04 setembro 2009

Hora da Patrulha


De todos os malefícios que os governos tucanos trouxeram para São Paulo e para o país, talvez o pior deles tenha sido a privatização irrestrita dos serviços básicos à população. A coisa funcionava de vento em popa no reinado do monarca FHC e muita gente enriqueceu às custas do dinheiro do povo - basta ler o livro "Brasil Privatizado", do saudoso Aloysio Biondi, para entender. Depois de um tempo, no entanto, a venda depravada do patrimônio público passou a ser vista por muita gente como algo pouco positivo, principalmente por conta da piora no atendimento (mesmo privado) e na qualidade do produto oferecido. A desaprovação maciça ao golpe contra a Petrobrás e o pré-sal, por exemplo, comprova que o brasileiro não aceita mais fazer o papel do nativo que entrega aos colonizadores suas riquezas naturais.

Assim, os bicudos tiveram de realinhar seu modus operandi, promovendo as terceirizações por debaixo do pano e sempre com a ajuda da mídia vendida e golpista (leia-se Falha de S.Paulo, Globo e que tais). A educação foi o primeiro setor onde tal modelo se disseminou silenciosamente, com empresas de limpeza e merenda enchendo a burra de grana nas escolas de primeiro e segundo grau e as fundações na USP restringindo ainda mais o acesso ao ensino superior. Agora, em outro ato deprimente, o governo estadual e a maioria tucana e omissa na Assembléia Legislativa aprovaram o
atendimento pago nos hospitais públicos, uma aberração sequer questionada e tampouco debatida de maneira ampla pela sociedade.

Segundo a nova regra, os hospitais poderão receber pacientes particulares e de convênio. É óbvio ululante que, pressionados pelo Palácio dos Bandeirantes e pela lógica mercadológica, funcionários irão dar maior atenção aos pagantes, deixando de lado a população mais carente. Ao mesmo tempo, as empresas particulares responsáveis pela administração dessa estrutura terão caminho livre para criar seu oligopólio dentro do sistema público de saúde e, além da clientela garantida, não precisarão desembolsar um centavo na construção de hospitais. Já o governador poderá apresentar na propaganda eleitoral de 2010, com todo o garbo e elegância, que o Estado deixou de gastar com essa "bobagem" e o choque de gestão teve suas metas alcançadas, com a graça do Santo Expedito.

O alerta que aqui fazemos é necessário, pois a medida é a oficialização de um procedimento que ocorria veladamente no Hospital das Clínicas e em outros postos de saúde mantidos pelo Estado: a segunda porta. Grosso modo, fura a fila do atendimento quem tem dinheiro para pagar. Isso, obviamente, é ilegal e não registrado, e pessoas enriquecem às custas da estrutura estadual. O que o Serra fez - olha que bonzinho - foi legalizar essa imoralidade.

Quem deve estar preocupado é o pessoal das favelas de Paraisópolis e Heliópolis. Afinal de contas, onde eles irão buscar auxílio médico quando a PM do Serra invadir os barracos e promover outra de suas chacinas, com transmissão ao vivo da Globo e tudo mais?

Sorria, São Paulo.

5 comentários:

Otávio disse...

Cláudio, isso é uma prática antiga, desde de o advento do início das cooperativas de saúde (unimed,medial,etc), ou seja, por volta de 20 anos atrás. Tanto sei pois minha mãe é médica responsável pelas internações de um hospital aqui da minha cidade, sendo esse hospital público, como há convênio particular, ela pode internar tanto pacientes pelo SUS, como pela UNIMED. E para vc ter uma idéia, a diferença paga pelo SUS e pela UNIMED vc deve imaginar qual é a diferença.

Filipe disse...

É, é antigo o que os tucanocratas fazem com a saúde.

O governador foi ministro da saúde, lembra??

Pô, Claudio...

Craudio disse...

Ué, Batata, se a imoralidade é prática antiga, então tá tudo certo? O problema não é esse...

Mano Filipe, não fala assim que a verdade machuca.

Anônimo disse...

Aqui mesmo na santa casa de São Paulo temos um caso que lembra algo assim.

No mesmo lugar temos dois hospitais: O santa isabel (se não me engano) em que uma consulta custa R$100,00 e a Santa Casa de São Paulo.

É triste ver o pessoal entrando no Hospital particular achando que é a santa casa.

Lula.

Anônimo disse...

Grande Claudio,

É, foda. O que pega é que boa parte desses caras tem como referência o liberalismo hardcore da Academia gringa. E pior: sem qualquer reflexão. Aí quando tentam aplicar a coisa aqui acaba sendo na marra.

É mais ou menos como o gorila que tenta enfiar a peça redonda no buraco quadrado. Alguma hora, a coisa quebra.

No caso, o princípio é o de que, com a convergência de conveniados particulares para os hospitais públicos, a classe média de algum jeito se sentiria tocada e mexeria a bunda e algo aconteceria.

Na teoria, até pode soar bacana. O que fode é que ninguém coloca na conta o sucateamento e o estado do serviço atual, e a projeção dos estragos causados pela mudança na política é solenemente ignorada. Vai explicar pra esse povo que o mundo real não funciona com as regras do liberalismo mágico...

Ah, sobre o "Brasil privatizado", se alguém se interessar ele pode ser baixado de graça na Biblioteca Virtual da Fundação Perseu Abramo. O link é o que tá ali embaixo.

http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=1699

E abraço!