24 julho 2008

Meus butecos


Todo buteco admirável tem sua particularidade. Vejam vocês, por exemplo, que os grandes estabelecimentos, modernos e portentosos, não possuem público cativo. Geralmente vivem abarrotados porque saiu no Guia da Falha, na Globo ou em outros meios de divulgação de massa, mas é aquele negócio impessoal e geralmente não duram mais que dois anos. O buteco, por outro lado, vive por gerações.

Há duas premissas essenciais para que se qualifique um buteco como merecedor da sua presença constante e – por que não – da sua paixão. O lugar deve ter um (ou mais que um) garçom-referência ou alguma preciosidade em seu cardápio. Se juntar essas duas características, então tenha certeza de que boa parte do seu ordenado ficará na conta corrente do proprietário da espelunca.

Faço aqui minha lista (de abrangência nacional, vejam que chique), com os devidos porquês:

- Puppy: paixão antiga, acompanhou todo o período acadêmico. Não se destaca por qualquer pérola no cardápio (embora o sanduíche Big Puppy seja muito bom), mas sim pelos figuraças Araújo e Toninho, craques da arte de servir as mesas. Além disso, fica na beira da praia paulistana, a Avenida Paulista.

- Ugue’s: esse, de fato, é o melhor bar de São Paulo. Apesar de sua localização querer indicar uma desmoralização (fica em Higienópolis), o Gugão tem a coxinha da Dona Periquita – vem com um naco de frango, ao invés de desfiado, no recheio – e uma das grandes feijoadas da cidade. A postos, estão sempre o Chicão e o Toninho (todo bar que se preze tem um Toninho). O Chico é lendário pela sua memória mais curta que pau de japonês.

- Damião: o fecha-nunca apresentado pelo cumpadre FH fica quase na esquina da 13 de Maio com a Brigadeiro. Além da cerveja geladíssima, é obrigatório provar o Baião de Dois. Destaque, ainda, para a disqueteira recheada de clássicos: os reis Roberto Carlos e Luiz Gonzaga tocam sem parar.

- Esquina: a história é a seguinte. Havia um bar na esquina da Rua dos Pinheiros com a Cônego Eugênio Leite que se chamava Esquina Paulista. Ia lá todo dia. Só que ele foi vendido, mudou de nome e ficou uma bosta. Na esquina oposta, abriu uma tranqueirinha simpaticíssima. Num belo dia, migramos para o outro lado da rua e de lá não saímos mais. O atendimento não existe, porque parece que se está em casa. Fora isso, há uma infinidade de cachaças e a comida vem praticamente das mesmas mãos que cozinham para o Consulado Mineiro, só que pela metade do preço. Ah, o nome desse lugar eu não faço nem idéia.

- Rei das Batidas: apesar de meio pop, principalmente por causa da USP, é uma boa opção para quem mora nas cercanias do Butantã e anda com medo de perder a carteira por dirigir com algumas na cachola. Fora isso, tem o lendário Osmar e uma ótima feijoada. Vale a pena ir numa terça-feira, por exemplo. Quinta em diante é uma merda, porque enche de uspiano babaca (entenda: o povo da FEA, POLI, ECA, Veterinária e Odonto).

- Rio-Brasília: apresentado pelo Edu Goldenberg e localizado na Tijuca, visitei-o exatamente no fim de semana em que o mestre havia reatado as relações com o Joaquim, o dono da bagaça. Figuraça, aliás, o Joaquim. Bebíamos copiosamente até altas horas de domingo, enquanto ele já havia baixado as portas para se recolher. Não provei nada que viesse da cozinha, mas o Edu sempre cita uma tal carne com batatas coradas. O que é bom também – e olha que eu não sou muito de destilados – é o maracujá.

- ???: as interrogações estão aí porque não há nome nem um batizado alternativo. Fato é que eu achei esse troço quando Evinha e eu fomos a Salvador e rodávamos pelo Pelourinho em busca de um lugar que não nos tratasse como gringos. Desce ladeira, vira pra lá, volta pra cá, nos deparamos com um pequeno armazém de secos e molhados. E tinha até banheiro. Perguntei a um cabra que nos fitava da porta se havia alguma mesa. “Ôxi, pegue a mesa aí. Não tem garçom aqui não, e eu também nem trabalho aqui”, respondeu o bom baiano. Havia somente um mudo detrás do balcão. Puxei uma mesa, peguei uma gelada e sentamos. Ao mesmo tempo, uns outros caboclos jogavam a dinheiro na mesa ao lado, observados por um PM. Fantástico moquifo.

- Sopa Carioca: descoberto na ida à BH. Trata-se de um botequim de esquina, e a sopa que dá nome ao lugar é um grosso caldo saborosíssimo. Assim como o Ugue’s, é cravado num bairro chique da capital mineira, a Savassi. Mas a frescura passa longe. Além da especialidade da casa, o serviço é de primeira. E quando tem jogo na TV, aparecem milhares de aparelhos por todos os cantos do bar.


5 comentários:

Fernando Cesarotti disse...

Pô, eu morei um ano e pouco ali na Brigadeiro, pertinho do Damião, e aquele som no domingo de manhã é de fechar o comércio e chamar a puliça!

Craudio disse...

Hahahahahhahahahaha, de fato, Cesarotti, pra quem mora ali deve ser foda.

Filipe disse...

Ah, Japonês, meu caro...
Já que você não é de destilados, seu fígado ainda está inteiro!

HAHAHAHAHAHAHAHA

O Puppy já tá virando uma novela, por falar nele...

evao do caminhao disse...

provavelmente nos trombamos em vários deles no passado...

os meus preferidos tão aí na sua redondeza: 'deco', 'bar dos cornos' e um q esqueci o nome mas vende até refrigerante jesus (aquele q é cor-de-rosa)

Craudio disse...

Putz, o bar dos cornos é sensacional!