lá em cima no nosso lote, ao lado do Janeiro, Luizão, Raphael e muitos outros parceiros, o pranto foi inevitável.

Os braços erguidos e os punhos cerrados que homenagearam Sócrates antes do apito inicial representavam a esperança, o amor e o compromisso com a luta encampada pelo Doutor no início dos anos 80, retomando, inclusive, os ideais corinthianistas de 1910 de participação política intensa do povo dentro do seu time. Serão essas as recordações marcantes do ambíguo 4 de dezembro de 2011; é nisso que devemos nos apegar toda vez que formarmos nossas opiniões sobre tudo que envolve o Corinthians.

O legado de Sócrates é imensurável e, até certo ponto, incontestável. É crime hediondo ignorar cada vírgula por ele eternizada, mesmo aquelas com as quais a gente possa não concordar de imediato. Ele não queria ser o bom-moço casadoiro, mas sim fazer de cada corinthiano um contestador, baseando-se em nossa impetuosidade e nossa irmandade características. O pensador dos gramados forjava pensadores nas arquibancadas e nas ruas, incitava o raciocínio além das meia-verdades e combatia a imbecilidade, ainda que cercado de imbecis aproveitadores.

Isso posto, a tristeza de ver partir esse gênio da bola e da cachola não se dá pelo simples fato da morte, pois ela é inevitável. Dói demais não poder contar com novas provocações que colocavam a opinião média contra a parede, algo tão necessário ao corinthianismo claudicante dos dias atuais. Dói porque há canalhas que riem dessa desgraça. Dói porque sua história, assim como todos que vestiram a camisa do Corinthians um dia, será distorcida pelos babacas da mídia dominante e ele será o "alcoólatra comunista maloqueiro", mesmo não tendo sido nenhuma dessas coisas.

Sócrates foi, sim, corinthiano, brasileiro, craque, vencedor, iluminado, líder, escritor, boa-praça, verdadeiro. Escolha qualquer uma dessas - ou várias - facetas e faça a coisa certa: seja um devoto desse anjo torto, que agora foi ter com nossos antepassados brigadores e guerreiros.

OBRIGADO, DOUTOR SÓCRATES!

Um comentário:

Filipe disse...

Ainda de luto, caríssimo Samurai, pois um anjo torto é a maior perda deste plano terreno, entramos nesse período de férias, esse hiato excruciante.
A lembrança deste dia ameniza isso.

O dia em que enterramos nosso anjo torto e fomos campeões evidenciando a face hipócrita do rivale, chutando-o no vácuo.

Mas a coisa toda pode ser resumida, e já o fizeste; fazer de cada corinthiano um contestador, baseando-se em nossa impetuosidade e nossa irmandade características.

Ah, Doutor... esse legado é o próprio CORINTHIANS, e por ele oferecemos nossas vidas.

VIVA O DOUTOR!!!

VIVA O CORINTHIANS NOSSO DE CADA DIA!!!