26 fevereiro 2013

Lições, reflexões, ações...


É realmente uma pena. Este espaço está há algum tempo largado às moscas e, vira e mexe, tento retomar mal-sucedidamente uma rotina de atualização. Nem mesmo sobre o Carnaval consegui escrever, e olha que o deste ano teve, como sempre, grandes emoções. Também havia programado na cabeça alguns textos da série Febre Alvinegra, mas não foi possível. Aí a sucessão de acontecimentos envolvendo o Corinthians e principalmente a Fiel Torcida vão merecer, imerecidamente, a primeira postagem de 2013.

Preciso, porém, fazer uma lembrança de muita coisa que escrevi nestes quase 7 anos de blog. Um dos assuntos constantes por aqui é o processo de elitização do futebol, projeto que se encontra em pleno funcionamento e expansão. Pior ainda, vemos o Corinthians como um de seus expoentes, graças à corja que toma conta do Time que foi, é e sempre deverá ser do Povo. Também falo muito da alienação decorrente dessa elitização, já que se trata de um plano autoritário e que carece do menor senso crítico possível. Finalmente, há o papel da imprensa esportiva, chamada por aqui de abutre de maneira quase que original (modéstia às favas).

Tal conteúdo vocês podem acompanhar por meio da busca desta página ali no canto superior esquerdo - notem que eu dei uma bela reformada na casa, atualizando o modelo e permitindo uma pesquisa mais completa - e perceber que meus argumentos basearam-se nas minhas experiências como torcedor in loco e também em alguns dados e/ou fatos. Recordo, em especial, de uma postagem de novembro de 2007, quando tratei do futuro do futebol brasileiro até a Copa do Mundo com sede recém anunciada para o país. Tudo, praticamente tudo se comprovou, e isso não quer dizer que eu seja vidente. Era a simples constatação de qualquer pessoa com o mínimo de noção da realidade.

Mas o que todo esse papo tem a ver com a grande merda ocorrida na última quarta-feira na Bolívia? Simples: o Corinthians em campo é reflexo da sua torcida na arquibancada. Obviamente que esse axioma vale para qualquer clube, mas no Corinthians o efeito é ainda mais gritante se levarmos em conta toda a trajetória alvinegra

Em 1913, o Corinthians iniciou sua luta para enfrentar aqueles que eram considerados os principais times de São Paulo. A credencial era merecida, após dois anos gloriosos na várzea paulistana. Mas a Liga Paulista de Futebol armou das suas para tentar impedir a mistura dos operários no então esporte da elite. Apelo a Lourenço Diaféria, em "Coração Corinthiano" para mostrar que, cem anos depois, basta trocar alguns elementos de uma mesma história. A "gentinha" arrematou suas credenciais pelo mundo e tornou-se necessário um outro Minas Gerais.

"(...) surgiu o Corinthians Paulista, e esse Corinthians de operários — que não tinham bicicleta e viajavam de 'caradura' para economizar uns vinténs e oferecer ao clube — se preparava agora para enfrentar uma cilada que a Liga Paulista de Futebol lhe tinha armado à sorrelfa, para tentar impedi-lo de se ombrear com os 'grandes do futebol'. Para disputar o campeonato da Liga Paulista de Futebol o Sport Club Corinthians Paulista teria, antes, de passar pelo cadáver do Minas Gerais e do São Paulo. Era agora — ou nunca mais! Os corinthianos se prepararam para dizer adeus à várzea.

(...)

Quando o time do Corinthians Paulista pisou o campo 'pequeno e duro' da rua da Consolação, quando os onze rapazes com camisas novas apareceram sob o céu do Velódromo, onde estreavam e inauguravam um sonho que os adversários torciam para que fosse um pesadelo, as arquibancadas do estádio, construídas para acolher 5 mil pessoas, balançavam de emoção. A torcida dividia-se em dois grupos: os corinthianos — e os 'anticorinthianos'. Os 'anticorinthianos' não torciam tanto pelo Minas Gerais Football Club. Torciam, sim, pela derrota do Corinthians, aquele atrevido, aquele ousado, aquele “bicão” com cheiro de povo, jeito de povo, coração de povo. Os primeiros carrapatos do 'anticorinthianismo' estavam ali agarrados nas vigas das arquibancadas, aves pardas piando maus agouros para aquela 'gentinha' alvinegra."

Não posso me omitir: falta-nos muito desse espírito de irmandade, de coletividade e de participação na Fiel Torcida, aquela que tem um time. Estamos, família corinthiana, diante de um dos maiores desafios e nossa sobrevivência depende disso. De maneira similar aos períodos da gênese, é a torcida quem irá determinar os rumos do Sport Club Corinthians Paulista. Somos nós que iremos impor a manutenção da força, da luta e da determinação tão marcantes no DNA dessa gigantesca instituição. A pergunta essencial a esse momento: QUE CORINTHIANS IREMOS DEIXAR PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES?

Indo além das linhas inimigas, os torcedores rivais também têm com o que se preocupar. As sanções que hoje se aplicam a nós amanhã irão criminalizar toda a camada popular e ativa que, em maior ou menor número, vive em devoção ao seu time de coração. Não entrarei em análises sociológicas, psicológicas ou policialescas, uma vez que tem muita gente fazendo isso a partir de um enorme desconhecimento da realidade. Fico apenas com a parte que me cabe, denunciando os inimigos que desfilam de peito aberto: dirigentes, imprensa e grande parte do poder público. Há uma ideologia excludente vencendo o embate e acho que fica fácil escolher seu lado, sem comodismo, hipocrisia ou mediocridade. É essa ideologia, aliás, o verdadeiro assassino.


Um comentário:

Filipe disse...

Camarada, hoje passei por aqui. Já é abril de 2013. Ontem a madame viu o galo virar pinto e deitou e rolou; gritaram "chupa, gambá". Passei na frente do chiqueiro, tava mó clima de velório, tava caidão aquilo lá.

E o CORINTHIANS?
Faz silêncio programado de sua História. Remunera diretor e chama de "profissionalismo". A marca sai na forbes, top of empty mind. Carro-chefe da elitização.
Tudo como previra, venerável Samurai. Como farejávamos.
"Ostemposmudaram", dizem modernetes. Não, não; arcaísmo é uma permanência. E o Corinthia é nosso.

E quem não for Corinthia...