14 setembro 2009
Hora da Patrulha
Nesta segunda chuvosa, o generalzinho Gilberto Kassab esteve no programa Jornal Gente da Rádio Bandeirantes para falar sobre os problemas de São Paulo. Quem conhece a atração comandada por José Paulo de Andrade sabe que, invariavelmente, os políticos são tratados com pouca ou nenhuma cordialidade pelo seu anfitrião - salvo raras e óbvias exceções, como será visto adiante. Ao lado de Joelmir Beting e Salomão Ésper, o fascistóide Zé Paulo representa o que há de pior na imprensa e retrata muito bem a sociedade paulistana: é extremamente preconceituoso, reacionário e tem o ranço tradicional a qualquer nordestino metalúrgico que chega ao cargo de presidente da República. Recebendo o alcaide, no entanto, o programa deixou de lado toda sua característica e descambou para um papo de comadre temperado com pitadas de assessoria de imprensa informal e militante.
Os apresentadores, vorazes críticos de tudo no mundo, portaram-se tal qual cordeiros em pele de lobo. Tiveram grandes chances de colocar o prefeito contra a parede (coisa que ele deve a-do-rar!), principalmente por causa das últimas enchentes. Pelo contrário, o assunto ficou em segundo plano e ninguém questionou o sumiço da máxima autoridade executiva durante o caos instalado no município na terça-feira passada. Houve, ainda assim, a pergunta sobre a péssima execução dos serviços de limpeza, na verdade um cruzamento de três dedos para o oportunista Kassab mandar a resposta sem esforço ao barbante, afirmando que o investimento no setor é recorde. Se é recorde, então está sendo muito mal empregado - já que é latente o acúmulo de entulho pelas ruas - ou indo irregularmente para o bolso de alguém (e essa possibilidade também não foi levantada pelos jornalistas da Band). Ainda nesse quesito, sempre é bom lembrar que hoje apenas 1% do lixo recolhido diariamente passa pela reciclagem, uma iniciativa que deveria ser prioridade da atual secretaria municipal do meio ambiente, curiosamente sob a batuta de Eduardo Jorge, do Partido Verde (!?!?!?!?).
Outras temáticas importantes passaram ao largo das perguntas ácidas e foram apresentadas, sem nenhuma contestação, como modelos de eficiência administrativa, em destaque a saúde e a educação. Novamente, a realidade contradiz as palavras do prefeito. As AMAs, por exemplo, estão em déficit se ainda tiverem validade as promessas de campanha e tal estelionato eleitoral não deverá ser reparado tão cedo dado o corte de orçamento no setor. Quanto às escolas, podemos citar o novo esquema de entrega do leite (notem que, nesse caso, não é assistencialismo barato como no Bolsa-Família). Além de tirar os professores da sala e prejudicar projetos pedagógicos por conta de preenchimento de relatórios burocráticos que determinam quem recebe o benefício, o leite agora vai pelos Correios e o envio significou um custo extra de R$29 milhões à Prefeitura.
Falando sobre contas públicas, Kassab demonstrou sintomas de amnésia ou memória seletiva. Disse o prefeito que São Paulo paga R$200 milhões por mês em dívidas, todas elas contraídas em gestões passadas. Opa, não era ele o secretário de planejamento de Pitta, na administração que mais deixou rombos nos cofres da cidade? A cara-de-pau só foi maior na menção despreocupada e inverossímel aos buracos inexistentes nas ruas, outra ferida aberta pelo choque de gestão demo-tucano que não deve ser percebida a partir das caronas de helicópteros que esse pessoal anda pegando.
Ao fim da entrevista, e antes de anunciar sua visita beija-mão ao cappo do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, Kassab antecipou o presente que dará a todos os paulistanos: aumentará o preço da tarifa dos ônibus, mas só em 2010 porque ele é muito bonzinho e, sensibilizado com a crise mundial, postergou a decisão. Nossos ônibus sempre vazios, pontuais, com ar-condicionado e de confortáveis poltronas reclináveis circulando pelos milhares de corredores exclusivos realmente custam caro.
Sorria São Paulo.
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