28 abril 2009

Hora da Patrulha


Se tem alguma coisa que a gestão demo-tucana fez de bom (provavelmente a única) em São Paulo, ela é a Virada Cultural. Apesar de algumas críticas bastante pertinentes no que diz respeito à exclusão social gritante durante o evento - quem não se lembra do show dos Racionais? -, os pontos positivos sempre se sobrepõem e não dá para ficar muito do contra. Ou não dava.

Peguem a programação deste ano. Apesar de boas iniciativas, como o palco brega no Largo do Arouche (e quem quiser me encontrar entre o sábado e o domingo de manhã é só passar por lá), notei a total ausência de um destaque maior para o samba. Talvez por ser coisa do povo, a prefeitura ignorou a beleza do palco armado no mesmo Arouche ano passado e, neste 2009, deixou o batuque nosso de cada dia pingado aqui e acolá, entre palcos de música eletrônica e apresentações de pop descartável.

Com essas constatações, podemos procurar os motivos de, mais uma vez, o poder consolidado não dar ao samba o devido valor. O linchamento aos vendedores ambulantes de cerveja, pernil e churrasquinho nas ruas é um fato interessante para iniciarmos a linha de pensamento. Aliás, perguntar não ofende: teremos vendendores durante a Virada?

Tal comportamento da administração municipal denuncia que o caráter proibitivo disseminado em várias esferas começa a arrastar suas asinhas sobre um setor que deveria permanecer imaculado. Pode soar paranóico, mas o procedimento corriqueiro de manipulação coletiva é exatamente esse. Qual avó não adorava cantarolar o hino de exaltação à ditadura gravado pela dupla Don e Ravel? Quem não se encantou com o "Varre, varre, vassourinha" do Jânio? Quem, por Deus do céu, já não se pegou cantarolando "o sol nasceu pra todos e também para você" ou "São Paulo é Paulo porque Paulo é trabalhador"? O autoritarismo se disfarça de entretenimento, penetrando fortemente no ideário popular. E se música e arte têm essa capacidade, é melhor deixar o samba morrer, pois ele geralmente não age em prol dos bandalhos...

Se, ainda assim, há quem considere este texto mais uma teoria conspiratória das esquerdas, lembro a apropriação indébita
por parte dos demos do clássico "Sorria, sorria", de Evaldo Braga. A canção serviu de jingle na corrida eleitoral de 2008 e foi adaptada aqui para finalizar todas as nossas Hora da Patrulha, como uma saudação ao povo inteligente e civilizado da capital paulista.

No meio desse papo todo de música, prefeitura, campanha e político safado, puxei pela memória uma promessa do nosso generalzinho Kassab. Na propaganda, o solteiro e sem filhos determinava que teríamos o CEU Vila Formosa funcionando em fevereiro. Já estamos em maio. Por que será que não tem UMA atividade sequer da Virada Cultural nas dependências do recém-inaugurado CEU?

Sorria, São Paulo!

3 comentários:

Renata Mielli disse...

Salve Cláudio! Olha, não sei se você entende de teorias conspiratórias, mas que você está se saindo um bom analista político, isso sem dúvida. E olha, tem uma frase tua ai que vou guardar no meu bauzinho de frases "O autoritarismo se disfarça de entretenimento, penetrando fortemente no ideário popular." Se é assim, então vamos por um fim ao Samba, pensam eles. Beijocas e te encontro no pauco brega! rsrsrs

Craudio disse...

Hahahahahahahha, esses shows vão ser fantástico. Pena que perderei o Odair José.

E você não sabe como foi difícil praticar o desapego político na hora de elogiar a prefeitura no primeiro parágrafo.

Beijo!

Bruno Ferraz (sOUL) disse...

Hahaha.

Mano eu não vou cara, até porque naquele show do Racionais, eu tava lá.

Eu me pergunto, sair do conforto do meu lar, pra ir a um evento cultural, fumar maconha de tabela e corre o risco de apanhar da Policia Militar? Não, não mesmo.

Até porque todo ano, eles fodem o palco de Rap.

Então, prefiro esperar até Novembro pra colar na Festa da Paz aqui no Vale das Virtudes (Jardim Rosana / Inoocop), pelo menos, as vezes que vi grandes show's de rap na favela, não apanhei de ninguem.

Domingo é nóis.

Abraço Claudião