29 maio 2009

A incomparável Tijuca


Uma das coisas que eu nunca compreendi é essa rivalidade inútil entre Rio de Janeiro e São Paulo. Geralmente pautada pela falta de conhecimento, a dicotomia passou a ser alimentada na mídia, que se esforça cotidianamente em mostrar qual das duas capitais é a mais violenta e inabitável. São, na verdade, cidades com muitos problemas, mas também com diversas peculiaridades positivas (basta saber olhar). O Rio, porém, ganha disparado em um quesito: beleza.

Obviedades à parte, devo lembrar que a noite de quarta rendeu, além do bom empate do Coringão no Maracanã, um encontro inesquecível. No centro nervoso da zona norte carioca, passei boas horas na companhia de craques da mesa, da palavra e do coração. Edu Goldenberg, assim que recebeu a notícia de minha rápida passada pela Cidade Maravilhosa, convocou a seleção que perfilou no Bode Cheiroso - um templo, localizado na Rua General Canabarro.

O escrete foi formado por Felipinho Cereal, Fefê (irmão do Edu e vascaíno responsável pela minha segurança até a entrada do Bellini), Fernando Szegeri (chegando de SP assim como eu), Luiz Antônio Simas e Marcelo Vidal, além do próprio Edu. Time da pesada. Mas o que teria de tão bonito a reunião de um monte de marmanjos? Tudo, porque o troço exalava fraternidade e o cenário era, nada mais, nada menos, que a Tijuca.

Enquanto esperava os portões do Maior do Mundo serem abertos ao final da partida, e sabendo que iríamos presenciar uma noite histórica, tentei convencer os amigos para voltarmos ao Bode. Preferiram o aeroporto Santos Dumont, não sem antes dizer alguns impropérios sobre a violência no Rio... Eu, pelo contrário, sabia que não deveria perder mais nenhum minuto daquelas poucas horas que tinha antes do meu vôo de retorno à garoa.

De volta ao Bode Cheiroso, sou presenteado com Simas e Szegeri relembrando trilhas de novelas antigas. Já Felipinho se impressionava com o tamanho (ou a falta de) dos olhos orientais, mas impressionante mesmo é ele - ali embaixo eu explico o porquê. E o Edu é um cronista irrecuperável, porque o que ele escreve em seu Buteco não chega a um milésimo de suas histórias à mesa do bar. Trinta e tantas Brahmas depois (os bardos bebiam desde 19h30) e duas Antarcticas de saideira, fechamos o Bode Cheiroso em busca de outro balcão.

Tivesse eu voltado para casa naquele momento, minha felicidade já seria grande. Porém, o que se seguiu foi o ápice, e o Edu descreve com precisão o caminho emocionante que fizemos, depois da minha surpresa pela grande distância percorrida e tão pouco notada:

"Cráudio: andamos, malandro, andamos exatamente isso, lembre-se de que sou preciso do início ao fim. Saímos do BODE CHEIROSO quando ele já quase-fedia. Entramos na Oto de Alencar, vimos a feira sendo armada na esquina da Morais e Silva com a rua do Simas (onde você delirou com a quantidade de casas...), entramos na Mariz e Barros, na Professor Gabizo (onde vimos a casa da vó da Gi, lembra?, e o prédio onde mora o Dicró). Atravessamos a rua do Rio, onde fica o portentoso Fiorino, fomos à praça Afonso Pena... e seguimos, cara, seguimos, seguimos... sem bala traçante, sem assalto, e sem - belíssima percepção a sua - barulho sequer de motor de automóvel!"

O trajeto acabou na Haddock Lobo, onde o Felipinho protagonizou uma cena que é a própria alma da Tijuca. O Estudantil era nossa última esperança, mas, como quase tudo às 2 da manhã de quarta-feira, também estava fechado. Astuto, Felipinho viu uma luz escapando pela fresta da porta, e foi por ali que ele gritou: "Abre aí, é o Felipinho. Tô sempre aqui. Me dê três Brahmas e quatro copos". Em qualquer lugar do mundo levaríamos alguns tiros na cara. Como se trata da Tijuca, e contávamos com o impressionante Felipinho Cereal, dois minutos depois bebíamos as cervejas. Tal generosidade pode assustar os incautos, mas é comum naquele precioso pedaço de chão.

É necessário registrar que nunca veríamos tanta tranqüilidade e beleza durante uma caminhada noturna, em qualquer cidade que se possa imaginar. Ainda são impactantes as imagens que estampam meu coração. E são elas, e não aquelas bobagens que a gente lê nos jornais, as provas cabais para o veredicto: a Tijuca é incomparável.

6 comentários:

Filipe disse...

Bonito, bonito!

VIVA A CIDADE MARAVILHOSA E SEU POVOFico pensando no meu bisavô, morador do Cosme Velho no século XIX... Ah, boêmia carioca... Nada te supera!

Seja no XIX ou hoje, na Tijuca.

O RIO é a cidade mais bela que a humanidade já ousou criar.

E VIVA O CORINGÃO!!!E fora tampão imundo!

Felipe Quintans disse...

Que beleza foi a noite de quarta, mano Cráudio. Fiquei muito feliz em te conhecer, principalmente durante um momento tão histórico, com tantos amigos queridos à mesa. Obrigado por estar conosco.

Grande abraço.

Pitelli's disse...

Porraaaa!!!
Lulinha, FDP!!!!!!
nao aguento!!!!
abs
Pitelli

Craudio disse...

Filipe, o Rio, como eu costumo dizer, é covardia!

Felipinho, mano velho, valeu! Saiba que o prazer é todo meu em poder testemunhar essa noite histórica. Abração!

Pitelli, pois é velho. E o pior é canalha de apito, mas isso a gente nem leva mais em conta. Ir à casa do time médio é certeza de ser roubado... Abraço

Rodrigo Barneschi disse...

Grande Rio de Janeiro!

carlinhossam disse...

O Rio é covardia!!! Além dá blz incomparável detem a melhor música e o melhor esporte e a melhor festa popular...