21 fevereiro 2011

Pela simplicidade


Está chegando o Carnaval e me ponho a pensar seriamente naquilo que louva a frescura, a máscara da modernidade e as enganações típicas de um mundo sem alma. E o que isso tem a ver com a festa de Momo? Ora, o Carnaval é a hora do revés, é quando o pobre fica rico de alegria e o rico dorme bêbado na sarjeta. É o tempo do mais simples possível, sob a pena de se complicar.

Mentira, falei do Carnaval pois precisava mencionar os exploradores natos conhecidos como patrões. Desvalorizar os quatro dias de folia é nada mais que um ato terrorista dos pulhas, a grande maioria seres dotados de uma tristeza insolúvel: não ter amigos. Em não tendo amigos, presumem que o restante da população brasileira - sempre admirada a partir de uma superioridade garantida tão somente pelo poder econômico - não tem o direito de ser feliz. O imbecil que não dispensa funcionário do batente no Carnaval, portanto, é sinal de que o caminho atual leva às trevas.

Mas há outros exemplos de perdição na fuga do simples. Arthur Favela, figura simbólica da gloriosa e tradicional
Associação Atlética Anhangüera, outro dia veio a público, indignado, noticiar que o campo da referida agremiação do desporto paulistano sofreu uma intervenção assassina: instalaram lá na várzea do Tietê, desrespeitando a raiz do futebol popular, uma merda de gramado sintético. A prática, aliás, é recorrente. Na Vila Maria, zona norte da capital, o terrão que ficava nos fundos da escola de samba local recebeu idêntico tratamento estético.

Aliás, as escolas de samba... É cada dia mais vergonhoso o que vêm se transformando os ensaios nas quadras e barracões. Infestados de ex-BBBs (nessa modernidade toda, ex-alguma coisa virou profissão bem remunerada) e celebridades de todo baixo nível, vai chegar o dia em que não veremos um único preto sambando. Até o ato de sambar ficou meio esquisito. Com as baterias funcionando no 220 e soando tal qual liquidificadores, as passistas sugerem ter pó de mico no cu. Pulam, não passam.

Como também não passa a raiva quando se nota o oportunismo de alguns representantes do poder constituído. Desde os promotores de merda que atuam no futebol até deputados que propõem projetos absurdos, essa escumalha que deveria estar a serviço do povo usa seu cargo de trampolim pessoal. Peguemos os babacas que atendem pelo nome de Luis Yabiku e Vinícius Camarinha, cujos projetos de lei em diferentes esferas congruem na proibição de cigarros e que tais em locais públicos. Além de todas as balelas sobre "melhorias na saúde", uma das principais defesas é a de que a idéia funciona em Nova York. Ora, que se foda essa cidade de merda! Noves fora, o tal Yabiku tem umas influências na Cosan, empresa que degrada o meio ambiente com sua monocultura extensiva e é fornecedora de álcool combustível. Aí eu pergunto o que poluiria mais, um cigarro ou um escapamento de carro?

Nesse conjunto articulado de iniciativas, a palhaçada lentamente se oficializa. Vá a um estádio e tente comer um pernil na porta ou beber uma cerveja. Pergunte ao colega de trabalho desse escritório bacana na Berrini onde tem um PF bem servido para o almoço e note o nariz torcido para a falta de glamour. Tente comprar um camarão na praia. Eu vi o fim e ele é meu vizinho: no último sábado, adolescentes faziam churrasco no prédio ao lado de casa escutando música eletrônica. Pela simplicidade, devemos combater essas práticas desgraçadas, urgentemente.

5 comentários:

Gabriel Coiso disse...

a nossa simplicidade foi comercializada, globalizada e pós-colonizada, e o pior: legitimada em três vias e reconhecida em cartório.
há termos específicos para as simplicidades que resguardam as essencias, tais quais "samba de raiz" e o tão usado (e não menos colonizador) "old school".
Abraços!

Filipe disse...

Caro, se me permite, Cuba pode nos re-ensinar. Não tivessem matado a musicalidade do nosso Povo, veríamos isso

http://www.youtube.com/watch?v=tozhe0yTAqo&feature=player_embedded

em cada esquina do Brasil.

ACORDA BRASIL!!!

Craudio disse...

Gabriel, o pior é a aceitação a essas condições.

Filipe, mano, que covardia esse vídeo!!!

Sônia Evangelista Moreira disse...

Cara você falou a pura verdade e sabe o que pior a dona Rede Globo que vive de Ibope do povão conseguiu eletizar o amado esporte do povão colocando jogos em horarios ridiculos e etc...
sabe estão acabando com o zé povinho em prol de uma imagem bonita para exportar.

@OficialGalo disse...

Sou a favor de repartir as transmissões e já que o procurador disse que os jogos saõ do povo e naõ do CADE, então que a TV Brasil também possa transmitir os jogos.
Quero opção de escolha e não monopólio, quero transmissões de jogos mais cedo e naõ corujão.
EU QUERO RESPEITO COMIGO E COM OS CLUBES DO BRASIL, SEJA ELES PEQUENOS E GRANDES.
http://www.galooficial.com/