20 janeiro 2011

A ridícula pretensão de um indizível mijo de rato


Meses atrás, a minha cerveja de estimação embarcou numa de trocar a cor de sua lata. Levada a cabo por uma campanha de marketing que no fim das contas teve bons resultados, a Brahma deixou de lado a mesmice das latas alviprateadas e investiu no vermelho. Defensor de causas que sou, ignorei solenemente minha própria desconfiança e desfiei inúmeras justificativas - algumas injustificáveis - para convencer os outros dos benefícios que a mudança traria.

No supermercado, por exemplo, ficou muito mais fácil de distinguir a Brahma nossa de cada dia
à distância (a Antarctica, minha número 2 na preferência, foi pioneira nisso ao se smurfetizar). Na campanha eleitoral, o mote #ondavermelha que extirpou a demo-tucanalhada e elegeu a presidenta Dilma serviu de desculpa para arregimentar partidários à nova lata. Para quem foge das blitzes da lei seca, dá para dirigir tranqüilamente com uma gelada na mão e outra no volante porque os gambés e os cagüetas vão achar que é coca-cola.

Argumentos pessoais à parte, a prova maior do sucesso de alguma coisa aparece quando ela é copiada descaradamente pelos concorrentes. Dias desses, vi dois caboclos com vermelhinhas na mão e logo pensei como seria boa idéia ir até a padaria comprar meia dúzia. Qual não foi meu pavor ao olhar mais atentamente e perceber que a cerveja em questão era a nojenta Itaipava.

Citei essa bosta e preciso fazer a necessária digressão. Tal mijo de rato apareceu cheio de pompa nas propagandas, se vendendo mentirosamente como um produto refinado da Cervejaria Petrópolis. Ganhou popularidade porque atingiu em cheio os anseios dos beberrões amadores, nojentos tal qual o produto que sorvem e tão facilmente reconhecíveis em eventos nos quais as bebidas são rateadas entre os presentes. Percebam: eu levo Brahma porque bebo Brahma e, suponho, todos no planeta bebem Brahma. No afã de economizar alguns centavos e pagar de moderno, esses oportunistas aparecem com um - sim, geralmente eles levam só um - fardo de Itaipava. Na hora em que o bicho pega, porém, lá está a minha Brahma descendo na goela nos desgraçados...

Sim, eu sei que a Brahma é artigo da Ambev, que a Ambev piorou consideravelmente a qualidade de suas cervejas e que os donos de bares, principalmente os pequenos grandes bares, comem o pão que o diabo amassou com o fornecimento nada digno da multinacional. Mas, oras, Brahma é Brahma e eu vou brigar do mesmo jeito que o Zeca Pagodinho brigou para ter uma caixa delas na gravação do comercial da Schincariol, este outro lixo que habita certos gogós desavisados.

Certamente, maior que a indignação com o monopólio da Ambev deveria ser a ojeriza à blasfêmia da Itaipava de tentar se equiparar a uma instituição etílica. Seria o mesmo que colocar a camisa do Corinthians no s4n7os: o time médio da baixada nunca vai ser grande. Pintar a lata da Itaipava, portanto, não traz automaticamente o carisma popular e o sabor da Brahma que, vale lembrar, tem sua origem glorificada pelo abolicionista dizer "desde 1888" estampado no logotipo. É preciso, no mínimo, respeito. Porra!

5 comentários:

Filipe disse...

A Dilma tem que popularizar a Serra Malte, Samurai.

Szegeri disse...

Pois eu gosto de Itaipava. De longe, a cerveja mais honesta que se fez no Brasil fora do âmbito das cervejarias Brahma e Antarctica, antes ou depois da fusão, essa sim, nojenta.

Craudio disse...

Filipe, se a presidente faz isso, eu morro antes dos 40!

Fernandão, sério mesmo? Ainda assim, uma ressalva: a tal Antarctica sub-zero, reconheço, é mil vezes pior que a Itaipava!

Craudio disse...

Caralho, eu quis dizer PRESIDENTA!

Rodrigo Barneschi disse...

Assino embaixo, japonês. Grande post!

Quanto à fusão da Ambev, eu sou suspeito para falar sobre o assunto, mas entendo que quase tudo que eles fazem é justificável.

Abraços