15 março 2011
Pontos corridos: uma chatice homérica
Depois dos últimos anos provarem A+B que a fórmula de pontos corridos é uma falácia, uma aberração inventada por europeus para justificar seu fraco desempenho, a CBF aprofundou ainda mais a cova do Brasileirão com uma novidade em 2011: clássicos regionais na última rodada. Dois ótimos textos falam sobre o mesmo tema e eu os referencio aqui para enriquecer o debate. O primeiro é o do Barneschi e o segundo do Álvaro, ambos tratando de questões importantes, pautas incontestáveis em qualquer redação minimamente digna, mas que obviamente não serão sugeridas por defenderem os interesses do torcedor de verdade - no caso do Barneschi, ignorem o rio de lágrimas verde :D.
Careço, no entanto, reforçar uma leve discordância de minha parte à essência das citações, ainda que mais tarde a conclusão de todos nós será a mesma. Tanto o Barneschi quanto o Álvaro destacam a influência da realização dos clássicos no chamado período decisivo. Discordo frontalmente, e assim faço pois tal influência inexiste se uma equipe acumular uma boa diferença de pontos a fim de não contar com as últimas rodadas para ser campeão, garantir classificação para torneios secundários ou escapar do rebaixamento.
Digo isso baseado nas lembranças do último triênio, em que os clubes da ponta da tabela demonstraram uma capacidade incrível de entregar a taça na mão dos concorrentes, muito por causa da valorização da incompetência e da falta de comprometimento em campo proporcionada pelos pontos corridos. Ontem mesmo, falava ao rádio um recém-demissionário treinador que a mídia elege como o "especialista em Brasileiros" (o mesmo que, meses atrás, não cumpriu seu dever cívico com a Seleção). Quase bati o carro ao ouvir do sujeito bradar que um dos principais segredos para ser campeão nacional é "ter uma boa zaga"...
Mais do que simplesmente esvaziar os clássicos, os pontos corridos e seus defensores querem transformar o futebol numa chatice homérica, coerente com a postura passiva da bunda no sofá. Independentemente da rodada em que serão confrontadas as rivalidades regionais, há em todas elas o combate ostensivo ao esporte numa esfera mais ampla, ideológica até. De todo modo, o dito aqui e o dito nos links acima não são excludentes; quis apenas ressaltar que a desvalorização de duelos históricos é só mais um elemento do nocivo processo de europeização do esporte. Aliás, o esvaziamento dos clássicos nada mais é que conseqüência da receita de modernização, e não seu instrumento. Notem, portanto, que discordando da essência dos dois textos, todos dizemos em alto e bom som:
Viva o modorrento campeonato brasileiro de pontos corridos.
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2 comentários:
Você tem razão sim.
De fato, os clássicos ficarão menos clássicos ainda se jogados na última rodada.
E olha que nos pontos corridos eles já são tratados "como um jogo normal de 3 pontos".
Por incrível que pareça, só os estaduais ainda diferenciam essas partidas.
Tudo o que fizerem numa merda só aumentará a merda. É assim com pontos corridos.
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