26 maio 2008

O poder público e as manifestações populares


No domingo ontem, aconteceu a 12ª edição da Parada do Orgulho GLBT, em São Paulo. A maior do mundo no gênero. E ainda vítima de muita perseguição, principalmente do poder público. Por causa da grande visibilidade e do mar de gente que toma conta das Avenidas Paulista e Consolação em todos os Corpus Christi, alguns espertos tentam desvirtuar o movimento ao tachar a Parada como um carnaval, uma festa sem nenhum engajamento político e/ou social.

De fato, há muita gente ali que não tem uma ideologia, que não está nem aí para a hora do Brasil. Até mesmo gays, lésbicas, bissexuais, travestis e o que mais possam inventar de denominações. Isso, no entanto, não esvazia de maneira alguma o fato de que milhões de pessoas aceitam, nem que seja por um dia, duas pessoas do mesmo sexo se beijando. Já disse aqui milhares de vezes e repito: orientação sexual não é parâmetro de caráter - assim como não o é cor de pele ou posição social. Fora isso, nada mais importante tirar do armário uma discussão que, até pouco tempo atrás, não podia sequer ser apresentada no almoço de domingo.

Voltemos ao evento em si. Houve, assim como nas últimas duas edições, uma correria por parte da organização para acabar com a manifestação antes das 19h. Acordos feito com a Prefeitura, que impõe essa condição para permitir a Parada na Paulista. Quem se lembra dos áureos tempos, porém, sente muita saudade dos shows na Praça da República durante a noite e a esticada pelos bares e boates dos arredores. Triste foi o segurança que teve a perna amputada após um atropelamento. Mais triste ainda é ver que a PM, ao mesmo tempo em que colabora para que exista alguma confusão por causa do excesso de pessoas (chegaram a jogar bombas de gás na Consolação, para dispersar as últimas pessoas que saíam da Paulista), faz vistas grossas aos furtos que acontecem a rodo.

Dito isso, a Parada ainda nos reserva emoções. Ver pessoas que conseguem, ao menos por um dia, extravasar todas as suas pulsões é tocante. Imagine a sensação de liberdade de alguém que se reprime durante 364 dias do anos perante a sociedade e a própria família? Há, ainda, demonstrações profundas de amor, como um casal de rapazes que caminhavam com um bebê. Pessoalmente, foi na Parada em que fui tomado por um amor incontido e incontrolável, que perdura até hoje até mais forte, quando me pediu - e assim vem se repetindo desde 2005 - em namoro a Evinha.

Precisamos mudar muitas coisas. Ainda não existem leis que garantam os direitos dos homossexuais. Ao mesmo tempo, vemos gente por aí, arrotando aos borbotões, que as cotas nas universidades ferem o direito constitucional de igualdade. Que igualdade, cara-pálida? Isso, inclusive, deve ser iniciativa dos próprios partidos. Poucos deles se manifestam abertamente sobre o tema, inclusive o meu. E quando se manifestam, fazem isso timidamente. Representantes públicos de todas as esferas devem colocar o tema em pauta. Empresas devem perder o medo de vincular sua imagem aos gays (são quase R$200 milhões movimentados em SP com a Parada).

Finalizando, a cornetagem básica: por que raios marcaram, para o mesmo dia, Parada GLBT na Paulista, palmeiras x portuguesa no Pacaembu e são Paulo x coritiba no Morumbi? Só para ver se dava merda? Salve a eficiência dos detratores do povo.


4 comentários:

Filipe disse...

Se me permite, começaria pelo mais espinhoso; essa história de achar que a democracia é igualitária.
Ninguém vai conseguir definir que cazzo de igualdade é essa. Se é igualdade política, sinto muito, pois ela não pode existir em uma sociedade capitalista, por razões que não convém aqui. Se for igualdade econômica, menos ainda que convém aqui.
Bem, sobra-nos a igualdade jurídica, mas deixa as piadas pra depois.
Diga-me onde praticam essa igualdade a qual se referem, quando querem preservar suas diferenças...

Igualdade social? Quando o seu chefe chega na segunda seis da manhã e fala que tinha "cada baita lésbica gostosa se beijando"?
(cito a frase pois, com algum apuramento, se percebe uma gama variada, um verdadeiro arco-íris de preconceitos em uma só verbalizada)

Quanto à homossexualidade, multisexualidade, plurisexualidade, pansexualidade, nada disso molda o caráter, pois são orientações. O caráter, podemos trocar em miúdos isso tudo, não é coisa direcionável, orientável, moldável, ou coisa parecida.
Não quis falar em opção, pois ela vem agora; cada um tem a sua.
E cada um julga a si da forma que quer.
E, em foro íntimo, pode até julgar outrem.
E, frente a esse impasse moralista, o estado deixa de ser o "zelador" para as atividades de seus cidadãos.
Dependendo da intenção, marca no mesmo dia duas paradas gays (eu não poderia resistir...), uma delas esvaziada pela outra, e um clássico Futebolístico de Piratininga, a porpeta contra o bacalhau.
Mas ele sendo zelador mais das empresas que de seus seres humanos, já deixa sinalizado para elas que não se juntem a qualquer atividade não-zelada.

E o Povo faz e acontece de todo e qualquer jeito.
Retro-sinalizando para o estado para onde ele deveria ir, se tivesse alguma vergonha social, frente a tantas desigualdades...

Abraço.

VAI CORINTHIANS!!!

evaodocaminhao disse...

e o melhor foi o ronaldinho

Rodrigo Barneschi disse...

Japonês,

Você sabe o que eu penso e eu não preciso avançar no debate.

Tive, por ocasião da saída do jogo do Palmeiras, de passar (felizmente de carro) por alguns desses elementos aqui e acolá.

E não vi nada disso que você viu. Para mim, só sobram um bando de pilantras pederastas de sunga andando pela rua como se fossem pessoas normais. Uma lástima...

Abraços

Craudio disse...

Barneschi, um dia você ainda se liberta e arrasa!