19 março 2007

Glamourização e/ou banalização

Filas imensuráveis. Preços exorbitantes. E um público cada vez menos participativo. O que anda acontecendo com os shows internacionais aqui no Brasil? Há pouco mais de 3 anos, inventaram uma moda por aí que estabeleceu que as vendas de ingressos têm que ser tumultuadas, mesmo com as entradas custando, em média, R$ 150.

O ápice ocorreu no show do U2, em 2006. Correria, esquemas de filas com idosos vendendo lugar, um verdadeiro escarcéu. Coisa semelhante acontece agora, com o Aerosmith. O estranho é pensar que, antigamente, as coisas eram mais calmas. Hoje, até o mestre - e extremamente calmo - Chico Buarque causa um frisson que não condiz com as vendas de sua própria discografia.

A reflexão, portanto, só pode ser a seguinte: criaram uma demanda nova de público, na tentativa de fazer os famosos sold-out norte-americanos e europeus. E por meio de uma empresa nefasta que atende pelo nome de Ticketmaster. Sim, essa que ficou famosa por travar uma intensa briga judicial com o Pearl Jam na virada do século. Cujo show, aliás, teve uma venda de ingressos fora do normal por aqui.

Erro número 1: não somos os EUA ou a Europa. Lá existe uma cultura, aqui temos outra. Lá, por exemplo, a pista é numerada e todos respeitam uma linha imaginária que determina os lugares. Erro número 2: criar uma demanda dessa num país carente como o nosso deixa os verdadeiros fãs de fora, por causa dos preços caríssimos. Com isso, a resposta do público durante o show também não é a mesma (bons tempos em que os artistas declaravam ter feito em terras tupiniquins "o melhor show da carreira").

Resenhei a última turnê do Pet Shop Boys e notei uma coisa absurda. Na sexta, gente que nunca tinha ouvido falar do duo inglês e que mal conhecia suas canções estavam na pista do Credicard Hall. Até aí, problema nenhum. Só que eles foram lá não para conhecer uma das referências da música eletrônica, mas sim para a "pegação". Não sou um velho que defende a moral e os bons costumes. Mas o mínimo que se espera de alguém que paga R$ 130 numa entrada é a atenção ao show e uma interação calorosa com o artista. Já no dia seguinte, com uma massa maior de seguidores, a dupla foi recebida com muito mais entusiasmo. E devolveu a alegria tocando uma música que não entrou no set list de outras apresentações.

A música, assim como o futebol, desperta paixões. Cegas e intensas. Por essa razão, existe a linha que separa um show de uma balada. A referida nova demanda de público apagou essa linha e colocou todo mundo na mesma bacia. Hoje, DJ é músico. Hoje, qualquer um é músico. E hoje, cobram uma fortuna por um show que há 3 anos eu paguei R$ 10.

6 comentários:

evaodocaminhao disse...

destino é uma coisa foda!

e falta de dinheiro tb

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Craudio disse...

Hahahahhahahahahahahahahahhahahahaha...

Mês que vem demora?

Anônimo disse...

Essa elitização tá em tudo, né, cara...
Agora, o Pet Shop Boys dá um quê de nostalgia... coisa de infância...

1-2-3-4!!!!

Rodrigo disse...

Curiosamente eu não peguei fila pra comprar ingresso do show do Aerosmith. Fui numa Sariava Megastore e até levei um susto quando vi o balcão vazio. Mas queria ter ido no show do U2 e do Pearl Jam, o que os preços e o tumulto não permitiram que eu fizesse.

De qualquer forma, estarei lá na pista. Mas que é uma idiotice, essa falta de organização e a criação dessa falsa demanda, isso é.
Abraço!

Craudio disse...

Rodrigo: omiti, por esquecimento, mais um nefasto ato dessa ticketmaster. Eles fazem uma venda antecipada para clientes do citibank.

No caso do Aerosmith, isso foi crucial, uma vez que os ingressos para estudante acabaram em menos de dois dias. Realmente não peguei fila também. Mas essa venda preferencial deles é imoral, e nem sei até que ponto ilegal.

abraços!

Anônimo disse...

Ah, sim, um camarada aqui do trampo foi ali na FNAC comprar ingresso. Chegando na fila, perguntou:

"Aqui vende ingresso pro show?"

Um feladaputinha (que estava na fila, esperando a sua vezinha pra comprar um ingressinho) virou e falou pra ele, com toda arrogância típica da corja fascistóide:

"você é cliente citibêêêinque??"

É por isso que essa elitização vem dando certo. Pessoas assim estão a serviço.

A coisa é bem profunda...