15 outubro 2008
Salvem as professorinhas!
Talvez mais do que nunca, é preciso louvar o dia 15 de outubro. Ao mesmo tempo em que ética é pouca, moralismo é muito e os valores se distorcem, os professores estão cada vez mais desvalorizados profissional e socialmente. Partindo disso, o que poderemos pensar do futuro se hoje a grande maioria dos docentes da rede municipal de São Paulo vai votar no Kassab, sendo ele um dos mais atuantes na restrição do trabalho dos próprios educadores? Tal postura mostra o quanto a máquina engole quem não tem senso crítico. E quem não tem senso crítico não ensina senso crítico. E quem não ensina senso crítico é o profissional medíocre que a atual situação pretende dar respaldo e valor.
Estamos num país em que Paulo Freire é considerado ultrapassado, assim como as suas ainda revolucionárias teorias. Vivemos numa realidade em que é necessário criar um piso de R$950 – que não é cumprido em boa parte do país, diga-se – porque existem mais de 1,5 milhão de professores que nem sonham com um parco salário desse. Somos testemunhas de que melhorias na educação não motivam votos e não são tão importantes quanto um celular com câmera digital. Isso nas camadas mais pobres, inclusive.
Homenageio hoje os professores mirando minha Evinha, que todo dia acorda e vai para a guerra. Ela luta contra essa infeliz mentalidade popular e contra intervenções imbecis de um governo que também a proíbe por lei de se manifestar contra tais imbecilidades. Imaginem, senhores, o que é encarar diariamente seu trabalho como uma guerra? O que é chegar em uma escola no meio de uma favela e ver que nem a própria comunidade local respeita aquele espaço que deveria ser sagrado?
Puxo na memória minha primeira professora, ainda no pré. A “tia” Raquel - tia é dona de puteiro, mas lá na escola podia chamar de tia. Lembro do meu último dia com ela, na apresentação de final de ano. Chorava copiosamente, a “tia” Raquel, ao ver sua turminha encenando a construção da Arca de Noé. O mesmo choro que minha Evinha deve soltar quando, ao término de mais uma série, detecta - nem que seja em apenas uma criança - seus valores e esperanças absorvidos.
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4 comentários:
Muito bom! Levei ao conhecimento de minha irmã e meu irmão, que também são professores.
Abraço!
O professor, acima de tudo, é um obstinado guerreiro!
Foda na eleição: Tá vendo aquele na cadeira de rodas? ... tiro... era ex-aluno.
Tá vendo aquele que não pode votar? Ex-aluno
Pelo menos 1 eu inspirei esse ano. Disse:
"Me desculpe se arrumei briga na quadra... Eu não quero que você fique magoada comigo nem perca a confiança em mim. Eu quero o bem para você e você foi a melhor professora do mundo. Eu vou seguir o seu conselho, quando eu crescer vou ser igual o menino maluquinho.G.A."
Obrigada pelo incentivo de todo dia.
Sensacional o texto, meu irmão.
Por outro lado, segundo o Ibope, ainda há esperanças... Eu acredito!
P.S.: já mandaste aquilo?...
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