29 setembro 2009

It's only business


Nada pessoal, trata-se apenas de negócios. Essa nojenta premissa se faz presente em quase todas as relações sociais de hoje em dia. É no futebol, no trabalho, onde sempre somos explorados, e até nos círculos familiares - o casamento é um mero contrato de tolerância. A música não fica de fora e a produção intelectual vive sob o intenso debate de como ser quantificada monetariamente. Direitos autorais e o escambal.

Analogicamente ao que ocorre quando a bola rola nos gramados, infestam o meio musical empresas e empresários que sugam o máximo de dinheiro usurpando da paixão de terceiros. É o nosso choro ao ouvir o Rei, a emoção de estar com os amigos numa bela roda de samba, a vibração num show do Ramones transformados em produto.

Aqui se faz necessário abrir parênteses para explicar o porquê de colocar no mesmo balaio rock e samba. Discordo do Nei Lopes e de tantos outros grandes brasileiros que atribuem ao ritmo norte-americano o papel de mero instrumento de alienação global e o contrapõem ao samba, nesse caso o libertador revolucionário. Até compreendo a ideologia, já que o samba sempre ficou à margem da indústria cultural e só é reverenciado quando os boçais se dão conta, esporadicamente, de seu poder de faturamento, ou seja, numa constatação desvirtuada. Porém, há um teor subversivo no rock 'n roll tão forte quanto no batuque - não é o caso de ficarmos provando -, e se temos bandas de merda fazendo sonzinho para vender disco e deixar os jovens ainda mais imbecis, isso também acontece no samba. Aproveitador, como se sabe, não escolhe gênero musical.

Seguindo adiante, impressionou-me na última semana o valor dos ingressos de dois shows. Paulinho da Viola se apresentou em São Paulo e a entrada mais barata sairia por nada menos que R$60. Não se discute aqui merecimento, mas sim a adequação do preço ao público que segue e que aprecia sua obra com o coração. Elevando a tarifa, elitiza-se o troço.

Esses R$60 do Paulinho só não chegam perto do despautério dos R$250 que serão cobrados pela apresentação do AC/DC.
A banda australiana veio ao Brasil pela última vez em 1996 e lembro que ingresso não passava dos R$40, havendo inclusive meia-entrada minutos antes do início do show. Tudo bem que o dólar valia menos que o real, mas os equipamentos, por exemplo, baratearam desde então e isso quebra o parâmetro. Ocorreu, no caso dos artistas internacionais, uma mega-inflação depois da quebra do câmbio no segundo mandato do monarca FHC, que não foi corrigida quando o dólar voltou a cair. Apesar de ser fã ardoroso dos irmãos Young, pergunto: vale essa grana toda?

Não, não vale pelo que eu posso pagar e por tudo que já adquiri de artigos relacionados ao grupo. Assim como não dá para aceitar que artista brasileiro cobre mais que R$40 de entrada em seu próprio país. Tenho, inclusive, uma lógica particular para isso: quanto mais caro é o ingresso, maior é a quantidade de gente descompromissada na platéia e, conseqüentemente, pior é a apresentação. Puro empirismo. Da mesma maneira que vai "à balada cara com a banda bacana", esse "cliente" descompromissado (e tão valorizado) troca de "ídolo" como quem troca de cueca.

Reitero que não se trata de ranço contra esse ou aquele artista. Só não sou obrigado a suportar choro quando alguém baixa um mp3 ou arranja esquema para pagar meia. Se o it's only business vale na ida, deve ser regra na volta também.

6 comentários:

Michel Toniato disse...

Mesmo por anos lamentando o fim precoce daquela que para mim foi a banda mais significativa da história do rock, quando nos dias de hoje, fico pensando sobre o fim do Ramones, lá no longíquo ano de 1996, percebo que a banda acabou no momento exato.
Seria insuportável aturar como você bem disse, aquele bando de sujeitos descompromissados com a banda e sua história; achando que Joey e Johnny eram super amigos, que Pet Sematary era o que de melhor a banda já tinha feito, que Acid Eaters foi um ótimo disco de inéditas, e que o lendário It´s Alive peca por conter apenas músicas dos três primeiros discos.
Abraço

Filipe disse...

E veremos acontecer no Futebol, como já se ensaiou quando alienados viraram a casaca depois da super-purpurinação da vitrine da madame.

Ocorrerá com a copa a mega inflação. Os clubes quebrarão. Piratas empresários já estão aportando para saquear.

E então concordo com o Toniato. Ainda bem que pudemos ver Ramones, ver Biro-Biro, Tupãzinho, Ronaldo.
E mais ainda, ainda bem que eles representam o que representam.

à puta que pariu com o bizinisse.

Otávio disse...

Não entendo poq vc eh tão revoltado com a sociedade de consumo. Uma vez q ela nada mais é do que a vontade do povo. Ou vc acha q o povo pensa no coletivo ? Desculpe se estou enganado, posso até estar, mas desde q comecei a te acompanhar diariamente, só o vejo criticando o mundo.

No mundo o q eh melhor eh mais caro. E como o nosso timão eh o melhor eh óbvio q cada vez mais vai ser mais caro. E qual o problema de algo melhor ser mais caro se as pessoas só entendem valor no dinheiro? Qual o problema delas, em sua maioria querer ganhar o seu dim dim e gastar naquilo que convir? Ainda mais nesse mundo atrasado q é o nosso, existe uma forma de dar valor em algo a naum ser o dinheiro ?

Eh apenas um desabafo, n encare como uma crítica de cunho pessoal. Mas acho q tudo q eh exagerado eh irritante.

Craudio disse...

Batata, ao que parece o seu povo é diferente do meu. O meu povo não ganha o suficiente nem para pagar as contas, quanto mais para se dar o direito a certos luxos, e isso não tem nada a ver com competência ou merecimento. Tem a ver com essa tua noção de povo, aliás.

Mas que raios eu estou perdendo tempo tentando argumentar com alguém que vem aqui dizer que "No mundo o q eh melhor eh mais caro"? Só pode se tratar de um infeliz que só consegue afofar a bunda no sofá e olhar para o próprio umbigo.

Francamente, se eu não tenho o direito de me indignar com troços como essas babaquices que você veio democraticamente despejar nem no meu blogue, aí estamos realmente perdidos.

E já que você citou que no Corinthians o mais caro é melhor, fica a pergunta: o inominável, ganhando R$170 mil por mês, é melhor que o Jorge Henrique, que não deve ganhar isso? Veja, portanto, a merda que você falou.

Por fim, sugiro que você vá ao blogue do Ricardo Noblat, do Diogo Mainardi ou do Marcelo Tas. O povo e o mundo deles é igualzinho ao teu.

Até.

Otávio disse...

Sinceramente, vc me conhece para fazer tantas acusações assim como vc fez ? Por obséquio, quando vc tentar enquadrar uma pessoa em algum grupo, tente, pelo menos, conhecer quem é que estah falando, para depois entaum vc ter uma opinião a respeito dela, poq senão vc estará sendo um ignorante.

Já q vc disse seu povo, poq a meu ver o povo é um só, como vc pode ter tanta certeza disso q afirma? Será mesmo q "seu" povo vive buscando o sustento de cada dia, ou vive buscando se tornar rico para pisar na cabeça do pobre, ou melhor, do antigo companheiro de caminhada. Ou será q soh eu q enchergo q a maioria das pessoas desse planeta buscam a riqueza para que os seus pares se tornem "pseudo-escravos" da sua vida.

O q afirmei q no mundo o q é melhor é mais caro, naum significa, como vc teve o desparate de afirmar, q sou dessa opinião, mas sim que isso é o pensamento coletivo, é o pensamento do pobre, do de classe média e do rico.

E diferente do q vc afirmou, eu dedico 3 dias da minha semana sendo médium em um centro de umbanda fazendo caridade e ajudando os pobres sem cobrar nada de ninguém e sem querer nada em troca ao invés de ser "um infeliz que só consegue afofar a bunda no sofá".

E como vc ficou tão ofendido com um bocado de palavras desenteressadas, será q isso tudo q vc disse não é um efeito de um problema unicamente seu e por isso na primeira negativa vc desforra toda a sua raiva reprimida em uma pessoa?

Por último, toda regra tem excessão, e esse caso em específico q vc citou (O Coiso), é uma excessao, não é mesmo. E mais uma vez eu afirmo:

Eh apenas um desabafo, n encare como uma crítica de cunho pessoal. Mas acho q tudo q eh exagerado eh irritante.

Craudio disse...

Tubérculo, não há a menor possibilidade de te conhecer, até porque essa tua assinatura não dá indício nenhum da sua identidade. Tampouco seria amigo ou faria questão de bater longos papos com alguém com tuas idéias.

Mas não venha aqui no meu blogue usar os mesmos artifícios da escola juquiniana e desdizer o que você mesmo disse. É tua a frase citada, ou seja, exprime tua opinião. Ponto.

Sim, minha raiva é algo meu, e eu costumo descontá-la em gente que vem aqui sem argumentos significativos. No entanto, vale lembrar, novamente citando suas próprias palavras, que foi você quem veio em espaço alheio "desabafar" e, portanto, deveria estar preparado para a réplica.

Por fim, "irritante" é a quantidade "exagerada" de assassinatos à língua que você promove. E se você faz trabalho assistencial, parabéns. Só não use meu blogue para divulgar seu viés samaritano. Ou há outro interesse por trás disso?