13 julho 2009
Hora da Patrulha
Dentre as bobagens que as administrações paulista e paulistana andam fazendo na cidade de São Paulo, é imprescindível não deixar passar batido a reforma da Marginal Tietê. Já havíamos tratado do assunto nesta seção, citando o blogue Apocalipse Motorizado. Por lá, é denunciada à exaustão a devastação ecológica oriunda de mais uma brilhante realização demo-tucana, tendo como contraponto o deslocamento urbano por meio de bicicletas. Longe de mim querer sair pedalando por aí ou defender a causa - até porque só no meu bairro é só ladeira -, mas o fato é que uma coisa puxou a outra, as explicações do poder público são risíveis e os arautos da moralidade e dos bons costumes, tão preocupados tempos atrás com a transposição do Rio São Francisco, hoje nada falam.
O Seo Cruz linkou o PHA na semana passada, referenciando um vídeo esclarecedor sobre a ampliação de faixas na Marginal. Como é costume de muita gente falar bobagens sem ler ou prestar atenção no que é postado pelos blogues, descreverei o dito filme de maneira breve e didática. A Prefeitura e o Governo do Estado estão cortando árvores das margens do Tietê para a construção de novas pistas que não vão melhorar o trânsito. Como conseqüência, além de eliminar a já escassa área verde de São Paulo, a obra irá agravar o problema do superaquecimento urbano e desfigurar o ecossistema varzeano.
Elimando qualquer burburinho e, ao mesmo tempo, fazendo escada para os aliados da mentira que atende pelo nome de Partido Verde, Kassab e Serra têm a cara-de-pau de colocar faixas informativas nas pontes, avisando que as árvores arrancadas da Marginal serão repostas no Parque Ecológico. Como se o troço funcionasse assim... Seria o mesmo que devastar a Amazônia e anunciar o replantio no sertão nordestino.
É dever cívico assistir ao vídeo, novamente linkado aqui, para que se entenda o porquê da ineficácia de uma medida que se alia à imbecilidade da proibição dos ônibus fretados e o sucateamento do transporte público. A ideologia reinante é supervalorizar a locomoção por automóveis, favorecendo montadoras (patrocinadoras de campanha, diga-se) em detrimento da saúde da população e do desenvolvimento sustentável.
Diante de toda essa presepada, penso na subprefeita da Lapa, aquela senhorinha simpática e jovial que vive a pintar escolas. Lembro do arranca-rabo dela com o Maluf durante a última campanha eleitoral, depois que o folclórico pepista sugeriu asfaltar o Tietê. Subindo nas tamancas para desancar o concorrente, a mocinha citou todas as conseqüências ecologicamente incorretas de uma obra nesses termos. O que será que ela teria a dizer agora? Ou será que ela, agora, não sabe de nada?
Sorria, São Paulo.
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Um comentário:
Pra quem ainda tem dúvidas sobre se vai haver alguma melhora do trânsito com as faixas na marginal, um exercício: compare o sistema viário com uma rede de canos d’água. Assim: a adutora da rua é bem larga, mas isso não quer dizer que a quantidade de água que chega na sua torneira aumente se alargarem a adutora da rua. Se você alarga a marginal, quando os carros saírem dela encontrarão ruas estreitas e pararão; isso forma uma fila, que reflui para a via expressa e trava suas pistas. Exatamente quando você fecha a torneira de sua casa.
São Paulo licencia mais de 700 carros novos por dia (crescimento vegetativo). Se você considerar que cada carro tem 3 metros, são 2,1 km. de fila de carros por dia. Em um mês, são +-60 km. Em um ano (200 dias úteis), 12000 km. A malha viária total tem 16000 km de extensão. Lembrem, são só os carros novos!
1,3 bi para obras viárias poderia ser canalizado para expansão do metrô. Esse é o custo da futura linha 4.
Os paulistanos têm de entender uma coisa: não dá mais pra todo mundo andar de carro ao mesmo tempo aqui. Então, esse transporte tem de ser DESESTIMULADO, fazendo com que as pessoas DEIXEM OS CARROS EM CASA e usem transporte público. É a única saída, mas parece que ninguém entende. SP vai virar uma Los Angeles, que tem “marginal” de 16 pistas e fica engarrafada o dia todo.
Comentei isso no Cruz de Savóia, depois vi que era seu. Desculpe a desatenção.
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