21 abril 2010
Falta fazer
O clima cada vez mais quente de campanha eleitoral neste ano serve para expor novamente uma deficiência que acompanha todas as gestões do Partido dos Trabalhadores e que deixa muitos de seus defensores com as calças na mão. Eu, que falo sobre isso há muito tempo - em particular, quando tratei das campanhas de Marta Suplicy para a prefeitura -, achei palavras muito mais brilhantes para legitimar minha linha de pensamento. A tese em questão foi exposta por Mauro Carrara no blogue do Azenha, e é sempre bom disseminar uma boa idéia para que ela tome corpo e convença mais pessoas.
Resumidamente, Carrara afirma com correção que o PT se banha de arrogância quando desponta numa corrida eleitoral e confia sua vitória somente nesses indicativos. As conseqüências os paulistas e paulistanos conhecem bem, haja vista os últimos pleitos locais. Pior ainda, tanto o hegemônico partido de centro-esquerda quanto seus aliados - e aí devemos fazer o mea culpa para incluir o glorioso PCdoB - ignoram o poder das estratégias midiáticas mais incisivas, ficando à mercê do óbvio e obsceno comportamento dos jornalões e emissoras de rádio e TV, todos esses veículos com "isenção" e o espírito democrático duvidosos.
Corto rapidamente o papo para relembrar a meia-dúzia de palavras trocadas com um outrora figurão do PT. Corria 2003 e o foco das eleições do próximo ano era reeleger Marta Suplicy e a boa administração desenvolvida na capital paulista. Havia, no entanto, uma rejeição monstruosa com relação à prefeita por conta de seu modo desbocado e pela propaganda negativa que os principais meios de comunicação deflagraram desde a posse. Cheguei humildemente ao Zé Américo - responsável pela assessoria de imprensa da administração municipal e que, na época, dava aulas na Cásper Líbero - e afirmei sem titubear: "a prefeita está mal assessorada". Com um misto de desprezo à minha provocação e confiança exacerbada, ele me pediu para cobrá-lo ao fim da votação. A história mostrou duas vezes que o Zé Américo e a estratégia do PT estavam errados.
Voltando à constatação de Mauro Carrara, ressalto que devemos excluir da análise as últimas duas campanhas do presidente Lula. Este é um fenômeno político sem precedentes. O problema é que agora Lula não está no páreo e as condições de briga estão muito equilibradas. O outro lado, aquele responsável ou apoiador do período mais sujo e triste de nossa política, já dissemina por e-mails, colagens e pichações stodas as mentiras criadas pela imprensa consolidada contra nossa candidata Dilma Rousseff. De nossa parte, vejo iniciativas criativas, porém dispersas, justamente por não contarem com nenhum plano de ação. Tal falta de planejamento ilustra perfeitamente o que eu considero uma das principais falhas do governo Lula: a falta de pulso contra a mídia. Se Lula, sem fazer nada, já é tachado como um inimigo da liberdade de expressão, por que não contar com seus mais de 80% de aprovação para colocar a imprensa nos eixos, ao invés de utilizar justificar essa popularidade recorde como fruto da postura branda diante das irresponsabilidades de jornalistas?
Dessa forma, não dá para ignorar a sugestão óbvia (e portanto brilhante) de Carrara com relação à forma de disseminação de nossas opiniões, informações e denúncias. Aí sim é que carecemos da arrogância, pois nos baseamos em fatos e dados concretos, geralmente despidos de preconceitos de classe ou raça e majoritariamente com objetivos coletivos. Temos melhor qualidade no conteúdo, mas por que não contamos com a ajuda do hegemônico PT para divulgá-lo, ao invés de nos depararmos com um portal estéril e a postura politicamente correta de seus principais líderes partidários quando vêem um microfone? Custa algum ministro, deputado ou senador dizer que leu em tal blogue uma informação e confirmar sua veracidade?
Invariavelmente, a gente tropeça e cai na brilhante estratégia de campanha de Barack Obama, talvez o maior projeto de marketing político no que tange ao uso de mídias alternativas e conteúdo colaborativo. Os responsáveis pela campanha de Dilma deveriam contatar os autores de blogues como o FBI, o Cloaca News, o Amigos do Presidente Lula e tantos outros que se esforçam para, ao mesmo tempo, propagandear as benfeitorias da atual administração e dinamitar falsas acusações contra nossos candidatos. A própria Dilma, aliás, poderia citar essas referências no seu Twitter ou em sua página, já que o segredo de toda comunicação em rede é contar com disseminadores estratégicos para que a mensagem seja abrangente.
Termino aqui da mesma forma que o inspirador de Mauro Carrara, citando-o literalmente: "Esse trabalho de defesa estratégica precisa urgentemente gerar saber político extensivo. Precisa impactar o sujeito do xerox e a senhora da quitanda. E chega de 'mimimi'!"
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