22 abril 2010

Febre Alvinegra


Corinthians 1 x 0 Flamengo - 03/09/1994
Pacaembu - São Paulo

Resgatando a série Febre Alvinegra de um longo hiato, iremos lembrar, coincidentemente, de meu primeiro hiato nos estádios. Depois de um 1993 bastante ativo, as coisas ficaram complicadas em casa logo após a virada do ano, principalmente na parte financeira. Por conta dessa turbulência, aliada a minha parca idade e nenhuma disposição e necessidade de trabalhar para sustentar meus ingressos, fiquei o primeiro semestre inteiro sem ir aos jogos. O
Corinthians também passava por reformulações significativas, após perder o famoso trio caipira da bela campanha anterior e amargar o terceiro ano sem conquistas, ao mesmo tempo em que assistia a seu rival ganhando até campeonato de peteca.

Curioso notar, no entanto, é que minhas duas primeiras temporadas sobre o cimento da arquibancada são as que mais dão saudades. Ainda que sem nenhuma taça conquistada, o
corinthianismo e as lições de São Jorge iam impregnando na alma e alentavam o coração. Na época eu me revoltava com o jejum de títulos, achava aquilo tudo muito injusto, mas entendo hoje que o revés foi essencial para me manter sempre distante das ciladas do presente e do futuro. Meu pai alertava, lembrando toda a fila de 23 anos: "não reclama, você não sabe o que é sofrer".

De toda forma, no mês de setembro as coisas já haviam se ajeitado, o Brasil ganhara a Copa do Mundo e isso foi um bom sinal para a retomada das atividades. Assim, fui comemorar o 84º aniversário do
Timão no Pacaembu e ver de perto Casagrande - de volta quase um ano após aquela declaração de amor antológica da Fiel - e um outro molecote recém-chegado da Gávea, de nome Marcelinho Carioca. Não sei se alguém já passou por isso, mas um retorno ao Templo Sagrado depois de ausência forçada (não valem os períodos de intertemporada) tem sabor muito especial. Particularmente, vivi duas vezes essa sensação: a descrita agora e depois do Brasileiro de 2005, quando me recusei a compactuar com tudo aquilo que acontecia no Parque São Jorge. Mas essa é uma história doída demais e será contada adiante. Enfim, no dia 03 de setembro, um belíssimo sábado, lá estava eu num dos meus lugares preferidos no mundo.

Cheguei cedo ao estádio e resolvi ficar atrás do gol do Portão Principal para acompanhar a movimentação da torcida. Do jogo e do time, pouco vi. Lembro vagamente da bela troca de passes que fizeram Marcelinho e Souza, meia-esquerda habilidoso que seria eleito fácil, fácil, o melhor jogador do mundo no futebol atual. O restante do elenco também era muito bom, com Casão, Marques e Viola no ataque, Zé Elias, Marcelinho Paulista e Boiadeiro descendo o sarrafo na entrada da área, Henrique, Pinga e Gralak nos assustando na defesa e os experientes laterais Branco e Paulo Roberto dando boas opções pelas bordas. Um belo esquadrão, mas que naquele dia quase não prendeu minha atenção. Meus olhos eram devotos da festa que os 45 mil corinthianos presentes faziam.

Sinto decepcionar os mais novos e longe de mim ficar com saudosismo barato, mas a molecada que acha o máximo qualquer meia-dúzia de bexiga e sinalizador nunca vai saber o que foram aquelas bandeiras, aqueles rojões e aquelas fumaças que se misturavam e faziam o Pacaembu parecer um portal para outra dimensão. Talvez até fosse isso, já que o transe profundo que toda partida inspirava jamais senti em qualquer outro lugar. Para quem iria completar ralos 13 anos dali uma semana, multipliquem o efeito sinestésico do troço em mil.

Ainda sob o êxtase após o espetáculo da Fiel e a gloriosa vitória de 1x0, deixei nossa casa e percebi que torcedor de verdade pode até tentar estabelecer outras prioridades em certas fases da vida. As obrigações do cotidiano, o dinheiro (geralmente a falta dele) ou algum problema de saúde são fatores que, vez ou outra, anestesiam nosso amor incondicional. A palavra é realmente essa, anestesiar, porque ninguém deixa de ser torcedor. Meu retorno à arquibancada é um exemplo disso.

8 comentários:

Rodrigo Barneschi disse...

Em tempo: moderação de comentários é viadagem!

Rodrigo Barneschi disse...

Japonês,

Eu compraria o seu livro. E até faria propaganda dele, uma vez que, ao contrário do nosso amigo Galuppo, não poderiam derrubar o meu busto (até porque eu não tenho um).

Portanto, por que não colocar tudo em um livro em vez de aqui? Talvez eu devesse fazer o mesmo, por sinal.

Abraços

Craudio disse...

É que tu não sabe o que andava passando por aqui...

Craudio disse...

Pô, sobre o livro, agradeço! E o Galuppo faria o prefácio, nos moldes da dedicatória que ele fez pra mim no livro dele hahahahahha.

Podíamos até fazer uma série, tem louco pra nos publicar? De qualquer forma, aqui também é um registro e, quem sabe, o ponto de partida pra esse louco aparecer e querer registrar nossas histórias.

Alma!

Corinthiano disse...

Boa Claudio!
Temos a msm idade, e sinto muito, mas acho que fomos a última leva a pegar estádios lotados (mesmo com times de baixa qualidade), bandeiras, sinalizadors, fumaças, aquelas fitas lançadas por uma espécie de rojão, pacaembu com 50mil pessoas, os clássicos no panetone onde as cordas separavam as torcidas...
Como era criança não conseguia ie a mtos jogos, mas ainda sim lembro de partidas memoraveis, como contra o meigo, um ano antes - Volta Casão seu lugar é no timão!

Estou em contagem regressiva para "madrugar" no templo.

Vai Corinthians

Clayton

Rodrigo Barneschi disse...

Tô dentro, até porque o meu projeto de livro vai por essa linha aí. Difícil é arrumar tempo.

Derrubemos o busto do Galuppo!

Craudio disse...

Clayton, penso como você. Aqueles que cresceram vendo jogos a partir de 1995 pegaram uma série de títulos consecutivos, junto ao início das campanhas contra as organizadas e a modernização feroz do esporte. O resultado a gente já percebe em todos os jogos.

Barneschi, dizem as más línguas que agora o Galuppo também está vendo seu busto contestado no Juventus da Mooca. Periga cair antes que o do Pelé.

Marcus disse...

Sinceramente eu não estou feliz com esse próximo confronto, depois de no ano passado o Jucilei dizer também que era ou é ainda sei lá flamenguista e depois do papelão do jogo ano passado no Brasileiro fiquei desanimado, fora o Gordo que pipocou, refugou e também é assumidamente flamenguista , Felipe e o JH tb podem ser, desconfio que sim. Sou a favor de tirar todos eles e jogarem com outros jogadores, de boa, se pipocarem e não honrarem a Camisa do Corinthians que se fodam todos eles....Principalmente o pepino do mar que esse ano ta de sacanagem e com uma má vontade dos inferno.