06 janeiro 2010
O tal mundo corporativo
Encerrou-se minha curta passagem pelo mundo corporativo numa rede varejista de artigos esportivos. Em menos de um ano, reaprendi o que já tinha visto no período de estágio, quando presenciei in loco a postura de jornalistas de renome vibrando com as bombas sobre Bagdá na invasão estadunidense ao Iraque. Triste não é ser demitido, e de certa maneira achei até bom porque estava em vias de entregar minha carta, mas sim ver algo que tinha um potencial incrível de crescimento não sair do lugar por conta de despreparo gerencial e de certas burocracias - alguém lembra aí que uma das "vantagens" das privatizações era substituir os morosos procedimentos estatais pela agilidade das empresas?
Vejam que o troço era tão desafiador e promissor que a equipe contava até com uma inédita área de redes sociais, no caso com este que vos escreve. No entanto, como em todo projeto bem sucedido, o planejamento de ações e a estratégia devem partir de baixo para cima, ou seja, com o chão de fábrica levando às instâncias superiores as idéias, os riscos e a previsão de resultados. É até lógico, uma vez que são esses profissionais que estão lidando dia-a-dia com aquilo que se quer tratar. Porém, no mundo corporativo isso é mero discurso.
No mundo corporativo, as coisas funcionam por meio de chamados na intranet. Se você precisa, por exemplo, de uma pasta no servidor para abrigar um simples blogue construído no Wordpress, isso demora mais de seis meses. No mundo corporativo, se você quer enviar um e-mail marketing, é necessária uma solicitação à TI (ou Tudo Incompetente) pré-histórica, e as métricas e relatórios nunca serão retornados. No mundo corporativo, se você tem um papo que engana gerentes e diretores, você é considerado gênio, mesmo não apresentando nenhum retorno do seu blablablá. E, principalmente, no mundo corporativo você escuta aquele mantra de que é preciso "pró-atividade, ousadia, espírito de vencedor, trabalho em equipe e iniciativa", ainda que o salário não condiga com a pregação.
Grandes empresas são verdadeiros ninhos de cobras, uma querendo passar a rasteira na outra. E os empresários adoram seus funcionários em constante clima de guerra para ver quem vai mostrar mais serviço, a qualquer custo. É a potencialização da mais-valia da pior maneira, com o assalariado se conformando com a exploração do seu trabalho e subvalorizando sua ética em busca de um lugar ao sol que pode nunca aparecer.
De saldo positivo, alguns amigos e o conhecimento adquirido - mesmo que metade do que o proposto não tenha se concretizado - com a valiosa experiência na área de marketing, para onde provavelmente me encaminharei daqui para frente, haja vista a degradação do jornalismo. De inovador, vi meu gerente não tendo a coragem de me mandar embora e aceitando uma outra demissão via MSN, sem contestação (talvez por isso ele tenha bloqueado o MSN da equipe, sob a alegação de distração e consumo de banda). De certezas, eu pretendo nunca mais fazer parte desse sistema vil e paranóico. Será que é tão difícil as pessoas compreenderem que a gente só trabalha para poder pagar nossas contas, nossa cerveja, um passeio de fim de semana com a amada, nosso ingresso no futebol e nosso churrasco? É tão criminoso pensar dessa maneira?
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17 comentários:
Meu caro amigo,
1. Obrigado por ser o porta-voz de muito do que eu penso.
2. O grande problema, entre tantos, é que há gente que quer ganhar o dinheiro pelo dinheiro (e sempre mais), e não pelo que ele pode proporcionar.
Abraços
E a vida seria tão mais simples sem a obsessão doentia e cruel pelo dinheiro.
Tens toda a razão! O problema não é o dinheiro em si, mas o que as pessoas fazem para acumular e ganhar cada vez mais.
E aí entra essa doutrinação babaca, que ainda conta com o famoso "plano de carreira" e as tais oportunidades de crescimento.
Abraço!
Genial, Craudião. Um raio-x perfeito dessa cabecinhas de merda guiadas pelo medo. Sensacional...
Definiu perfeitamente o público-alvo do "eu tenho medo" da Regina Duarte!!!
vira logo funcionário público?
kkkkkkkkkkkkk
Hahahahahahhahahahahahahahaha...
Menos gari, pro Boris Casoy não me ofender hahahahahaha
É por essas e outras que saí do "mundo corporativo" em 1995. Para nunca mais voltar.
Anda-se sempre com a bunda colada na parede por esse tal mundo corporativo.
Eu aguentei 1 ano.
A pior parte não é tanto as cobras criadas, é mais a impressão de que estamos definhando por dentro a cada segundo.
É assim mesmo, muito me identifico com teu post, presto serviço para uma grande empresa, e convivo com isso, a cada novo diretor que entre é um verdadeiro parto, pois a 1º coisa que eles cismam em fazer é reaver o contrato, rs.
Mais eu ja to vacinado contra o ninho de cobras que se formam em grandes empresas, é necessário que se jogue o jogo pelos modos do "adversário" se jogamos limpo, nos fodem, ou tentam nos foder.
Ah em dezembro eu fui numa Oficina de Ciência da Religião na Puc, um dos Professores que estavam ministrando a aula lá chamou atenção de que nas maiorias das grandes empresas quando se entra já na recepção tem um quadro bonito escrito "Misão: Proporciona o crecimento coletivo e isso e aquilo" se realmente o interesse de fato fosse esse não era preciso escrever numa placa para se lembrar dele, foi o que disse o Professor e no fundo é a grande verdade.
Um Abraço Irmão!
O pior nesse nosso caso Claudio, é o despreparo apresentado pelo Gerente e o pseudo Gestor comercial, sair falando mal dos outros e manter pessoas na equipe que para espisinhar em um ex colega de trabalho manda um sms "anônimo" do computador da própria empresa e eles não tomam atitude nenhuma com essa funcionária.
Eles ficam parados esperando as coisas cairem do céu, pois não tem idéia de como faze-las.
Abs;
O que pediu as contas por MSN.
Haahahahhahahahahaha.
Graaaaaaaaaaande Vidal!
Cláudio,
Quem faz o ambiente, são as pessoas, pelo seu relato, havia ali uma direção incompetente, processos falhos, etc. Seis meses para criar uma pasta no servidor? Solicitação para TI para enviar um email marketing? Isso são problemas que em maior ou menor grau vão minando a empresa, os trabalhadores e em último estágio fazer com que essa empresa perca mercado para um concorrente (olha o mercado aí!)que tenha uma direção mais competente e processos mais ágeis.
Não acho porém essa experiência seja uma regra geral. Já passei por situações semelhantes e posso afirmar: nem todos os lugares são assim.
Quero dizer que trabalho pelos mesmos motivos que você: "pagar nossas contas, nossa cerveja, um passeio de fim de semana com a amada, nosso ingresso no futebol e nosso churrasco", e isso meu caro não tem nada de criminoso. Dá pra trabalhar no "mundo corporativo" e ter paz de espírito e ser feliz, basta não abrir mão de sua essência.
Um abraço,
Claudio,
Se não abro mão dos meus valores e ideais, sou taxado de retrógrado, engessado, em certo momento, até de antipático. Se sucumbo ao discurso corporativo e me "modernizo", ficando flexível, adaptável, para me tornar em ente produtivo, alimento a culpa de não ter sido fiel aos meus valores. Eis aí o que esse mundo corporativo me proporciona.
Queria ganhar dinheiro apenas para sustentar minha família de forma digna e poder ver o VASCO jogar com um copo de cerveja na mão.
O mundo corporativo perdeu um grande talento.
FODA-SE o mundo corporativo.
Abraços.
O grande problema é que, se você trabalhar só pra viver, você estará vivendo. E aqueles que ganham dinheiro só pelo dinheiro não poderão te fazer crer que ganhar dinheiro é bom, uma vez que você estará ganhando PARA fazer algo que considera bom. Enfim, no mundo corporativo você não pode considerar coisa alguma, ainda mais viver. E também não ganhará dinheiro suficiente, se o caso é ganhar dinheiro por ganhar dinheiro.
A desgraça maior é que também não viverá.
Portanto, mano, viva.
E VIVA O CORINTHIANS!!!
Senhores, este post fez mais sucesso do que eu imaginava. Agradeço a palavra de todos que compreendem que a vida não é viver em função de uns desgraçados ganhando dinheiro às nossas custas.
Marco fala... Fantástico seu texto Claudião.
Abraços.
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