07 novembro 2008

Meia-boca


A tucanagem, na sua tarefa árdua de prejudicar o povo brasileiro, apresentou um projeto no Senado para limitar a meia-entrada entre segunda a quinta-feira. A proposta, segundo os autores, visa diminuir os preços nos cinemas, teatros, shows e eventos esportivos. Quando se trata de tucano, é sempre assim. Eles inventam uma desculpa que, aos olhos da moral e dos bons costumes, é linda. Na prática, porém, ou a coisa não se cumpre ou acontece de maneira totalmente oposta.

É bom lembrar, primeiramente, que esse rolo todo de meia-entrada tem origem na publicação da MP que tirou da UNE o controle da confecção das carteirinhas de identificação dos estudantes. Bancada por FHC e seu ministro Paulo Bernardo, a medida criou um mercado para predadores ganharem dinheiro e desestruturou o movimento estudantil ao retirar das entidades sua única fonte de renda.

A conseqüência dessa artimanha foi emissão desvairada de carteirinhas, toda ela feita sem nenhuma fiscalização e sem nenhum critério. Qualquer um apresentava um boleto falso numa pizzaria e saía com a sua identificação estudantil. E eu não vou ser hipócrita: fiz isso até ano passado.

Por quê? Porque isso é nada mais do que uma cadeia de acontecimentos. Com a farra do boi, os empresários resolveram aumentar os preços dos ingressos para não comprometer sua margem de lucro. Fazendo isso, mais gente passou a falsificar o documento. Com mais gente falsificando, mais meia-entrada na praça. E mais inflação nos preços.

Agora, as aves bicudas se vestem da cara-de-pau e resolvem interferir novamente na questão, usando um mecanismo ainda mais excludente. Mas quem me garante que os preços serão reduzidos? Quando o dólar estava nas nuvens, os shows internacionais ficaram caríssimos e também influenciaram os shows nacionais. Depois da queda da moeda norte-americana, esses valores diminuíram? Isso sem contar outra lei aprovada pelo PSDB que acabou com a consumação mínima em bares e casas noturnas. A desculpa do barateamento era a mesma, porém nosso bolso continuou esvaziando.

No meio dessa discussão, nem mesmo a UNE quer deter novamente o monopólio das carteirinhas. A UNE entende que o governo deveria regular a emissão do documento, mas repudia a proposta de restrição à meia-entrada por ela se tratar de medida contrária à democratização da cultura.

Por todo o bafafá, apenas uma certeza: eis uma boa hora para começarmos a falar sobre políticas públicas e subsídio para a cultura. Que o governo faça concorrência aos endinheirados que hoje bancam shows, peças e filmes, abrindo mais espaço para os artistas e utilizando as artes e o esporte como meio de inclusão.

Nenhum comentário: