15 maio 2012

Corinthians, modéstia à parte - Aqueles anos


Segue o terceiro capítulo da série de transcrições do livro "Corinthians, modéstia à parte", de Nailson Gondim. Aliás, bastante oportuno nesse momento de decisão.

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Aqueles anos

A sorte mal-assombrada já fez o time tremer. Se, de um lado, havia o "Timão", de outro aparecia (sempre!) o bicho-papão, mito maléfico que existiu de várias formas e por muito tempo assustando a legião corinthiana. Eram os anos de insucessos - nebulosos, tenebrosos e escabrosos. Ossos! Foram muitos os que se queixaram dessa assombração: "Esta camisa pesa" - diziam eles. Apegavam-se a isso, as pernas não corriam, os pés não chutavam. Brigar? Brigavam o quê! (Lembremo-nos das pernas bambas e pés impotentes de 1974.) Perdiam títulos e atiravam a responsabilidade aos gritos de desespero que saíam das arquibancadas e embocavam túnel adentro. Nada entendiam de amor à camisa, tradição, rivalidade, e, por isso, jamais a maioria pôs o coração no bico das chuteiras - o coração no bico das chuteiras, o coração... - e partiu para a luta. Suavam como qualquer um, em vez de mancharem a camisa com sangue. Derrota com sangue é vitória corinthiana. E não havia motivos para a maioria tremer porque milhões de mãos esfoladas empurravam o adversário para trás, como se derrubassem barreiras, barricadas e muralhas. Nada. Sobrava, como réstia das agruras, o detestável "o ano que vem é nosso". Os rivais até sabiam como fazer para aumentar o sofrimento corinthiano: "Toca a bola, deixa o tempo passar, que eles se desesperam com os gritos da Fiel". A luta contra o relógio foi martirizante. Nunca se olhou tanto para o placar como naqueles anos abomináveis. Coisa chata, impertinente e cabulosa. A saudade de grandes ídolos era constante. Os superticiosos viviam repetindo: "Enterraram um sapo no Parque São Jorge". Outros argumentavam: "Foi praga não-sei-de-quem". E os anos passando. Festa? Só alheia. E todo o povo corinthiano, castigado e ferido, espiando à distância a farra estranha, sem participar daquelas comemorações, descredenciado igual aos que não têm ingresso para o baile. Nem passe de mágica - e isto resolveria o grande problema - foi dado. A fantasia era patente disneyana e pronto. Droga!... Ninguém, porém, desistiu no méio da trégua, perdeu o sono no pesadelo ou debilitou-se no jejum fatídico. O desânimo não tinha lugar nas arquibancadas sempre espremidas e forradas com bandeiras e esperanças. Um dia - e todos acreditavam, e todos sabiam, e... - o drama teve fim. Fez-se a luz. Heureca!, ou melhor, Corinthians! Soaram palavrões de desabafo, destruíram a Avenida Paulista - segundo queixosos suspeitos - e esculhambaram o trânsito. Tudo pela vitória. Acabaram-se os desgostos, as frustrações e os desafios. A propósito: onde andam aqueles anos?... Vade retro, Sátana!

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