27 agosto 2015

Capitulando


Lá se vão 22 anos de arquibancada. Não é carteirada, é apenas questão de marcar cronologicamente que a percepção daqui não é achismo. Tal ponderação, aliás, reitera a gravidade do fato, uma vez que há muito mais gente com muito mais tempo nessa caminhada. Vi de tudo. Chorei de tudo. Comemorei demais. Senti no peito muitas amarguras, mas o Corinthians estava lá, em campo e no entorno, vivo. Havia o sangue correndo nas veias, havia o respeito com o povo corinthiano, que paga - como nunca - seu ingresso sem parar.

A noite de 26 de agosto de 2015 foi histórica. E nós devemos prestar atenção quando estamos fazendo parte dos marcos históricos, porque as lições e as oportunidades são únicas nesses momentos. A última quarta-feira foi quando mais clara e gritantemente se desrespeitou o Corinthians. Não falo do placar, altamente previsível, mas sim do abandono oficializado, da entrega de mão beijada do nosso clube a um novo modelo de funcionamento. O Corinthians que me ensinaram era corpo, alma, paixão e suor. O Corinthians que eu aprendi foi forjado no punho cerrado, no abraço fraterno e na vontade de brigar pelo ideal em comum. O Corinthians que nos dão hoje é individualista, cínico, excludente, babaca, omisso, medíocre, comum e, sobretudo, covarde.

Está, desde a presente data, instituído que o Corinthians foge da luta. Camuflam-se os canalhas com resultados momentâneos e com um discurso de pseudo-apoio - aquele que dizem ser incondicional - para nos alienar a consolidação diária do sonho de nossos ancestrais, cuja grande e única vitória era preservar e perpetuar a simples existência do Corinthians. Terceirizamos o Corinthians, deixando na mão de irresponsáveis ou de um cagalhão qualquer nossa sorte e nossa identidade. A cara do Corinthians é seu time em campo: assustado, impotente. E covarde.

Tiraram definitivamente a minha alegria de ver o Corinthians jogar. Se vou ao túmulo em Itaquera hoje, é por um misto de teimosia e um pouco de inércia. Minhas forças e minha paciência, no entanto, estão se esgotando. É triste perceber que estamos perto do fim. Estou capitulando e não sei se há um caminho de volta. Talvez se resolverem lutar de novo. Quando meu povo resolver assim, me avisem. Caso contrário, relego-me a ser apenas mais uma história como outras tantas que, depois de anos de dedicação, desaparecem como fumaça, perdida no vento.


* o texto vai em tom de desabafo e tristeza, sem revisões ou cuidados com a língua. Não dá para ser de outra maneira. A dor é profunda.

29 maio 2015

Nós, dez


Há uma parte em você que eu adoro porque ela mostra muito daquilo que você tem e nem sempre deixa revelar. Suas mãos são lindas. No dia que eu ficar cego, não conseguiria assinar meu nome, mas saberia desenhar cada detalhe das suas mãos. Lembro de Salvador e aquelas ciganas que queriam ler sua palma, e eu só ri por dentro. Não seriam em qualquer dez minutos que o mistério se revelaria.

Quando me apaixonei por você, houve uma conjunção de fatores. Seus mistérios, seu comportamento arisco, sua tentativa de esconder o coração gigante que você tem, suas provocaçõs e sua beleza... Mas as suas mãos, mais do que me cativar, elas me enfeitiçaram.

Poder provar o seu toque, poder seguir o caminho que você indica, receber suas mensagens, enroscar seus dedos nos meus e até quando você está lá do outro lado no Morumbi e me manda aquele simpático sinal, tudo isso é um pouquinho de nós dois em em dez. Dez anos. Dez marcos. Dez símbolos, com curvas, altos, baixos, feridas e cicatrizes. Dezenas de alegrias e momentos inesquecíveis.

Depois de me ter nas mãos, agora tenho-me aos seus pés. Ali há mais dez e é para lá que eu vou. E depois? Ah, tem muita coisa a ser descoberta.

COMO EU AMO A NOSSA DÉCADA! COMO AMO VOCÊ!


Do you remember when we met
Liquor drinks and cigarettes
All the boys were takin bets
My credit card so in debt
Bought drinks from you at the bar
Poured them out behind my car
So I could come back to where you are
And order one from you again
And Again
I'll be your open tab
You'll be my favorite sin

You're such a Pretty Melody
I'm just another tattooed tragedy
Oh baby we don't have to be
Like the rest of them

What time can we get out of here
I got some words you need to hear
I really wanna make it clear
That I don't do this everywhere
How do I make this not sound cheap
I'd like to show you where I sleep
And keep you there a couple weeks
And make you come again
And again
I'll be your waste of time
You'll be my happy end

You're such a Pretty Melody
I'm just another tattooed tragedy
Oh baby we don't have to be
Like the rest of them
It's anything but hard to see
I want all of you all over me
There's not a single part of me
That would ever let you go

05 março 2015

Os próximos 100 anos


Ser crítico na adversidade é fácil. Cômodo, até. Há pouco menos de dois meses, o corinthiano era só insatisfação. Pudera: a diretoria vinha fazendo mais do mesmo, subindo o preço dos ingressos, demonstrando total despreparo na condução do clube e mantendo sua política de aberrações alienantes a todo vapor. Só que o time em campo passou a não perder. E o termo "não perder" é usado de maneira proposital, pois assim está consagrado o novo modus operandi desse Corinthians moderno. As vitórias na base do "não perder" escamoteiam uma crise de identidade crescente, gestada quando embarcamos nessa onda de ser aquilo que os outros esperam que a gente seja.

Fazendo isso, o corinthiano revogou sua tarefa, sua missão de contestador, e passou a absorver sem o menor critério todas as idéias de jerico que a anticorinthianada doente propagou por anos ("não tem estádio, só ganha Paulista"). Pior ainda, começou a aceitar a omissão, a falta de respeito com a própria história e, dentro de campo, a covardia. De novo, só para agradar os olhos dos outros.

Quando vejo os jogos do Corinthians dos últimos anos, não me reconheço ali. Há apenas flashes esporádicos daqueles times heróicos que pude ver ou sobre os quais ouvi falar. E não se trata de dar espetáculo ou coisa que o valha, que isso nunca me foi decisivo. O Corinthians, com exceção da década de 1950, da Democracia e da individualidade dos inúmeros craques que estiveram conosco, nunca prezou pela alta técnica em sua história centenária. Só que o Corinthians também nunca prezou pelo medo de ir à luta, pelo medo de atacar para se defender.

Na concepção atual, a essência do Corinthians são números inseridos em planilhas. Os objetivos, também números, são precedidos de cifras. Joga-se e se administra o clube a partir de resultados frios, sem tecido, que seduzem e satisfazem apenas a ânsia pelo acúmulo e pela quantificação em comparação ao outro (que outro, raios?). Vai daí que a premissa do Corinthians jogar pelo seu povo tornou-se coisa ultrapassada. Em mais de 20 anos de arquibancada, foram muitas as ocasiões nas quais saí do estádio de alma lavada após derrotas memoráveis. Notem que não é o placar, é o que está ali dentro. Trata-se da formação do caráter, pois quando se entra em campo, se luta e o resultado é adverso, ainda assim se ganha. Hoje, entretanto, uma derrota é só isso: uma derrota, num nível de limitação que, inclusive, tira o peso da vitória.

O momento pede sensatez. O gol continua sendo comemorado, a vitória continua agradando, mas é muita imprudência perder de vista a razão de tudo isso. Em 1915, não tivemos Corinthians. Fomos vítimas de um golpe dado por certa parcela da sociedade que não suportava (e ainda não suporta) povo e não tinha engolido a surra de dois anos antes no Velódromo. Apesar disso, a postura não foi outra senão partir para cima, ignorando qualquer conseqüência da impetuosidade que sempre nos moveu. Mesmo sem Corinthians, houve Corinthians. Curiosamente, cem anos depois o Corinthians entra em campo duas vezes por semana e quase não há mais Corinthians, numa ausência de nossa inteira responsabilidade.

QUE CORINTHIANS IREMOS DEIXAR PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES?


19 novembro 2014

Quando eu viro água


Toda terra quer sua água. Só assim as coisas fazem sentido, só assim o troço frutifica e faz o ciclo ser completo, dando continuação à sábia roda da vida. Nesse semi-árido que me habita, seu dilúvio é uma benção na qual eu sempre vou querer mergulhar. É o "mergulho na paixão".  Me regue sempre que puder, me afogue quando precisar. É pra isso que meu coração, embora duro, é poroso. Aí eu vou dosando e a gente vai assim, bebendo pelas coisas boas do mundo, de duplinha, do jeito que é o melhor jeito.

Espero sempre ser a beira do teu São Francisco, a margem do teu Amazonas, o barranco do seu Nilo e a encosta do teu Tejo. Para isso, milhões de beijos em mais um seu aniversário, que é quando me desmancho e viro lama, todo esparramado em você.

Amo mais que um monte.

Beijo do seu neguinho.


Sozinho por quê?
Se eu vivo à mercê desse amor
Não precisa brigar
Vou desembaraçar nossa dor
Sempre foi, sempre fui
Beijos de amor
Sempre se misturou
Essa vontade de amar

Não me molhe assim
Esse fogo não pode apagar
Deixa arder a chama
Desse que te ama
Por te admirar

A riqueza do nosso querer
É o beijo e o olhar
É um elo entre eu e você
Atração que não vai acabar
Como é linda a emoção de viver
Mergulhados na mesma paixão
Quero ter a razão de te ver
Presa ao meu coração

Não me molhe assim
Esse fogo não pode apagar
Deixa arder a chama
Desse que te ama
Por te admirar

30 setembro 2014

Voto e peito aberto


Estão aí as eleições deste 2014 e venho neste espaço manifestar meus votos como parte de minha estratégia de militante e de meu próprio caráter. Ao contrário de muitos, defendo meus ideais, representados nas candidaturas abaixo, de peito aberto. Minhas escolhas não são de agora e, apesar de ter naturais e necessárias discordâncias com todas, jamais me envergonhei ou me envergonharei delas. Mais ainda: é uma tomada de posição. E eu estou do lado do povo, estou do lado daqueles que sempre ficaram à margem até pouco tempo atrás - para ser exato, 12 anos.

É inegável, meus caros, que o Brasil avançou. Como ignorar que o país tenha saído do mapa da fome, que tenha tirado da miséria mais de 36 milhões de pessoas? Como ignorar que aqueles sem perspectiva nenhuma de vida passaram a cursar uma faculdade e entrar no mercado de trabalho? Não avalio política com o fígado, muito menos me deixo levar pelas insanidades irresponsáveis que saem diariamente na imprensa, esse verdadeiro partido de oposição ao governo federal e a todos nós. Política é um troço do dia-a-dia e ela mostra que nossa vida melhorou sim depois dos mandatos populares de Lula e Dilma.

Até 2002, mesmo a classe média vivia em apuros. O desemprego era uma epidemia, o salário era arrochado e a inflação estava muito mais alta do que mostram os indicativos atuais - naquele ano, o IPCA fechou em 12,5%, contra 5,9% de 2013. Porém, eu falei do dia-a-dia e a ele voltarei porque a lembrança não nos trai. É só puxar pela memória e lembrar do que tínhamos - seja bens ou direitos civis - há 12 anos e como estamos agora. Obviamente que há ainda muita coisa a ser feita, mas não tenham dúvidas: só existe um grupo político compromissado com esse direcionamento.

A presidência precisa de mais 4 anos de Dilma Rousseff. Só assim poderão ser consolidadas iniciativas como a utilização correta dos recursos do pré-sal na Educação e na Saúde já previstos por lei. É só no governo de Dilma que será possível o tensionamento para realizar reformas. Somente com Dilma é que está garantida a manutenção de políticas sociais como o Bolsa-Família, o Luz Para Todos e o Prouni. Com mais ênfase nessas eleições, entraram no debate os direitos LGBT e, curiosamente, a presidenta é acusada de omissão. No mínimo injusto, pois foi em seu mandato que se organizou a 2ª Conferência LGBT, na qual foram assumidos compromissos importantes com a causa. Não tenham dúvidas: o governo atual é obrigado historicamente a dialogar; já aqueles que querem entrar resolvem as coisas na porrada.

Isso nos leva à escolha para governador. O Estado não pode mais conviver com esse faraônico domínio tucano instalado por aqui há 20 anos. São duas décadas de borrachada, de repressão, de baixíssima representatividade - governam para poucos -, de aburda seca, de pedágios extorsivos, de professores assediados e de Metrô superfaturado num dos maiores casos de usurpação do dinheiro público. São Paulo precisa de uma mudança de perspectiva que, a meu ver, só virá com a eleição de Alexandre Padilha. É o mesmo voto de confiança que demos a Fernando Haddad, que vem revolucionando a capital paulista.

Com relação aos deputados e senadores, torno a repetir que o meu voto tem lado e, para garantir o máximo de independência possível a esse lado - o do povo -, é essencial a escolha por legisladores que sigam o mesmo princípio dos cargos executivos. Dessa forma, irei de Suplicy para o Senado, em respeito a seu histórico na casa e por ser o único representante de qualquer força progressista - há outros dois inomináveis na disputa que não é bom nem citar para não trazer mau-agouro.

Para deputado federal, votarei em Orlando Silva, que já foi ministro dos Esportes, realizando a Lei de Incentivo ao Esporte, e vereador de São Paulo, focando seu mandato em projetos na área do esporte e da cultura. Finalmente, meu voto para deputado estadual é em Gustavo Petta. Esse eu conheço de algum tempo, mais precisamente dá época do movimento estudantil, e ele sempre foi um militante ferrenho da Educação. Na presidência da UNE, por exemplo, colaborou de maneira decisiva na elaboração do Prouni. 

É preciso salientar que não quero obrigar ninguém a nada com isso. Trata-se apenas de uma manifestação legítima daquilo que penso como política, coisa que em tempos sombrios era impensável. Dessa maneira, caso alguém passar por aqui e tiver alguma dúvida, estão aí os links dos candidatos e até mesmo a caixa de comentários para o debate - papinhos de "petralha" e outros infantilismos sonháticos ou de discursos "apartidários" serão obviamente ignorados. 

Termino reproduzindo a cola da minha cédula:

Dilma - 13
Padilha - 13
Suplicy - 131
Orlando Silva - 6565
Gustavo Petta - 65100

Avante, Brasil!

01 setembro 2014

Sobre o que comemorar


Neste Dia de Corinthians, aquele que quiser visitar o Parque São Jorge para renovar seus votos irá dar com a cara no portão. A parte diretiva do clube, mantendo sua tarefa diária de afastar o Corinthians de todos os ideais propostos pelos antepassados, quer também distância de todos nós (apesar de mirar ansiosa o nosso bolso). O desrespeito e o descompromisso provavelmente dará o tom das ações de celebração promovidas pelas instâncias ditas oficiais, mas pouco legítimas e representativas da coletividade alvinegra. 

A nós, cabe a reflexão. É o Corinthians que todos aprendemos a amar que precisa ser comemorado. Hoje, família corinthiana, é dia de lembrar as lições de Antônio Pereira, Anselmo Correa, Carlos Silva, Joaquim Ambrósio e Rafael Perrone. É dia de celebrar os benfeitores Miguel e Salvador Bataglia, Alexandre Magnani, Alfredo Schürig, Alfredo Ignácio Trindade e Vicente Matheus. Dia de contemplar as obras dos artesãos Francisco Rebolo e Lourenço Diaféria. De agradecer ao mantenedor da história corinthiana Antoninho de Almeida. De louvar heróis de verdade que nos representaram no campo de batalha, e não os vagabundos milionários de agora. 

Em troca de uma inexplicável ostentação, a Fiel Torcida não conhece mais o porquê de sua existência e, conseqüentemente, o próprio clube acaba em crise de identidade. Saber de onde viemos é o primeiro passo para não errarmos o caminho adiante. Pois vamos lá: o Corinthians existe para dar alegria e voz ao seu povo. O Corinthians é a revolução, é o maior movimento social do mundo.

Neste 1º de setembro, portanto, o corinthiano deve avaliar o que está fazendo pelo Corinthians. Será que você está levando adiante a missão que lhe foi confiada pelos antepassados e por São Jorge? Será que não estamos entregando nosso amor de mão beijada a meia dúzia de bandidos enganadores, nos deixando convencer por desculpas esfarrapadas? Tomar conta do Corinthians é nossa obrigação e desavisado deve procurar outras bandas. Corinthians é compromisso, é dedicação de corpo e alma, não um hobby ou uma distração. 

Foi a partir dessas reflexões que me pus a sonhar, para não chorar de desgosto. Vislumbrei um movimento de massa tomando o Parque São Jorge de assalto e despejando de lá a corja que deita e rola às custas do nosso suado dinheiro. Vi o clube cheio de gente, debatendo Corinthians e tomando decisões que objetivam somente o bem da instituição. Da sede social, saíamos todos carregando na mão o ingresso comprado a preços realmente populares para nos juntarmos ao povão de Itaquera, que agora sim pode freqüentar o estádio. É esse o Corinthians que eu quero para nós e para as futuras gerações. E você?

PARABÉNS, CORINTHIANS! OBRIGADO, CORINTHIANS! 

CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum  
CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum
CORINTHIANS! tum-tum-tum

03 junho 2014

A Copa e minhas contradições


Não era este blogue que desde 2007 chama de Copa assassina o evento que inicia no próximo dia 12 de junho. Sim, caro visitante, você está correto. E se você só lê o primeiro parágrafo das coisas que escrevo aqui, irá tentar apontar qualquer contradição com o #vaitercopapracaralho que estou dizendo 7 anos depois. Mas será que há contradição mesmo? Vejamos.

Quem quiser gastar cinco minutos, pode ir ao primeiro texto que postei sobre o assunto, em novembro daquele ano. Ainda assim, vou destacar algumas passagens, principalmente com relação aos problemas - que disse e continuo dizendo - que essa tranqueira traria na bagagem:

"Vejam: os estádios, ao se adaptarem aos 'padrões FIFA', terão cadeiras numeradas. Tendo cadeiras, teremos que assistir aos jogos sentados. Durante a Copa, foda-se. Mas eu NUNCA assisto ao jogo sentado. Isso é inconcebível! Outro grande problema vai ser a elitização do esporte. Os ingressos, que hoje já são caros, irão atingir um patamar estratosférico após o evento. Nunca mais o povo terá seu ópio. Provas? Acabaram com a geral do Maracanã e no Pq Antártica entrará em vigor um tal setor VIP, que está fazendo a porcada gritar até com a nonna. Fora esses problemas de essência, muitos outros virão:

- consolidação dos pontos corridos
- europeização do futebol latino-americano
- definhamento dos clubes por conta da supervalorização de atletas
- atrelamento ao calendário europeu, dando fim aos charmosos campeonatos regionais
- fim das organizadas"

Reitero, portanto: minha preocupação é com o futebol. Lá adiante no texto de 2007, eu avisei: "não há nenhuma possibilidade de aceitar reclamações de qualquer natureza (sobre política, políticos, violência) desse tipo de gente. Eu não entro aqui nem no mérito do financiamento público - não previsto mas que irá ocorrer sem sombra de dúvida. Se o problema do país fosse esse, estaríamos em melhor situação". 

Falava dos oportunistas da Copa, que sempre apareceram apenas na torcida (contra) e agora, com a realização do evento no Brasil, viram uma chance incrível de colocar suas asinhas de fora. Não pisam num estádio e acompanham seu time só por meio dos canalhas da imprensa. Vivem arrotando as merdas que a mídia dissemina por aí, posando de politicamente corretos e pagadores de impostos.

Entretanto, aqui se defende a arquibancada e o alambrado. Aqui se defende o futebol popular e toda a significância do esporte para esse povo. Dentro ou fora do país, promovendo a elitização ou não, com a bola rolando eu continuo torcendo pela Canarinho. Aliás, vou torcer ainda mais agora, só para ser oposição a essa gente aproveitadora que hoje é o público-alvo preferido dos dirigentes esportivos e do plim-plim, a verdadeira dona da coisa toda.

Oras, é consenso que a Federação Paulista de Futebol está infestada de filhos da puta. Vou deixar de ir a jogos no Paulistão ou chamar o campeonato de "paulistinha", como fazem alguns incautos que muitos adoram? Odeio o Brasileiro por pontos corridos, mas vou abandonar os estádios? Da mesma forma que não deixo de ser corinthiano mesmo me indignando com as cagadas diárias feitas pela diretoria do clube, não vou abandonar a seleção brasileira numa Copa do Mundo.

Portanto, repito que #VAITERCOPAPRACARALHO! Vai ter muita Copa e eu vou torcer, encher a cara todo jogo e comemorar caso o Brasil garanta o Hexa. E praqueles que estão na onda de partidarizar ou disseminar imbecilidades como "ah, tinha que gastar com Saúde e Educação", sugiro se informar melhor. Porque você está passando muita vergonha em público. Muita mesmo. Se você não apoiou nossa luta sete anos atrás, agora não venha despejar vossa alienação. Deixe o futebol em paz, por favor.

29 maio 2014

9!


Eu sempre me pego pensando em tudo que a gente já passou quando chega o 29 de maio. É uma história bonita um bocado e, além das grandes emoções, eu gosto de lembrar dos pequenos detalhes. São eles que, ao lado do amor gigante, fazem tudo ter mais gosto e mais graça.

Eu fico lembrando da primeira bronca que te dei quando você comeu limão e saiu no sol. Dos olhares de reprovação com aquelas minhas piadas sem graça. Da vez que meu carro quebrou bem na frente da sua casa, ainda no comecinho. Da sua alegria quando a gente está numa festa - se bem que a gente não tá mais agüentando muita festa - e toca Hanson. Do dia em que você descobriu que o sashimi de atum é o grande líder do universo.

Sua cara de felicidade nessas horas é impagável. E fazer ela aparecer sempre que possível é minha missão de vida. Pense sempre nisso quando eu fizer alguma bobagem, porque não é  por mal. Talvez por burrice, por infantilidade ou por desatenção. O fato é que se depois de tudo vier seu sorriso e o brilho nos olhos, eu me dou por satisfeito.

Amo-te um tanto! Amo-te mais que um tanto! 

https://www.youtube.com/watch?v=nKH71CgPCY8

P.S.: essa é mais uma das pequenas coisas: você consegue me fazer gostar de cada música!

14 maio 2014

Manifesto da Fiel Torcida

O manifesto abaixo foi escrito por coletivos corinthianistas e visam conter o mais grave ato no processo de elitização promovido pela diretoria do Corinthians. Faço apenas considerações pessoais com relação ao texto que segue:

- a indignação não é de agora. Há muito um grupo pequeno de torcedores já vem alertando sobre a exclusão de grande parte da torcida dos estádios. Este blogue, por exemplo, trata do assunto desde 2009. 

- às reivindicações, incluo a necessidade de se democratizar a participação política no Parque São Jorge por meio do Fiel Torcedor.

- li explicações de alguns conselheiros do clube, que alegam não ter muito o que fazer no caso. Concluo que o Conselho, ao contrário do que diz o Estatuto do clube, é consultivo, não deliberativo. Vale ressaltar que tal aberração só existe por conta do indecente chapão, instituído na última eleição e que minou qualquer possibilidade de contestação da diretoria. Aliás, ele foi avalizado pelo mesmo Conselho que hoje abriga representantes autodeclarados incapazes de promover alterações significativas e de interesse geral dos corinthianos. 

- se ainda assim torcida corinthiana não se mobilizar e começar a protestar ostensivamente pela revisão de preços e também pela abertura política no clube, todas as previsões catastróficas feitas por aqui irão se concretizar o mais breve possível. Perderemos uma oportunidade histórica. Aliás, já estamos perdendo...

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Senhor Mario Gobbi e diretores do SCCP,

É constrangedor? Sim. Mas temos que lembrá-los, mais uma vez, daquilo que determinou nosso primeiro presidente, Miguel Battaglia, em 1910: “este é o time do povo, e é o povo que vai fazer este time”.

No que tange à política de acessos à Arena Corinthians, em Itaquera, os senhores aparentemente desconsideram a mensagem dos fundadores e encetam ofensiva sem precedentes em favor da elitização do espetáculo esportivo.

Se os senhores são realmente dignos de gerir a maior instituição popular do país, aprendam: não é assim que se faz. É preciso ouvir a Fiel, é preciso dialogar, é preciso preservar o valioso ensinamento da Democracia Corinthiana.

Se há um novo estádio construído, ele tem origem no suor e no sangue de milhões de corinthianos, vivos ou mortos, que lutaram para concretizar este sonho. E seremos nós os responsáveis por pagar a conta desta obra monumental.

Portanto, não tapem os ouvidos, tampouco fechem os olhos à realidade. Se concordam em gerar diálogos, entendimentos e ritos de cooperação, prestem atenção a estas reivindicações.

1) Dialoguem com civilidade, como convém na tradição corinthianista. Chega de ironia, cara feia e arrogância. Essa postura não combina com líderes de verdade. Deixem de lado os tecnicismos. A realidade contempla a Contabilidade, mas também os sentimentos humanos. Acordem!

2) Façam com que os ouvidores do Fiel Torcedor sigam essa lição. Se eles são remunerados, que trabalhem e honrem o que ganham. Que sejam menos indolentes e menos carrancudos.

3) Preços devem ser fixados a partir de dois parâmetros: a necessidade de quem vende e a disponibilidade de quem compra. Os senhores, equivocadamente, miram somente o primeiro personagem do jogo das trocas econômicas. Nossos salários e rendas não foram subitamente elevados apenas porque o Corinthians inaugurou sua arena. Bom senso é bom. Pratiquem-no.

4) Valores devem ser reajustados, evidentemente, mas basicamente em função dos indicadores de inflação. O Corinthians não vive num Estado paralelo, em que os preços podem se elevar bruscamente do dia para a noite. Foi o que os senhores fizeram com os valores dos ingressos, especialmente no programa Fiel Torcedor.

5) O Fiel Torcedor tem, sim, suas virtudes. Não as negamos, pois se inserem no contexto do moderno e cômodo comércio eletrônico. Ele reduziu sensivelmente a ação dos cambistas no processo de venda de ingressos. É também uma forma de organizar e agilizar o acesso ao estádio. No entanto, muitas correções devem ser feitas na gestão do programa.

6) O sistema não pode, jamais, constituir castas de privilegiados, tampouco impedir que outros aficcionados tenham acesso ao estádio em dias de jogos. O FT não pode restringir, tampouco gerar obstáculos à participação da nação alvinegra. Saibam: somos 30 milhões de almas, e não apenas 68 mil.

7) O novo sistema de setorização do estádio foi, sem dúvida, produzido sem o devido critério. Resultado: torcedores claramente prejudicados em suas escolhas, de locais e preços. Nesse ponto, exige-se correção imediata.

8) Percebam quão absurda é vossa política. Como pode um Fiel Torcedor ser reduzido à categoria de membro de um clube de compras? Por que pode pagar por um ingresso, mas não pode ter voz e voto no clube do coração? Por que os senhores caminham, neste particular, na contramão da história?

9) E é tão injusta quanto ridícula vossa fórmula que impede o acesso de sócios patrimoniais ao sistema de comercialização de ingressos. Isso quer dizer que um filiado do SCCP pode, um dia, tornar-se presidente da instituição sem jamais ter pisado em uma arquibancada. Falando sério: os senhores têm ideia do absurdo dessa política?

10) Os senhores já foram crianças? Acreditamos que sim. Portanto, foi nessa fase da vida que constituíram vossos amores e fascinações esportivas. Os senhores eliminaram as isenções garantidas aos meninos e meninas que agora se iniciam no corinthianismo. Ao mesmo tempo, oferecem descontos de faz-de-conta para os dependentes do FT. Como pretendem cativar a nova geração de torcedores-consumidores? Convém ainda que concedam justas facilidades aos irmãos da melhor idade. Afinal, foram eles que consolidaram, com muito esforço, a tradição corinthiana.

11) O FT, aliás, está intoxicado pelo vírus das restrições. Os senhores ainda não notaram a diversidade dos núcleos familiares atuais? A corinthiana associada quer acessar o novo estádio com seu companheiro. Os enteados e sobrinhos também desejam acompanhá-los. Se o Brasil tanto avançou na compreensão dessa complexidade, como os senhores podem ter retrocedido tanto? Por favor, respeitem a família corinthiana.

12) Somos também obrigados a considerar escandalosa vossa política de aplicação de castigos. Quem cancela um plano do FT, agora, é obrigado a cumprir uma “quarentena” de um ano. Em que escola de marketing os senhores aprenderam essas estratégias de relacionamento com o cliente? Será que faz sentido? Será que agrega valor, ainda que comercialmente, ao SCCP?

13) Também é certo que o Corinthians tem seguidores em todo o Brasil. Os senhores foram a Manaus assistir ao jogo da equipe? Se foram, viram a quantidade de aficcionados locais? O FT não pode se restringir ao torcedor paulista, o que comparece todas as vezes, por proximidade. Esta é uma cidade de passagens. É preciso criar mecanismos para a venda de ingressos fora do Fiel Torcedor. Discriminar o corinthiano de fora, igualmente, não nos parece uma condizente com a tradição do Corinthians.

14) Ao mesmo tempo, sabemos que alguns dos corinthianos não podem comparecer sempre ao espetáculo. Por quê? Porque ainda não recebem proventos maiúsculos. Porque labutam nos horários de jogos. Porque têm compromissos familiares. Portanto, é urgente a criação de meios para garantir o acesso também desses irmãos alvinegros. Crie-se o FT dos que vão menos. Constitua-se uma forma confiável de vendas avulsas.

15) Na realização da Copa do Mundo, dá-se atenção especial, por exemplo, a torcedores portadores de limitações físicas e a obesos. Aprendam com essa experiência. Percebam também os senhores a diversidade. Prestem atenção nas particulares e necessidades das pessoas que amam o nosso Corinthians.

16) Ouvimos muito falar em transparência. No entanto, parece-nos opaca a parede que nos separa da gestão do Fiel Torcedor. Gostaríamos de saber quem o administra e quanto recebe pelos serviços prestados. Não pode o próprio clube gerir este segmento de negócios?

17) Leiam a história, senhores. O Corinthians é, desde sempre, uma referência de difusão do pensamento democrático neste país. Nossa tradição é de solidariedade. Nascemos para criar protagonismos populares. Portanto, não se atrevam a fechar as portas da Arena Corinthians para o povo da Itaquera trabalhadora e do resto da periferia. Nosso estádio até pode servir para vossas festas VIP. No entanto, não pode ser território restrito à “gente diferenciada”. Deve também funcionar como pólo irradiador de cultura e cidadania na Zona Leste da cidade.

18) Se os senhores pretendem fazer caixa para pagar a dívida contraída com a construção da Arena, evitem o recurso fácil à exploração voraz do torcedor-consumidor. Tampouco se fiem na assiduidade dos vossos confrades da elite, que dificilmente se deslocarão a Itaquera em dias frios, com o time já desclassificado de um torneio de menor importância. Em vez disso, acreditem no povo. E para fazer tilintar o dinheiro em vossas caixas registradoras, apostem no volume. Baixem o preço e a Fiel lotará sempre a praça esportiva. Não se trata apenas de uma comportamento que contempla a justiça, mas também de uma estratégia sensata de ampliação de receitas.

Abram os olhos, estendam as mãos, compreendam as demandas dos donos do Sport Club Corinthians Paulista. Os senhores são nossos delegados na gestão da instituição. Convém que busquem aprimorar vossas condutas na troca de experiências com o povo corinthiano.

Que o “mais brasileiro” converse já, sem melindres, com os filhos desta mãe gentil.

RESISTÊNCIA CORINTHIANA 
BRIGADA MIGUEL BATAGLIA

22 abril 2014

Debatendo Corinthians


O Silvinho, que é conselheiro do Corinthians, veio no último post - Corinthians que morre aos poucos - dar sua opinião sobre o que escrevi. Como achei o debate importante demais para a caixa de comentários, resolvi publicá-lo aqui, até para que mais gente possa meter o bedelho. Eis, então, os pontos de vista.

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Caro Craudio Japa,

Não só o respeito como corinthiano, mas também por ser um incansável defensor da igualdade dos direitos e das causas populares.

Porém, quando leio que se refere aos "200 traidores do conselho", lógico, óbvio, evidente, sinto-me incluído.

Não me julgo um traidor. Nem da causa, nem do club, nem de ninguém. E respondo por mim. Antes porém, admito que a postura do conselho deliberativo é vergonhosa sob vários aspectos. E piora na medida em que vários, dezenas eu diria, destes conselheiros, tem origem no cimento das arquibancadas. E hoje se calam, pior, corroboram muitas das decisões que lá são tomadas.

Sob os ingressos tenho minha opinião. Analiso não tão somente sob a ótica apaixonada, mas sob o ponto de vista dos negócios. O futebol é um produto, um negócio, que se tornou caro. Remar contra essa maré é dar murro em ponta de faca. E quando eu dizia isto na bancada do melhor programa da Rádio Coringão, ao lado do meu incansável e fiel parceiro Filipe, ele sentia náuseas. Mas voltemos ao tema. O futebol é um produto, se tornou caro, as contas não fecham, os clubes, todos, mal geridos financeiramente que são, estao a bancarrota. Antigamente, quando o clube detinha a totalidade dos direitos economicos do atleta (o antigo passe)não visava lucro. Afinal, clube é uma instituicao sem fins lucrativos. Mas o tempo passou, as coisas mudaram, surgiram os empresários, os direitos federativos e economicos e hoje, na medida em que uma empresa é dona de parte de um atleta, ela investe e visa o lucro, como em qualquer negócio, como em qualquer produto. Jogador virou produto também, diga-se de passagem. Ja dizia lá trás, que a conta do estádio seria salgada e alguém iria pagar esta conta. Quem paga ? Obvio, o consumidor final, no caso o torcedor. Se acho justo ou injusto o aumento, acredito que a alquimia financeira precisa ser compreendida. A conta tem que ser analisada. O Fiel Torcedor, que chamo de cambista digital, presta um serviço, bom ou ruim (atualmente muito ruim, precisam melhorar) não vende ingresso apenas, vende comodidade. Tirou o torcedor da fila física e passou para o comodismo da fila digital. Portanto, na medida em que prestam um serviço que proporciona a comodidade, tem seus custos e obviamente estes custos compõe o preço final. Outra coisa, venho dizendo há tempos que "não se constrói um estádio impunemente". E o que quero dizer com isto? Quero dizer que levantar uma "Arena", do porto da que está sendo levantada em Itaquera, luxuosa nos detalhes, moderna, bem localizada, custa e custa caro. Não tem dinheiro público, a obra é privada e a conta tem que ser paga e vai ser paga. Quem paga? O Corinthians. Como paga? Com as receitas que a própria Arena proporcionará. Caro Japa, sei que esse bla-bla-bla todo não o convence, não mudará a sua e a opiniões de muitos corinthianos. Mas por outro lado, peço ponderação e análise. E alguns, menos hipocrisia. Paga-se caro por muita coisa nesse país. Impostos, por exemplo. Taxas, das mais variadas. Prefeitura, Governos estadual e federal tiram o nosso couro, sem dó. Paga-se caro quando se vai ao cinema, com aqueles telões e pipocas enormes, paga-se caro quando se vai a uma pizzaria bacana nos Jardins, quando se vai a uma loja comprar um tênis ou uma camiseta. Paga-se caro em quase tudo que consumimos, inclusive nos transportes, péssimos e lotados.
Finalizando, não aceito o rótulo de traidor. Não faço propaganda da minha caminhada como conselheiro, das minhas brigas, de cada vez que me levanto contra algo no clube e não tenho apoio, pelo contrário, me dão as costas e até prejudicam o trabalho. Abraço.


 Silvinho:

Sobre eu te incluir na denominação "traidor", é impossível pra mim pensar em outro termo. Esse grupo foi eleito no lote, prometendo a quem quisesse ouvir que essa nojeira do chapão seria eliminada. O mandato de vocês está no fim e nada foi feito. Pelo contrário, sempre foram inventadas desculpas esfarrapadas para que isso não acontecesse. Se você encontrar outro termo que se encaixe melhor nessa situação, me avise e aí eu troco e faço a reparação pública. Ainda sobre isso, trata-se apenas de uma delimitação política e, nesse caso, estamos em trincheiras opostas. Em outras ocasiões, estamos na mesma trincheira - é o caso da defesa da Rádio Coringão, por exemplo. Sei que você briga por coisas que me dizem respeito e também deixo claro que o uso do termo em nenhum momento quer atingir sua moral. Somos, pelo menos a meu ver, amigos congregados pelo Corinthians. Novamente, é o preço que se paga pela atuação em bloco e que mostra mais um malefício desse chapão. Se você compõe o bloco, responde por ele, mesmo não fazendo merecer a crítica.

Sobre a questão de "business", apenas me responda: qual empresa pagaria 40 milhões num jogador de merda - fora o salário - e ainda entrega o cara pra um rival pagando metade do salário quer fechar as contas? Qual empresa deixaria de investir na formação de funcionários, sabendo que essa pode ser uma importante fonte de renda, e prefere deixar isso na mão de gente que só vai arrombar os cofres? Qual empresa iria agir contra o seu "cliente", usando a mídia para criar divisões na torcida e nutrir adversidades só para escamotear seus erros administrativos? Que empresa paga mais caro num mesmo "produto" três anos depois? Ou pior: que empresa dá de graça um "produto" seu pra concorrência e, depois de um tempo, tem que pagar por ele?

Justificar o aumento de ingressos sob a ótica do futebol-empresa é muito cômodo. Só que não é real, a partir do momento em que o Corinthians - e nenhum clube grande - se porta como tal. Aliás, se uma empresa quer expandir seus negócios, e aí a gente toma a construção do estádio como um exemplo, ela deve avaliar os impactos financeiros disso na venda dos seus "produtos" para não deixar de fora um "cliente" outrora contemplado. O Corinthians resistiria a uma auditoria (digo auditoria de verdade, não esses relatórios com dados escamoteados como "diversos" em gastos e rendas)?

Aí caímos na grande ironia: nenhuma empresa sólida iria admitir um chapão sendo base para a administração, tampouco a falta de transparência. Só querem cagar modernidade na hora de sangrar o bolso do torcedor, mas nunca entregam a contrapartida. Aí ficamos você e eu debatendo coisas importantíssimas na internet, quando deveríamos fazer isso também no clube. Mas oras, eu me associei e no meio do caminho tive de deixar de pagar, porque os aumentos no ingresso e na mensalidade me impediram de continuar adimplente em ambos. Aumentando a escala, é isso que aconteceu nos estádios. E é o Corinthians virando as costas pra sua gente. Um crime ou não?

17 abril 2014

Corinthians que morre aos poucos


O Corinthians que a gente conheceu não existe mais. Aquele que era o maior movimento social do mundo e que agregou anseios de liberdade e inclusão do povo está quase morto. Sob a desculpa esfarrapada da "modernidade", protagonizamos um crime hediondo: cem anos após ter revolucionado o esporte ao popularizá-lo, o Corinthians devolve o futebol à elite. 

Hoje, o Corinthians é mero banco de negócios para uma meia dúzia de diretores, outras dezenas de parasitas vitalícios e os 200 traidores em seu Conselho Deliberativo. Todos eles não têm compromisso algum com a causa corinthiana de muita luta e superação encampada pelos nossos ancestrais. Estão lá para representar seus interesses pessoais, e só. Nada mais elementar, portanto, a administração que se define como "Renovação e Transparência" - e que nunca apresentou essas características - ter ignorado o feito corinthiano de 1913 no Velódromo.

Mas não ignoram - ou tentam reescrever - somente nossa história. É nesse cenário que estão inseridos o estádio em Itaquera e sua política de venda de ingressos. Para muitos, a obra é a realização de um sonho. Para mim, motivo de muita desconfiança e preocupação. Agora mesmo abriram as bilheterias online do primeiro jogo do Brasileirão 2014 e o presente foi o aumento extorsivo de 30%. Se me lembro bem, uma das justificativas para a construção do estádio era levar o Corinthians ao povo da zona leste, região das mais pobres de SP. Pergunto: o corinthiano de Itaquera, de São Miguel ou do Itaim Paulista vai conseguir pagar esses valores cada vez mais absurdos?

Tais iniciativas não são por acaso, já que o descompromisso do lado de cá é igual ou até maior. O torcedor corinthiano se acomodou, embarcando nos papinhos furados de jucakfouris da vida e vomitando por aí toda a imbecilidade do modelo empresarial e mercadológico ao futebol. A mim, ou é ignorância das brabas ou é péssima intenção. A história do Corinthians não contempla  esse pensamento; pelo contrário, o clube deveria ser pilar de resistência.

Curiosamente, aqueles que buscam uma mobilização para tentar conter esse processo de elitização são tratados com desdém. Há uns dois anos, a Brigada Miguel Bataglia organizou algumas panfletagens na porta do Pacaembu e foi motivo de riso. Riam do que aqueles corinthianos? Quem freqüentou as arquibancadas em décadas passadas percebe nitidamente a ausência de torcedores de longa data que foram excluídos dos estádios por conta do dinheiro. E o número de apartados só cresce, tudo em benefício dos "clientes", o principal alvo dos dirigentes e da TV - aquela que realmente manda no troço.

Assim sendo, enquanto o corinthiano continuar aceitando os espelhinhos de convencimento e abaixando a cabeça por qualquer trocado, é ele o  maior responsável pela morte do clube que diz amar. Lá na frente, quando a vaca já estiver com as quatro patas enfiadas no brejo, seremos nós aqueles que deixaram essa vergonha acontecer. Nenhum anticorinthiano faria melhor...

05 fevereiro 2014

Apontando dedos


Não é preciso me alongar na situação do Corinthians. Nos últimos dias, as evidências daquilo que a gente vem falando há muito tempo se afloraram e aceleraram o apodrecimento do futebol. Relutei em escrever sobre a cobrança feita pelos torcedores - em especial o pessoal dos Gaviões da Fiel - no CT porque estaria, e ainda estou, esperando a bile descer. Por isso, é melhor recomendar quem faz isso com muito mais sabedoria, competência e calma. Leiam o Rafael Castilho. Leiam o Guilherme Pappi.

Vou direto à parte que me cabe nesse debate, e não sei se é uma contribuição de fato. Essa clara segregação que tenta garantir a um lado (aqueles que criticam a ação de sábado) e outro (aqueles que apóiam) a denominação de "corinthiano de verdade" deveria servir de catalisador para o furdunço que muitos de nós desejamos e que pode ser o único jeito de barrar a imbecilidade no futebol.

Você aí, que adora berrar que as torcidas são reduto de bandido e marginal: você fala com desconhecimento de causa. Se a sua pegada é ficar vendo o Corinthians no buteco, em casa ou na puta que o pariu, ótimo. Saiba, porém, que sua visão sobre o que acontece na arquibancada é nula, se muito superficial. Você repete as bobagens da imprensa, você vê um Corinthians da televisão, das gracinhas da globo e da frescura de uma civilidade que tem como premissa o individualismo e o isolamento.

Já você que somos da arquibancada, analise sua postura nos últimos anos. Você engoliu a deturpação do conceito de apoio incondicional, transformando a idéia em pura submissão a diversas aberrações, entre elas aplaudir derrotas vexatórias e compactuar com vagabundos vestindo nossa camisa. Você também não cobrou a alta dos preços nos ingressos e tratou qualquer ato nesse sentido como motivo para piada. Você abandonou o portão 23, mesmo cantando que nunca iria abandonar o Corinthians - e o Corinthians e o portão 23 do Pacaembu são carne e unha. Você homenageia jogadores indizíveis no Carnaval. Aliás, você anda se preocupando mais com o Carnaval.

Uma digressão sobre essa segregação latente: aqueles que hoje dizem que não vão aos estádios por conta da violência ou do "loteamento da arquibancada" já pararam para pensar na causa disso tudo? Peguemos o Pacaembu. Há coisa de 20 anos, não havia aquelas malditas cadeiras laranjas. A arquibancada era vasta, dinâmica e diversa. Todos nós deixamos que ela fosse fatiada em nome da grana que alguém embolsou. Talvez seja por isso que você tenha saído do estádio e passado à TV, não? Talvez a divisão entre "organizados" e "comuns" esteja servindo a algum propósito, não? E tal propósito, com certeza, não traz benefícios ao Corinthians.

Generalizar é fácil. Eu mesmo aqui o farei: jogador é tudo vagabundo e deve ser cobrado sim. Se a cobrança foi violenta ou não, isso depende de inúmeros fatores como falta de liderança e até um desejo de devolver toda a frustração e a raiva que as últimas apresentações do time proporcionaram. Se eu faria desse jeito? Não sei. O que eu sei é que o Corinthians é coisa séria e que a crise de identidade pela qual o clube passa me dá ânsia de vômito. Por isso mesmo, toda essa disposição dos dois segmentos da torcida em bater boca na internet precisa ser canalizada para ações efetivas de transformação. 

Este espaço se abre a sugestões, opiniões e contribuições, desde que não partam para a babaquice de um querer se achar mais corinthiano que outro ou de criminalizar essa ou aquela iniciativa. O inimigo, sempre é bom dizer, está nas redações. Está nas salas ar-condicionadas do Parque São Jorge. O inimigo prometeu acabar com o chapão no Conselho Deliberativo e não cumpriu. O inimigo aumenta o preço do ingresso para afastar o torcedor e trazer o cliente. O inimigo não quer deixar o corinthiano participar da política do clube e quer a sede social vazia. O inimigo esquece da Revolução de 1913 e do Centenário de 1914.

Não há contexto melhor para uma intervenção no Corinthians que o atual. Mobilize-se. Dá trabalho, é mais difícil que ficar xingando alguém que deveria ser seu aliado de trincheira, mas é o nosso papel e nossa obrigação, por tudo de bom que o Corinthians já nos proporcionou. 


07 janeiro 2014

O excludente Corinthians Incorporation


Entre os alicerces do Corinthians, é imprescindível destacar o Botafogo do Bom Retiro, descrito como o rei da várzea paulistana no início do século XX em "Coração Corinthiano", de Lourenço Diaféria. Não só pelo ímpeto guerreiro em campo, o Botafogo também era conhecido por agregar segmentos excluídos da sociedade e ser uma das poucas agremiações da época a aceitar e bancar os negros nos escretes. Essa foi uma das principais heranças que os ancestrais corinthianos trouxeram dos campos enlameados das margens do Tamanduateí, palco das pelejas do Galo da Várzea.

Como sempre alerta o nosso historiador-mor Filipe Gonçalves, o Corinthians já existia antes mesmo de ser fundado, e foi natural a transferência para o Coringão desses ideais do Botafogo, que contava com craques que seriam posteriormente símbolos corinthianistas, como Neco e Amílcar. Lá, jogava-se não só pela vitória: era uma perfeita representação da luta de classes em que a sobreposição do pobre ao rico era possível (e quase sempre constante).

Um século depois, o Corinthians mudou. O ano de 2014 nem bem começou e uma das primeiras atitudes da corja que ocupa as salas ar-condicionadas do Parque São Jorge foi restringir novamente o acesso à sede social. A justificativa é risível: "tendo em vista que consideramos e entendemos que a prioridade é o conforto e bem estar do associado e não de terceiros que excepcionalmente queiram usufruir das nossas instalações."

A partir de agora, quem quiser conhecer a casa do Corinthians sem ser pela visita monitorada (não encontrei no site oficial informações sobre isso) deverá desembolsar R$50, além de depender da boa vontade de algum associado que autorize sua entrada e se responsabilize pelos seus atos. Ainda de acordo com a diretoria, a medida encerra campanha de aumentar o número de sócios. Vale dizer que eu, por acaso, aderi à tal iniciativa e tive de largá-la no meio porque não pude pagar o restante do título e as mensalidades. Era isso ou os ingressos de jogos, e imagino que muitos desses novos associados (um aumento de 40% que, num universo de 2 mil pessoas, é quase nada) tenham feito a mesma coisa em resposta à inabalável elitização do clube.

Voltando à lamentável decisão, trata-se de uma ofensiva declaração de impedimento: o sujeito vem de algum lugar do Brasil com, suponhamos, dois filhos só para conhecer o Corinthians e terá de desembolsar R$150, isso caso alguém endosse sua permanência. Mais grave ainda é a estratégia por trás disso. Entenda a "prioridade ao conforto e bem estar do associado e não de terceiros" como "chega de encher a sede com essa gentinha sem dinheiro e que, de repente, pode querer cobrar diretor ou conselheiro pelas cagadas que a administração vem fazendo".

É mais do que óbvio o interesse em manter o clube vazio. Ali, eles não podem esconder nossa história, não podem esconder o legado deixado pelos ancestrais da várzea, do Botafogo. Estar no clube é inspirador e motiva qualquer corinthiano a retomar o Corinthians do povo, pelo povo e para o povo. Mas a nossa realidade é outra, infelizmente. Quando iríamos imaginar que o Corinthians fosse oficializar em nota uma postura tão nojenta e excludente como essa?

O Corinthians não é de meia dúzia de associados. O Corinthians não é de um punhado de cartolas e conselheiros, todos traidores e mentirosos que promovem aberrações como esse chapão que nunca será extinto. O Corinthians é nosso, é do torcedor. E precisamos retomá-lo.

09 dezembro 2013

Não esqueçam 2013


Este post tem como objetivo encerrar o posicionamento oficializado em agosto de 2011, quando prometi não mais tratar neste blogue sobre qualquer opção tática do então técnico do Corinthians para não ficar me repetindo. A era do "gênio" acabou e, mesmo que as notícias não nos dêem motivos para comemorar, já é um alívio não ter mais que ver ali no banco alguém que foi elevado a postos que pouco condizem com o homenageado.

Aliás, quantas homenagens, não? Exageradas, até. De minha parte, para cada grande vitória do Corinthians no período tite, há um vexame histórico. Derrotas para times inexpressivos, resultados desfavoráveis em pleno Pacaembu e, principalmente, a consolidação de um modo de jogar que desrespeita a trajetória de lutas e entrega característica do Coringão. Foi isso, aliás, o que mais me incomodou nesses 3 últimos anos e que também culminou na vagabundagem explícita dos jogadores.

Ora, meus caros, não dá para dissociar a displicência de todo o milionário elenco corinthiano e seu comandante. Para mim, o chefe de uma equipe vagabunda é no mínimo conivente com isso e, portanto, vagabundo também é. Se o responsável pela escalação e treinamento do time escala mal e não coloca jogador para treinar e eliminar deficiências apresentadas, ele tem a maior parcela de culpa na crise ideológica que se vê em campo.

Mas isso são percepções. Aos fatos. Destaco abaixo o desempenho do Corinthians no modorrento Brasileiro de pontos corridos deste ano. Isolei os confrontos para ver como seria nosso desempenho se eles fossem no sistema de mata-mata. O cenário é desolador, já que contaríamos com eliminações para botafogo, goiás, ponte preta (rebaixada), cruzeiro, portuguesa, atlético/mg, inter e náutico (rebaixado e dono da pior campanha da história recente). São  adversários que, na maioria das vezes, foram derrotados por nós em decisões.































De forma que nossa participação no Brasileiro deste ano não poderia ter se encerrado de maneira mais propícia para ilustrar o que foram esses anos de tite. Aliás, a derrota para o náutico, justamente um dos piores ataques do torneio ao lado do próprio Corinthians, impossibilitou outra marca recorde negativa: 18 empates na competição.

O amigo Domingos Sala Vargas, corinthiano de quatro costados e dono de um blogue riquíssimo em imagens do Timão, vem dizendo em suas participações sempre imprescindíveis na Rádio Coringão que não devemos esquecer 2013. Faço coro com ele, porque é inédita a falta de respeito. Há diversos indicativos práticos e subjetivos, e aqui citei apenas alguns deles, que desenham um paradoxo assustador. Se hoje conquistamos títulos importantes, eles vieram à custa de perda de identidade e total alienação da torcida.

É preciso ter 2013 muito claro em nossa memória para não repetirmos erros graves e até criminosos. Tivemos o centenário da Revolução de 1913, ignorada institucionalmente pelo clube. Trata-se, talvez, da nossa maior vitória, mas aquela parte da história em que o povo se sobrepõe e garante o bem coletivo não anda sendo muito bem vista ou valorizada. Que cada corinthiano reflita sobre o seu comportamento e tenha este ano como algo a se evitar na conduta daqui para frente.

29 novembro 2013

Pacaembu, pedaço de mim


Chegamos ao fim de uma era. Amanhã, no dia 30 de novembro de 2013, o Estádio Municipal do Pacaembu deixará de ser a casa oficial do Corinthians. É representativo o adeus, já que ele simboliza mais que a simples mudança de endereço. Trata-se da pedra fundamental para deixarmos de ser o Time do Povo outrora vislumbrado pelos nossos ancestrais e iniciarmos vida nova como um empreendimento com objetivos meramente financeiros, sobrepostos ao caráter de mobilização social, política, cultural e esportiva que nortearam nossa fundação.

Indício mais gritante desse direcionamento é o pouco caso com que a data está sendo tratada pela diretoria e, principalmente, pela Fiel Torcida. Preferem homenagear um dos responsáveis pela crise ideológica disseminada no Parque São Jorge a festejar e agradecer tudo aquilo que o Pacaembu nos proporcionou. O corinthiano, sempre grato aos seus heróis, hoje desdenha um dos seus maiores aliados.

Foi no Pacaembu onde experimentei algumas das principais emoções da minha vida. Sorri, comemorei, chorei, me decepcionei, fiquei com raiva, apanhei, apartei briga, fiquei rouco, gritei mil vezes Corinthians. Ali, naquele cimento da sagrada arquibancada, forjei minha cidadania e minha ética, aprendendo com os mais velhos e tentando passar aos mais novos algo que só vejo em estádios: a irmandade. Quantas não foram as lições desde o dia 07 de abril de 1993, quando pisei pela primeira vez no Municipal e percebi que era ali onde eu precisava estar durante toda minha vida. (A gente é ingênuo na adolescência)

E a festa, meus caros? As bandeiras, rojões, papéis higiênicos, aquela fumaça de cigarro e maconha, cenário perfeito. Os canalhas que comandam o futebol podem tentar acabar com o esporte, mas não com a memória. Toda vez que atravesso o Portão Principal, lá estão a minha esquerda os Gaviões da Fiel. Mais ao centro (não há as malditas cadeiras laranjas nessa minha digressão), abaixo das cabines de rádio do interior, o Ribeiro faz seu corre com a Explosão Coração Corinthiano. Acho que era ali onde Dona Elisa costumava ficar, e com certeza era dali que o Seu Tantan comandava o furdunço. Caminhando em direção ao Tobogã, está a Camisa 12 que, aliás, era recheada de comunista, isso eu vim saber depois. Quase lá no fim da ferradura da arquibancada, eis os Loucos da Fiel. Acima do Principal, a recente Pavilhão 9 começa a tomar corpo. À direita, a lendária e folclórica Torcida da Curvinha divide espaço com a Chopp. Era pano de Corinthians para todo lado. E quando as baterias desciam e faziam o aquecimento? E as assembléias no final do jogo? E o Alambrado, o importantíssimo alambrado? E a churrascaria na descida da escadaria (sempre quis ter dinheiro para comer lá antes do jogo)? E quando vendia cerveja? E os vendedores de amendoim? Lembranças, grandes lembranças!

Cada corinthiano sabe de cor e salteado o seu próprio Pacaembu e é esse significativo laço afetivo que será cortado no próximo sábado. São milhões de histórias que se cruzam na Praça Charles Miller para uma gelada, que se abraçam na hora do gol, que sofrem com as derrotas doídas e que, acima de tudo, tornam o Corinthians cada vez maior e melhor. Me pego imaginando o Pacaembu do vô Venâncio, que saía lá do interior e viajava 12 horas de trem para ver o Timão. Bóia-fria com uma dúzia de filhos para sustentar, ele fazia seu sacrifício e sempre conseguia separar o caraminguá do dever corinthianista.

Agora, fecha-se o ciclo para os vôs Venâncios, porque Itaquera não terá esse "público-alvo". O Corinthians embarca no sonho da classe média de ter seu imóvel em troca de uma dívida que consumirá o resto de nossas vidas, só para ficar bonito com a vizinhança. A visita não vai reparar na bagunça e todos permanecerão sentadinhos e comportados em seus lugares. Tudo pelo simples ter, pela posse que, no final, não vale nada.

O velho Pacaembu é um estorvo para dirigentes, imprensa e poder público. Chama muito o povo, iguala muito o povo, e o povo junto e igualado é perigoso se não for domesticado. Assim, o destino do Pacaembu já está reservado e será, provavelmente, o mesmo de todos que ainda prezamos por alguma dignidade no futebol. É por isso que, no sábado, sairei do Estádio Municipal com um vazio no peito que nunca mais irei preencher. 

Deste humilde filho que à casa promete tornar fica o agradecimento. Obrigado, Pacaembu! Você me trouxe humanidade, encorpou a minha alma, me deu amigos e serviu até para eu afogar mágoas que nada tinham a ver contigo. Você é um gigante. Inesquecível Pacaembu! Amo você, Pacaembu! Mesmo que daqui para frente não nos vejamos com freqüência, você estará para sempre aqui dentro.

É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! 

19 novembro 2013

Onde o que eu sou se afoga


Cá estou, debaixo da sua asa, onde sempre deixo de fingir aquilo que acho ser. É inspiradora sua tempestade nesse meu mar sempre de calmaria. Me move, te instiga, e assim nos completamos. Você, que motiva tanta coisa boa em mim e aquece meu peito toda vez que ele teima em apagar, porque eu acho sim que sou meio sem sentimentos. 

E também acho que os astros são foda. Tenho que achar. Senão, o que explicaria caminhos tão próximos que correram o risco de nunca se cruzar, mas que se cruzaram e viraram uma avenidona pro teu caminhão desfilar na minha parada. Seria uma perda irreparável. E acho, aliás, tenho certeza, que não há coisa melhor em mim que você.

É em seu dia, mas não só nele, que eu venho te lembrar de novo - você esquece muito, duas da tarde tem remédio! - todo esse amor e combustível da sua presença em mim. É isso. Cérebro e coração, a dupla perfeita nos filmes, nos seriados, nos livros, na vida. Assim vamos, um aparando o outro, igual quando saímos dos bares. 

Amo. Sou fã irrecuperável. 

"Você é meu caminho
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você


Meu bálsamo benigno
Meu signo, meu guru
Porto seguro onde eu voltei


Meu mar e minha mãe
Meu medo e meu champagne
Visão do espaço sideral


Onde o que eu sou se afoga
Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga
Paixão e carnaval


Meu zen, meu bem, meu mal"

24 outubro 2013

Ponto de saturação


Após milhares de entrevistas, reuniões e desculpas esfarrapadas, a noite desta quarta-feira escarrou na cara de cada corinthiano tudo o que se passa. Nas recentes conquistas, havia muita coisa inaceitável no Corinthians que foram relevadas - ou escamoteadas - por conta dos resultados. Não há, no entanto, enganação que dure para sempre. Não há vagabundagem que resista ao futebol. Não há descompromisso que fique impune.

Neste ano, o corpo dirigente, principal culpado pelo descaso vigente em todos os setores - do presidente ao roupeiro -, simplesmente ignorou o centenário da Revolução Corinthiana de 1913. Deram de ombros aos nossos antepassados, que tanto nos ajudam, iluminam e inspiram. Ao mesmo tempo, a torcida mergulhou de cabeça num estado de ruminação inédito e assustador, chegando ao cúmulo de bater palminhas hipócritas a cada vexame no Pacaembu.

Eis que uma cobrança displicente de pênalti por aquele que nunca deveria ter pisado no Parque São Jorge resume, em explícito recado, todos os erros acumulados nos últimos tempos. Está aí até para quem não quer ver. Atingimos o ponto de saturação e a Fiel Torcida se vê diante de um desafio crucial. Ela vai escolher que Corinthians teremos no futuro: aquele que sempre lutou, que sempre agregou e sempre serviu a seu povo ou aquele que se maquia de moderno, que pensa no business e renega suas próprias origens.

O Corinthians, quando vai a campo, não escolhe jogo. Cada entrada no gramado pelo escrete alvinegro já é uma vitória, já é mais uma prova da consolidação do sonho daqueles primeiros que forjaram o Time do Povo. Não é questão de ganhar ou perder, trata-se da postura. Trata-se de respeitar a camisa que veste. Hoje não nos dói a derrota, mas a falta de comprometimento instituída pelo filho da puta do técnico que tem o medo como principal característica.

Está na nossa mão, portanto. Se lá dentro, todos fogem da responsabilidade, é hora de cada torcedor tomar o Corinthians para si.


08 outubro 2013

A burrice, apenas a burrice


Pode parecer pedante, agressivo, ácido, radical ou intolerante. Ou então deve ser recalque de quem, aos 32 anos, ainda não se achou na vida e rasteja por aí, de bico em bico, tentando pagar as contas. Talvez até uma premissa de texto do Olavão, aquele. Pode tudo isso, mas eu vou falar mesmo assim. Anda insuportável a burrice disseminada como ar ou água, numa amplitude que não faz distinção de cor, credo ou classe social.

Listo aqui dois fatos recentes, e minha Evinha estava presente e pode tirar a prova caso haja dúvida:

1) Show gratuito no CEU Butantã. No palco, dois nomes importantíssimos do samba paulistano, um das antigas e outro mais recente, e ambos igualmente geniais. Osvaldinho da Cuíca e Kiko Dinucci fizeram um bem bolado de seus repertórios e mostraram como o samba paulista é riquíssimo, apesar da hegemonia da vertente carioca. Sotaques, causos e até um batuque diferente, tudo ali, de graça. O teatro do CEU, vale ressaltar, é belíssimo. Poltronas bem posicionadas e com qualidade de som superior a muitas casas de show badaladas. Ouso dizer, porém, que havia mais gente se apresentando do que assistindo.

2) Show de Alceu Valença no Credicard Hall. Deixamos para comprar ingressos horas antes da apresentação. Na aproximação da casa, estranhei a rua deserta, com vagas na rua a gosto do cliente e nenhum flanelinha. Paro o carro no portão do lugar e, enquanto a Eva vai comprar as entradas, fico ali ouvindo o papo de alguns cambistas desesperados para se desfazer do encalhe. Volta a Eva e vamos comer um cachorro-quente, quando chega um desses cambistas me perguntando:

- Esse Alceu Valença aí de hoje é forró universitário, né? 
- Olha, não é muito não - respondi, tentando não me irritar. Ele tem uns forrós sim, mas é bem mais velho...
- Ahhhh, mas é igual Falamansa, né?
- ...

Entra em cena a tia do cachorro-quente:

- Ah, mas hoje não enche não. Tinha que ser show igual do Fagner.
- Quem é Fagner? - pergunta o cambista.
- Aquele cantor lá, que toca umas músicas igual o Gustavo Lima.
- Ahhh...

Imaginem como desceu o cachorro-quente...

E o que eu quero dizer com isso? Estava difícil encontrar explicação até ler a entrevista com o escritor Bernardo Carvalho sobre seu livro "Reprodução". Grosso modo, a obra analisa o comportamento  dos internautas, caracterizado principalmente pela falta de reflexão e conteúdo. É necessário ler a entrevista, mas vou destacar aqui a frase que resume minha angústia recente: "A burrice era privada, mas agora é pública."

Voltemos aos casos acima. Como pode três grandes brasileiros receberem tão pequeno público? Como, já que o primeiro show era gratuito e o segundo custava R$60, bem abaixo dos valores que andam cobrando até em buteco com banda cover da pior qualidade? Por que raios não há a aclamação do povo por sua própria gente? Recorro novamente a Bernardo Carvalho, em definição à literatura que pode ser estendida: "A literatura passou a ser pautada pelo gosto da média. Mas literatura é reflexão, não só contar uma história."

Puxem pela memória e notem que a coisa é, além de grave, comum. Na imprensa, no bate-papo da padaria ou no bar, há a valorização da burrice e das coisas superficiais em detrimento do senso crítico. Lulista juramentado que sou, afirmo que os governos Lula e agora o de Dilma incorreram num erro imperdoável para quem promoveu tamanha revolução social. Essa revolução contemplou apenas os desejos consumistas da população que sempre foi excluída, deixando de lado a formação cultural. Entram nesse contexto diversas formas de conhecimento: político, econômico e artístico. O poder de compra bastou e o pessoal se contentou em ter seu dinheirinho para tentar mostrar uma superioridade volátil.

Não existe o mínimo de senso coletivo, tampouco preocupações em utilizar esse primeiro passo de inclusão financeira para reduzir desigualdades. No fim das contas, ninguém percebe que ter dinheiro não basta para entrar no clubinho dos bacanas pela porta principal. Sempre haverá uma pulseirinha de outra cor no teu braço, delimitando espaços que deveriam ser comuns e reforçando a idéia imortal da luta de classes.

É, portanto, um círculo vicioso, induzindo cada vez mais a aceitação de idéias, produtos e conceitos massificados e quase sempre medíocres. Termino com outra sugestão de leitura, dessa vez publicada no blog Scream and Yell sobre as diferenças na produção do festival Lollapalooza no Brasil e no Chile. Faço apenas um pedido: não entendam este post como sintoma da síndrome de vira-latas. Trata-se apenas de uma incompreensão pessoal que conta com inúmeras comprovações diárias e ainda esparsas, mas com gigantesca possibilidade se juntarem numa tempestade devastadora.

16 setembro 2013

Uma foto, muitos significados


Está estafante e repetitivo bradar sobre o comportamento dos vagabundos e do treinador em campo, até porque é nítido que uma mudança radical se faz necessária. No entanto, pior que outra derrota vexatória em pleno Pacaembu - graças a São Jorge, não tive o desprazer de ver in loco - foi a imagem presenteada pelo declarado candidato à presidência do clube, seu André Luiz Oliveira, e por Andrés Sanchez. Ambos estão ao lado do padrinho, do velho gagá, do filho da puta responsável pelos piores anos do Corinthians. Este blogue dificilmente publica imagens, mas abrirei a exceção porque a cena é indecente:



Em primeiro lugar, vamos recordar algumas coisas. Essa gestão, que hoje permite e incentiva a vagabundagem descarada, vem sendo incensada como a grande revolucionária no mundo do futebol. Dizem que o Corinthians é exemplo administrativo, que não há mais problemas no clube e que a modernidade vem lá da zona leste da capital paulista. Arrota a imprensa e engole o torcedor, cada vez mais alienado. Repetem, sem a menor vergonha e com grande desconhecimento, que o Corinthians era um antes de Andrés e passou a ser outro depois dele (argumento válido se considerarmos que as coisas pioraram). Olhe de novo para a foto e pense em um nome: Wadih Helu.

O que eu acho disso tudo? Trata-se de um caso explícito de tráfico de influência, corrompendo principalmente aqueles que deveriam zelar pelo clube. Eu, você, nossos amigos e conhecidos, todos somos alvo dos tentáculos desse criminoso modus operandi. É quase igual a uma doença auto-imune, que estimula o corinthiano a promover revisionismos históricos e esquecer de tudo que nos ensinaram os ancestrais. Cobram-nos ingresso caro? Está ótimo. O time não entra em campo para lutar? Tudo bem. Os 200 traidores do Conselho Deliberativo fingem não ouvir sobre a manutenção do promíscuo chapão? Ah, pára de cornetar porque somos campeões da "liberta".

Mas são essas - a "liberta", uma contratação espalhafatosa que traz poucos resultados ou uma ação de marketing - as reais prioridades do corinthiano e do Corinthians? Qual o legado do clube se continuarmos nessa toada de descompromisso, falta de identidade e mediocridade? O Corinthians, que sempre lutou e que sempre inspirou seu povo, hoje nos faz sentir o quê? Aí eu peço: olhe mais uma vez a foto acima. Ela é praticamente um dicionário, de tanto significados que carrega.

QUE CORINTHIANS IREMOS DEIXAR PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES?

P.S.: Leiam o AnarCorinthians.
 

30 agosto 2013

Autofagia


O conceito de autofagia é diverso. Na Biologia, esse processo é descrito como benéfico às células, pois é um mecanismo de renovação e limpeza. Basicamente, um componente sem serventia é transformado e aproveitado para a própria sobrevivência celular. Na lingüística, porém, é possível atribuir um significado negativo à palavra. Uma obsessão, uma paixão não correspondida ou um fator externo pode gerar um comportamento de auto-sabotagem no sujeito, fazendo com que ele se consuma até a completa degradação. 

Venho remoendo esse segundo aspecto com freqüência neste ano derradeiro do Corinthians como locatário do Pacaembu. Sinto muita falta daquela atmosfera de 20 anos atrás, quando iniciei minha vida nas arquibancadas do Municipal e de alguns outros poucos estádios pelo país. Também não vejo mais o Corinthians como o Corinthians Centenário que toda nossa história sempre nos mostrou.

O marco inicial desse processo de automutilação é, sem dúvida, a administração de Andrés Sanchez e continuada por Mario Gobbi. Ela vem sendo baseada na distorção do conceito pregado nas arquibancadas de apoio incondicional ao time que, no entanto, sempre valeu somente enquanto a bola rolava. Simultaneamente ao revisionismo comportamental, a diretoria promoveu despudoradamente a elitização da torcida, trazendo cidadãos mais brandos e cordatos à cancha. É notório: há muita gente que não dá o valor devido a seu ingresso. São os clientes, os consumidores cheios de descompromisso - para não dizer desconhecimento - com a causa de 1º de setembro de 1910 que, em 1913, revolucionou o futebol devolvendo-o ao povo.

Daí, vamos ao que se passa dentro de campo. Em agosto de 2011, oficializei meu posicionamento com relação a esse senhor que hoje é aclamado por crítica e público como "gênio", "inovador", "gestor de pessoas" e o que mais valha. Não é possível admitir elogios a um sujeito que troca lateral por lateral quando precisa vencer uma partida. Não é suportável um esquema tático com 4 laterais e 3 volantes. O fígado não dá conta de ver 11 jogadores defendendo escanteio e, ainda assim, levar gols de equipes muitas vezes inferiores.

Há quem diga que o referido treinador é grande vencedor de títulos, e a essas pessoas faço duas observações. A primeira, gravíssima: para cada taça levantada, há um vexame histórico proporcional. Não irei relembrar aqui para evitar a zica, mas nos últimos três anos o Corinthians se viu diante de marcas negativas inapropriadas a sua trajetória. A segunda? Vencer faz parte da essência do Corinthians, independentemente de quem está lá. E quem está lá, aliás, tem a OBRIGAÇÃO de tornar essa premissa verdadeira.
  
Fato é aquilo que a gente sempre fala por aqui porque aprendeu com os mais velhos: o Corinthians em campo é o reflexo de sua torcida na arquibancada. Cabe a todos uma avaliação das nossas reais responsabilidades nesse Corinthians atual e tão sem identidade. Destaco que não devemos esperar qualquer tipo de mobilização transgressora e de fundo político ou social partindo de torcidas organizadas. Se este espaço não se furta em defender tais entidades de ataques infundados e sabe da importância que todas elas têm na festa dos estádios, também não sou ingênuo e noto quão distante estão os meus objetivos dos delas (aos desavisados, tirem o cavalo da chuva: não busquem neste blogue guarida para discursos flaviopradistas ou motoblogueiros contra as organizadas).

Qual seria, então, ó iluminado e prepotente escrevente, a fórmula mágica para que retomemos o rumo? Não sei. O importante é saber das premissas do corinthianismo, sempre includente e participativo. Saber que há 200 traidores no Conselho Deliberativo que, como promessa não cumprida de campanha, disseram que iam acabar com a aberração anti-democrática do chapão. É brigar por uma maior acessibilidade do corinthiano à vida no clube social, com mensalidades e títulos mais baratos, e lutar por ingressos a preços populares. É fazer do estádio em Itaquera nosso pré-sal, revertendo os ganhos em benefício ao povo corinthiano. E, principalmente, ter senso crítico. Cobrar. Exigir compromisso e sangue pelo Corinthians.

Às vésperas de nosso 103º aniversário, é forte a tendência ao pessimismo. A estratégia e a ideologia implementadas nas salas ar-condicionadas do Parque São Jorge nos direcionam na contramão daquilo que os ancestrais corinthianos elaboraram e consolidaram. O Corinthians não pode ser covarde, não pode entrar em campo para empatar e para se defender. O Corinthians é um gigante, tão grande que não cabe em si e, por isso, já foi definido como um estado de espírito. E essa compreensão só vem com o senso crítico apurado, sem firulas de marketing e sem as mentiras da imprensa. 

Volte-se ao Corinthians, irmão corinthiano. Discuta, escute, fale, mobilize-se. No buteco, na praça, na garagem de casa, no samba, no quintal. Transformemos essa angústia em algo que nos alimenta e nos fortalece. 

VAI CORINTHIANS!