05 fevereiro 2010

Bambas da Paulicéia


"Segunda-feira estava sem inspiração
Sem perceber me vi na Ponte do Limão
Aquela gente do Peruche festejava
O bom da vida na maior animação"


Ano passado, comecei essa série para falar sobre algumas curiosidades do samba paulista que consegui achar aqui e ali. O troço ficou meio esquecido desde então e decidi retomá-lo hoje, a uma semana do Carnaval, depois da aula impactante que tive com Seu Carlão do Peruche e Décio Ferreira. Baluartes da minha querida Unidos do Peruche e, por que não, do próprio samba de São Paulo, as falas de ambos estão reproduzidas logo abaixo, no fim do texto.


No entanto, antes de tratar da folia de Momo em Piratininga, é dever reiterar sempre o lamentável cenário em que ela está inserida atualmente. Ao longo dos anos, as autoridades foram podando toda e qualquer manifestação cultural, popular e espontânea, principalmente os blocos. Tente, por exemplo, juntar um pessoal para fazer um batuque na calçada. A quantidade de autorizações necessárias desanima. Restrito a um Sambódromo cada vez mais sem alma, não é exagero dizer que o Carnaval morre com a cidade nos cinco dias de festa, e isso nada mais é que o retrato da esterilidade, do conservadorismo e do moralismo barato que toma conta da terra da garoa.

Voltando ao Peruche, lembremos que Seu Carlão foi um dos pilares da organização do samba na capital paulista - entenda organização não com o sentido burocrático da modernidade, mas como uma forma de se reunir e fortalecer comunidades geralmente carentes que, à época, tinham só o samba como alternativa. Ao lado do Seu Nenê, tia Eunice e Xangô da Vila Maria, Seu Carlão puxou do Rio de Janeiro o modelo estrutural das escolas de samba. Ironicamente, seu Carlão, sempre apegadíssimo ao samba de bumbo de Pirapora, teve de ver sua luta se transformar nessa batedeira sonora e nessa correria que são os desfiles de hoje em dia.

Seu Carlão trata, primordialmente, da fundação da Unidos do Peruche e da sua vivência na Lavapés. Conta também o período glorioso da escola, só possível num tempo de desfiles que saíam do coração. Décio Ferreira complementa as histórias de Carlão, com destaque para o esquema colaborativo que imperava entre as agremiações.

Chega de papo, fiquem com os mestres:


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