14 junho 2010

Prevalecendo o óbvio...


Lançadas oficialmente no último fim de semana as duas candidaturas que irão, de fato, disputar a presidência em 2010, uma particularidade se repete nesse pleito. Nos discursos feitos por Dilma Rousseff e José Serra durante as convenções de petistas e tucanos, há uma clara divergência de conteúdo que resume bem os dois principais projetos administrativos e serve de base comparativa ao eleitor.

De um lado, a representação máxima das forças conservadoras e do liberou-geral privatista encarnada em José Serra não apresentou uma proposta sequer de campanha. Limitou-se a demonstrar desespero gerado pelas últimas pesquisas de intenção de voto no ataque ao melhor governo que o Brasil já teve, além de ecoar denúncias não comprovadas de uma mídia que hoje repousa em suas mãos. Dessa forma, a mensagem que o candidato neoliberal deixa nas linhas e entrelinhas é uma só: não sei o que vou fazer e não me interessa dizer ao povo o que pretendo realizar quando souber.

A prova cabal do descompromisso e da falta de planejamento na candidatura de Serra é a indefinição quanto ao postulante da vice-presidência. Depois que seu predileto José Roberto Arruda teve o mandato de governador do DF cassado por suspeita de corrupção, o tucano caiu na própria armadilha e hoje colhe os frutos de sua famosa truculência nos bastidores políticos. Serra isolou-se até mesmo dentro de seu partido. Assim, o tempo que poderia e deveria ser gasto com a formulação do plano de governo é utilizado na composição de alianças e na briga de egos.

No outro corner do ringue, ainda que a unidade de pensamento e ação não sejam o forte, os petistas definiram com muita rapidez o discurso de valorização e ampliação das conquistas sociais do governo Lula e, simultaneamente, escolheram Michel Temer como vice para agregar o poder de fogo do PMDB na propaganda eleitoral. Dilma, portanto, já era candidata meses antes dessa oficialização e, sabiamente, absorveu as demandas que chegam à administração federal a fim de elaborar novas sugestões aos próximos anos.

Divergência estabelecida, façamos a análise a partir do que há de concreto para afirmar, nesse primeiro arranque da corrida eleitoral, que a bandeira de uma candidatura é o denuncismo sem comprovação, sempre alardeado por uma imprensa partidária, e a outra prevê a continuidade e ampliação do que está bem encaminhado, acompanhada da proposta robusta de reformulação no sistema tributário.

Pode parecer raso, mas por conta da dicotomia partidária dos últimos anos, o debate também não se aprofunda e o óbvio acaba prevalecendo. E ao prevalecer o óbvio, é compreensível o esforço dos conservadores e seus meios de comunicação em ocultá-lo o máximo possível. Seria uma lavada de Dilma logo no primeiro turno...

Um comentário:

João Medeiros disse...

Tive a mesma percepção que você, Japonês. Principalmente depois de ouvir odiscurso inflamado e vazio do Aécio Neves, na convenção da Bahia, que oficializou o candidato da elite. Já em Brasília, Dilma e Michel Temer fizeram discursos precisos e objetivos. Ele, oferecendo toda estrutura partidária do PMDB à candidatura. Ela, reforçando os avanços e prometendo a esperada Reforma Tributária. O que se vê no final é exatamente o que se pode esperar deles: De um lado, discurso vazio e falta de compromisso. Do outro, uma mulher cheia de disposição pra mostrar que tudo isso que avançamos nos 8 últimos anos, temperado com um toque feminino, como ela diz, pode levar o Brasil à condição definitiva de país desenvolvido.

Tá com cara de goleada...